Greve de motoristas deve agravar crise do transporte de Goiânia
Sindicato informa que a frota em operação hoje é de 795 veículos. Motoristas alegam falta de negociação | Foto: Wesley Costa.
Eduardo Marques
O transporte público da Região Metropolitana de Goiânia respira por aparelhos. Com veículos gastos e deteriorados, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Goiânia (SET) informa que a renovação parcial da frota mais recente aconteceu nos anos de 2017 e 2018. A frota em operação hoje é de 795 veículos. Com o indicativo de greve da categoria para começar na próxima semana, o que já estava ruim pede piorar ainda mais.
Motoristas de ônibus cogitam entrar em greve nesta segunda-feira (9) por falta de negociação com as empresas. A categoria cobra reajuste de 6% no salário base dos condutores e 10% no vale alimentação para profissionais com carga horária de 25 e 44 horas semanais.
Baixa demanda
O SET alega pouca demanda por viagens e esclarece que no acumulado do mês de novembro foram contabilizadas 10.940 viagens, sendo uma média de 5.536 nos últimos cinco dias, sendo que há 3.944 funcionários e 158 terceirizados/prestadores de serviço. Sobre a quantidade de passageiros, a entidade afirma que antes da pandemia havia 521.888 passageiros, enquanto no dia 3 de novembro já houve registro de 253.246, uma queda de 51,5%. No acumulado do mês de outubro foram contabilizadas 136.843 viagens
A crise do transporte coletivo afeta a população há anos. Com mais uma greve, ela acentua. Sobre esse problema, o advogado do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de Goiânia e Região Metropolitana (SindColetivo), Nabson Santana, afirma que a entidade não carrega essa culpa.
“É uma irresponsabilidade total das empresas que não apresentaram as propostas”, diz. Uma nota da entidade completa: “Uma greve no transporte coletivo da Grande Goiânia será sim provocada pela intransigência dos tubarões do transporte em conceder um justo reajuste salarial aos trabalhadores”.
De acordo com o advogado da entidade, a paralisação foi aprovada em assembleia da categoria e não tem data para ser encerrada. “Isso vai depender das propostas das empresas. Nossa intenção é não recuar. Não iremos aceitar perder direitos”, afirmou.
Nabson explicou que, além de cobrar o reajuste salarial e no vale alimentação, os motoristas criticam a proposta das empresas acerca do parcelamento do 13º salário e a retirada do ticket natalino. “Essa proposta é ineficaz para nós motoristas do transporte coletivo. Tudo estará parado na segunda-feira (9). Motoristas e responsáveis pela parte de fiscalização das empresas RMTC, Rápido Araguaia, Metrobus e outras”, assegurou. E completou, “nossa proposta é o reajuste salarial de 6% e 10% no vale alimentação. Se essas questões não forem atendidas, continuaremos com a greve”.
De acordo com o comunicado do SindColetivo, os trabalhadores do transporte coletivo, desde o início da pandemia da Covid-19, não paralisaram suas atividades. “Estamos desde janeiro de 2020 tentando negociar com as empresas melhores condições de trabalho e reajustes salariais, sendo que a partir de março teríamos que ter tido reajuste, contudo as empresas com a intransigência de sempre, inclusive com mediação junto ao Ministério Público do Trabalho e na Superintendência Regional do Trabalho, ofereceram reajuste de 0%, inclusive manifestaram o desejo de retirada de direitos dos trabalhadores, a exemplo da cesta natalina”, informa.
Negociação
O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano e Passageiros da Região Metropolitana de Goiânia (SET) informa, por nota, que as empresas concessionárias do sistema estão cientes do indicativo de greve anunciado pelos seus trabalhadores para o dia 9 deste mês.
O SET esclarece que elas respeitam e reconhecem os direitos da categoria, no entanto, ressalta que num momento em que essas empresas trabalham para preservar empregos e pela manutenção do serviço prestado à sociedade, entendem que ‘não vivemos a conjuntura ideal para discutir a recomposição dos vencimentos da categoria, o que traria ainda mais graves consequências como demissões, paralisação da operação ou redução drástica da oferta à população’.
“São tempos difíceis para o setor em que todo o mundo, que sofre os impactos da pandemia da Covid-19, assim como todos os setores da economia. As concessionárias da Região Metropolitana de Goiânia acumulam prejuízos superiores a R$ 60 milhões, com queda na demanda de passageiros que chegou a 80% e hoje se encontra em cerca 52%”.
O SET reitera que trabalha para a preservação de empregos e a continuidade da operação, ameaçados pela grave situação econômico-financeira das concessionárias. “Os sacrifícios têm sido feitos por todos para preservar empregos e a mobilidade da população, pois a maioria depende e precisa do transporte público coletivo. Não nos furtamos a discutir o assunto, inclusive apresentamos uma proposta, no entanto, entendemos que este não é momento indicado para se falar em reajuste”, afirma o presidente do SET, Adriano Oliveira.
Oliveira ressalta que, neste momento, o trabalho tem que ser voltado para a preservação dos empregos e da operação. As duas estão em risco, por vários motivos, como a situação financeira das concessionárias, a demanda baixa de passageiros e a não existência de reajuste da tarifa este ano, entre outros.
“Apesar desse cenário, as concessionárias têm se esforçado ao máximo para o pagamento de salários, bem como não realizaram demissões em massa. Mesmo sem a concordância do SindiColetivo, elas propuseram, de forma espontânea, o pagamento de todos os benefícios previstos no acordo coletivo anterior, entendendo que a proteção da saúde dos trabalhadores, a manutenção do plano de saúde e o pagamento de vale-alimentação são fundamentais para o bem-estar do empregado e de sua família”, diz o comunicado.
Sindicato afirma estar aberto a negociação
O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano e Passageiros da Região Metropolitana de Goiânia (SET) continua aberto ao diálogo, seja para responder às dúvidas da comunidade, seja para construção de solução responsável para o impasse estabelecido.
Medidas preventivas surtem efeito desde o início da pandemia, preocupadas com seus reflexos, tomaram ações preventivas junto aos seus trabalhadores e, posteriormente, em conjunto com o SET e a Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Centro-Oeste do Brasil (FETRASUL), implantaram o Protocolo de Segurança do Transporte Coletivo, com ações que foram decisivas para o baixo índice de contaminação entre os profissionais do setor – 5%, frente à média de 12% que acomete Goiânia, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.
Foram reforçadas todas as medidas de segurança para proteger cada colaborador contra o Coronavírus: foi criado e divulgado um manual de prevenção ao contágio para os profissionais do transporte coletivo, aferição de temperatura de todos os colaboradores, desinfecção diária de todas as áreas administrativas; disponibilização de máscaras e álcool em gel para motoristas e demais integrantes das empresas, afastamento do colaborador conforme determinam os protocolos de saúde pública, vacinação contra H1N1 de motoristas e área administrativa e realização reiterada de campanhas de prevenção à Covid-19. (Especial para O Hoje)