O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

domingo, 24 de novembro de 2024
PublicidadePublicidade
Econômica

Dívida de curto prazo das empresas acumula salto de 66% desde 2018

Paralisação em razão da pandemia levou a um crescimento expressivo nas dívidas das empresas – Foto: Reprodução

Postado em 21 de outubro de 2020 por Sheyla Sousa
Comércio varejista experimenta pior baixa pelo menos desde 2000
Lauro Veiga

Lauro Veiga 

A
paralisação virtual dos negócios nos meses iniciais da pandemia, associada às
medidas de distanciamento social e aos efeitos diretos da pandemia sobre a
atividade econômica, levou a um crescimento expressivo nas dívidas das empresas
não financeiras nos primeiros seis meses deste ano. Segundo trabalho do Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tomando como base dados
dos balanços patrimoniais e demonstrativos de resultados de 240 empresas
computados pela consultoria Economática, a dívida bancária total experimentou
um salto de 38,6% na comparação com junho de 2019, aumentando de R$ 715,565
bilhões para pouco mais de R$ 1,007 trilhão – um acréscimo de R$ 399,216
bilhões.

A
dívida passou a representar 73,5% do capital próprio colocado no negócio pelas
empresas, aproximando-se da relação observada em 2017, quando o endividamento
líquido das empresas não financeiras de capital aberto (quer dizer, com ações
negociadas em Bolsa) chegou a representar 75,7% de todo o capital. O
crescimento da dívida veio acompanhado de um aumento importante nos custos
financeiros, ambos indicadores afetados negativamente tanto pela paralisação
virtual da economia e pela retração da demanda, quanto pela desvalorização de
28,0% do real frente ao dólar entre a primeira metade do ano passado e o mesmo
período deste ano, de acordo com o Iedi.

“Endividamento
elevado e maiores custos financeiros tornam ainda mais fundamental uma
trajetória de crescimento econômico consistente e robusto no pós-pandemia, de
modo a gerar receitas suficientes para gerenciar o passivo das empresas e
recompor sua lucratividade”, analisa o instituto. Na visão do Iedi, aquelas condições
são “necessárias para se criar um ambiente propício ao investimento, mas também
para evitar maiores problemas patrimoniais das empresas, dado o crescimento de
seu passivo de curto prazo”.

Sinal
amarelo

As
dívidas bancárias de curto prazo, ou seja, com vencimento em até 12 meses, de
fato cresceram 45,2% entre junho de 2019 e o mesmo período deste ano, avançando
de R$ 201,713 bilhões para R$ 292,891 bilhões. Na verdade, muito embora o
aumento neste ano tenha sido muito mais elevado, os empréstimos de curto prazo
vêm crescendo desde 2019, o que poderia já sugerir problemas em curso para as
empresas. Entre junho de 2018 e o mesmo mês de 2019, as dívidas de curto prazo
já haviam crescido 14,4%, depois de uma queda de 18,6% na comparação entre 2018
e o ano anterior. Desde 2018, portanto, esse tipo de dívida acumulou um salto
de 66,1% e sua fatia no endividamento total avançou de 16,8% para 20,4% (maior
do que os 20,0% anotados em 2017).

Balanço

·  
No
caso da indústria, com exclusão de Petrobrás, Vale, Braskem e Suzano, cujos
números poderiam distorcer os resultados gerais do setor, o endividamento total
aumentou 46,3%, de R$ 260,937 bilhões para R$ 381,765 bilhões, diante de um
incremento de 36,7% observado para as dívidas de curto prazo (de R$ 57,924
bilhões para R$ 79,182 bilhões). A participação do endividamento de curto prazo
no total, no entanto, recuou de 22,2% para 20,7%.

·  
Na
leitura do Iedi, os valores acumulados pela indústria “escondem, entretanto,
assimetrias muito grandes entre seus ramos. A dívida de curto prazo teve
avanços substanciais em setores como aeronáutica (+624%), calçados (+333%),
metalurgia (+258%), vestuário (+134%) e autopeças (+117%). É o retorno ao
crescimento econômico que permitirá o cumprimento destes compromissos sem
tropeços”, reforça ainda.

·  
O
aumento importante das despesas financeiras, relacionado diretamente ao
crescimento da dívida diante da necessidade de contratação de recursos no
sistema financeiro para sustentar as operações do setor durante a pandemia,
causou estragos importantes nos dados dos balanços e sugerem que a ausência de
crescimento de fato tenderá a trazer riscos maiores para as empresas.

·  
A
geração de caixa, medida pelos ganhos antes de impostos, custos financeiros, depreciação
e amortizações (Ebtida, na sigla em inglês), não chegou a ser suficiente sequer
para fazer frente às despesas financeiras. A relação entre Ebdtida e despesas
financeiras chegou a 0,4 para o conjunto das 240 empresas analisadas.
Traduzindo: a caixa total gerado por esses companhia cobrir apenas 40% das
despesas financeiras.

·  
Para
o total da indústria, incluindo Petrobrás, Braskem, Suzano e Vale, a geração de
caixa pagou apenas 10% das despesas financeiras. Excluídas as quatro
companhias, a relação ficou em 0,6 (o que significa dizer que 40% das despesas
financeiras tiveram que ser pagas por reservas ou por recursos novos levantados
no mercado).

·  
A
relação registrou alguma melhora na saída do primeiro para o segundo trimestre.
Nos primeiros três meses do ano, a relação chegou a ser zerada para o total das
empresas da amostra, chegando a ficar negativa (-0,2) na indústria (ou 0,4 se
excluídas aquelas quatro empresas). No segundo trimestre, considerando todas as
empresas, a geração de caixa chegou a superar em 20% o total das despesas
financeiras (quer dizer, a relação ficou em 1,20 e atingiu 1,30 no caso da
indústria, novamente sem a inclusão das mesmas quatro empresas).

·  
Ainda
conforme o Iedi, excluídas Petrobrás, Vale, Suzano e Braskem, a margem líquida
de lucro desabou de 6,1% no primeiro semestre do ano passado para 1,8% em igual
período deste ano, já que o resultado líquido despencou praticamente 69,0%, de R$
45,3 bilhões para R$ 14,1 bilhões.

 

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.