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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Importações

China responde por quase todo o aumento da exportação goiana

Balança comercial de Goiás derrubou mais um recorde nos oito meses iniciais deste ano/foto: Reprodução

Postado em 5 de setembro de 2020 por Sheyla Sousa
Commodities respondem por dois terços das exportações brasileiras
Dependência crescente das vendas externas em relação a grãos

Lauro Veiga 

A
balança comercial de Goiás derrubou mais um recorde nos oito meses iniciais
deste ano, novamente com a colaboração preciosa de chineses e da soja em grão,
responsáveis, respectivamente, por 41,6% e 50,0% de tudo o que o Estado
exportou no período. As vendas externas, que experimentam uma tendência de
desaceleração no ritmo de crescimento desde maio, mantiveram-se em níveis
historicamente recordes, superando levemente US$ 5,718 bilhões entre janeiro e
agosto deste ano, com alta de 24,0% em relação aos US$ 4,610 bilhões exportados
em idêntico período do ano passado.

As
importações, em processo de encolhimento em função da crise sanitária, que
reduziu a produção e a demanda domésticas, baixaram 10,0% naquela mesma
comparação, caindo de US$ 2,347 bilhões para US$ 2,113 bilhões. O resultado foi
um saldo comercial igualmente histórico, com o superávit (exportações menos
importações) saltando 59,4% frente ao acumulado nos mesmos oito meses de 2019 e
atingindo US$ 3,605 bilhões. Apenas como referência, o saldo havia sido de qualquer
coisa próxima a US$ 2,263 bilhões no ano passado. O resultado deste ano já
supera o superávit registrado nos 12 meses de 2019, quando o saldo havia sido
de US$ 3,549 bilhões.

Os
dados muito positivos na ponta das exportações, pelo menos, não deveriam
obscurecer o que há por trás do avanço das vendas externas neste ano. Apenas os
embarques de soja, que alcançaram 6,975 milhões de toneladas, somando receitas
de US$ 2,379 bilhões, foram responsáveis por quase 92,0% do crescimento
registrado para o total das exportações goianas. E a China, por sua vez, contribuiu
com 99,8% para esse crescimento.

Válvula de
escape

Para
deixar mais claro, as estatísticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex)
mostram que as vendas de soja lá fora haviam rendido uma receita de US$ 1,360
bilhão ao Estado nos oito primeiros meses de 2019, o que significa dizer que o
valor exportado entre janeiro e agosto deste ano registrou acréscimo de US$
1,019 bilhão ou pouco menos do que isto. As exportações totais aumentaram US$
1,108 bilhão. As vendas goianas para a China aumentaram praticamente 63,0%,
avançando de US$ 1,757 bilhão (38,1% do total) para US$ 2,863 bilhões (metade
das exportações totais), correspondendo a um acréscimo de US$ 1,106 bilhão.
Ainda com base nos dados da Secex, as exportações goianas para todos os demais
países praticamente não saíram do lugar (na verdade, variaram de US$ 2,853
bilhões para US$ 2,855 bilhões, menos de US$ 1,90 milhão a mais). Sem o mercado
chinês, portanto, as exportações goianas estariam virtualmente estagnadas neste
ano, fechando uma das “válvulas de escape” para a economia estadual, já
pressionada pela falta de demanda interna.

Balanço

·  
A
dependência extrema do mercado chinês faz acender ao menos um sinal amarelo
(sem trocadilhos) em relação às perspectivas futuras para as exportações
goianas, considerando a escalada de tensões entre os governos dos Estados
Unidos e da China, tendo agora como motivação uma espécie de “guerra
tecnológica”. A situação pode se complicar um pouco mais porque o desgoverno
brasileiro tende a embarcar ao lado de Donald Trump no enfrentamento aos
chineses, sem que a administração tupiniquim disponha do mesmo poder de pressão
e das mesmas cartas dos norte-americanos.

·  
A
queda nas importações ajudou a elevar o superávit comercial goiano no período
analisado, mas sua influência foi menos decisiva do que a alta experimentada
pelas exportações. De toda forma, a comportamento das compras externas reflete
apropriadamente a retração registrada internamente. Três setores mostraram-se
mais relevantes para a redução anotada no acumulado entre janeiro e agosto:
veículos, tratores, suas peças e acessórios; caldeiras, máquinas, aparelhos e
instrumentos mecânicos; e adubos.

·  
Em
ordem de importância, as importações do setor automobilístico e de fabricação
de tratores despencaram 37,25% no período em análise,
saindo de praticamente US$ 299,410 milhões para US$ 187,871 milhões. Não é
mesmo coincidência que a indústria do setor venha experimentando resultados
expressivamente negativos desde a pandemia. As cadeias globais de suprimento,
nesta área, haviam sido afetadas nos primeiros meses deste ano pelo impacto da
pandemia, sobretudo sobre a economia chinesa, que, no entanto, já parecia ter
se reestabelecido no segundo trimestre.

·  
A
queda de 30,24% na importação de máquinas e aparelhos mecânicos parece resultar
da postergação de decisões internas de investimento, já que são bens de capital
utilizados na expansão da capacidade de fabricação pela indústria. As compras
nesta área baixaram de US$ 246,769 milhões para US$ 172,145 milhões.

·  
As
importações de adubos e fertilizantes, talvez sob influência do dólar mais
caro, sofreram baixa de 13,4% na mesma comparação, retraindo-se de US$ 404,116
milhões para US$ 350,087 milhões.

·  
Em
outro sinal de freio no investimento doméstico, as compras de máquinas,
aparelhos e material elétrico murcharam 27,5%, baixando de US$ 74,177 milhões
para US$ 53,799 milhões.

·  
Na
contramão dessa tendência, mas em linha com o desempenho do mercado interno, as
compras de produtos farmacêuticos aumentaram 5,04% nos primeiros oito meses
deste ano, alcançando US$ 801,254 milhões diante de US$ 762,823 milhões no
mesmo período de 2019.

·  
No
lado das exportações, as vendas de soja em grão, açúcar, carnes bovinas
congeladas, carnes de aves e de óleo de soja aumentaram, pela ordem, 74,9%, 62,1%,
30,5%, 28,8% e 22,9%. Mas as exportações de milho, ouro e farelo de soja baixaram
36,9%, 32,8% e 12,2%. No caso do ouro, que tem experimentado forte valorização
no mercado internacional, a queda nas receitas esteve mais relacionada a um
tombo de 49,0% nos volumes embarcados, já que os preços médios de venda subiram
perto de 32,0%.

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