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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Inflação

Consumo de carne deve voltar ao patamar de décadas atrás

Economista atribui o baixo consumo ao valor elevado do produto pela alta do dólar e exportação | Foto: Wesley Costa

Postado em 22 de janeiro de 2021 por Sheyla Sousa
Consumo de carne deve voltar ao patamar de décadas atrás
Economista atribui o baixo consumo ao valor elevado do produto pela alta do dólar e exportação | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo brasileiro de carne bovina foi de 29,3 quilos por habitante em 2020, uma queda de 5% em relação aos 30,7 quilos por habitante de 2019, ano em que o consumo já havia recuado 9%. O patamar de 2020 é o menor da série histórica da Companhia, que teve início em 1996. E representa uma redução de 13,5 quilos por habitante em relação ao ponto máximo da série, de 42,8 quilos por habitante em 2006, durante o primeiro governo Lula (PT).

A Conab mede o chamado consumo aparente ou disponibilidade interna per capita, que é o volume produzido, descontadas as exportações e somadas as importações. O número para 2020 é uma estimativa, já que ainda não há dados fechados para a produção pecuária no ano passado. Os dados da Conab consideram apenas a carne bovina fiscalizada. Mas, considerando a produção informal, a tendência é a mesma.

Segundo estimativa da consultoria Agrifatto, levando em conta a produção formal e informal, o consumo de carne bovina teria caído 11% em 2020, para 34 quilos por habitante, contra 38,2 quilos por habitante em 2019. Preço da carne de segunda foi o que mais subiu.

Alta nos preços

No ano passado, o preço das carnes subiu 17,97%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), bem acima da alta de 4,52% da inflação em geral. Dos cortes bovinos analisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas o nobre filé-mignon teve queda de preço em 2020, de 6,28%. Já a picanha (17,01%), o contrafilé (12,71%) e a alcatra (5,39%) ficaram mais caros no ano passado.

As carnes de segunda, mais consumidas pela população de baixa renda, cujos rendimentos foram impulsionados pelo auxílio emergencial em 2020, foram as que mais subiram, com alta de 29,74% da costela, aumento de 27,67% do músculo e avanços de 26,79% e 20,75%, respectivamente, do cupim e do acém. A alta das carnes nos supermercados acompanhou o aumento do preço do boi no campo.

A arroba do boi gordo fechou 2020 cotada a R$ 267,15, uma alta de 29% em relação ao final de 2019, segundo o Cepea da Esalq/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo). Somente nos primeiros 15 dias de 2021, o preço do boi gordo já subiu 7,77%.

Frango

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a diferença de preços entre a carne de frango e as carcaças bovina e suína deve continuar elevada em 2021, após bater recorde no ano passado. No acumulado do ano passado (2 de janeiro a 28 de dezembro), enquanto as carnes bovina e suína se valorizaram expressivos 35% e 32%, respectivamente, a proteína de frango avançou 9%.

Segundo o Cepea, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estima a produção nacional de carne de frango em 2021 em 14,5 milhões de toneladas, aumento de 5,5% ante o previsto para 2020. Já o consumo per capita deve crescer 4,4%, para 47 quilos.

O Cepea destaca que as exportações de carne de frango para a China devem continuar crescendo em 2021, apesar do empenho do país asiático em aumentar sua produção interna. O Japão, terceiro principal destino para a carne de frango brasileira e sede dos Jogos Olímpicos de 2021, também deve elevar suas compras, aponta o Cepea.

Vendas despencam

Proprietário de açougue de Goiânia, José Humberto percebe essa diminuição das vendas de carne bovina no estabelecimento. “A gente percebe que houve uma diminuição das vendas devido a alteração de valor. Por outro lado, também houve uma transferência do consumo para aves e suínos”.

O empresário conta que, apensar de o faturamento total da empresa não ter diminuído em 2020, a queda das vendas da carne bovina influencia na contabilidade. “Elaestá influenciando bastante. Não tem uma regulação de preço. Eu consegui manter o faturamento na pandemia. Em alguns meses até ficou acima e a gente espera que as vendas sejam altas para 2021 e que haja uma redução da carne bovina. Há uma certa dúvida em relação a política adotada pelo governo, mas devemos acreditar que vai melhorar”, afirma.

Diferente de José Humberto, o proprietário de um açougue em Aparecida de Goiânia, Fernando Novelli disse que a diminuição das vendas não foi expressiva. “Houve uma diminuição, mas não é algo tão expressivo. Houve compensação em frango, suíno, carnes temperadas que tem valor mais baixo. Outras opções de carne bovina com um valor mais baixo. Carnes de 2ª e de primeira de menor valor. As perspectivas para 2021 são as melhores. Aumento de vendas, normalização do valor do preço da carne bovina”, espera.

O jornalista Thiago Cotrim explica que não compra carne bovina em casa mais por conta do valor. “E isso já tem aproximadamente dois meses que nós cancelamos a carne em casa. Estamos fazendo improviso com a carne de frango. Entre uma promoção e outra a gente ainda consegue comer carne de frango e linguiça”.

Exportações puxam preços das carnes bovinas 

O economista e coordenador do Centro de Pesquisa de Mestrado da Unialfa, Aurélio Troncoso, explica que o aumento do valor da carne bovina em Goiás ocorreu devido às exportações em detrimento ao mercado interno. “Ela manteve um aumento considerado, principalmente no mercado interno. Tem suas variáveis que explica esse aumento do mercado interno. Normalmente o preço da carne é cotado em dólar no mercado internacional. Produz-se bem no país, mas produz para exportar. E o que sobra vai para o mercado interno, porém não está sobrando. Quando falta carne no mercado interno, a tendência é que o preço suba”.

O professor destaca que o valor da carne bovina tem aumentado desde 2019 e durante a pandemia não foi diferente. “O preço do dólar ficou bom para exportações. Com o dólar alto é bom para exportar porque o produto fica mais barato lá fora. Os países acabam comprando mais do Brasil. Ao empresário é muito mais lucrativo exportar do que vender interno. Como tivemos o problema da pandemia, naturalmente o consumo caiu. Desemprego, redução de carga horária”.

Aurélio atribui também a esse aumento pelo oligopólio dos frigoríficos. “A carne bovina tem essa variável na exportação porque temos poucos frigoríficos no Brasil. Existe um oligopólio no Brasil, porque é praticamente eles que mandam no País. Nós ficamos a mercê do preço da carne do mercado interno de carne não tão qualificada tanto lá de fora. Diferente de outros países”.

Troncoso sugere que os goianos adotem medidas alternativas de consumo. “O valor da carne suína e ave não tiveram aumento. O preço até caiu. Aumentaram as exportações de frango principalmente para a China. As exportações e o mercado interno da carne suína não houve desabastecimento”. Ele prevê que para 2021 as vendas de carnes bovinas continuarão em crise. (Especial para O Hoje)

 

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