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domingo, 24 de novembro de 2024
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Segunda onda

Goiás já perdeu mais de 8 mil vidas para a Covid-19

Na semana em que Goiás atinge as 8 mil mortes, a média é de que 24 pessoas morreram por dia no estado | Foto: Wesley Costa

Postado em 17 de fevereiro de 2021 por Sheyla Sousa
Goiás registra 90 novos óbitos por covid-19 em 24 horas
Estado também registrou 1.565 novos casos da doença no período | Foto: Reprodução

João Paulo Alexandre

Goiás ultrapassou as 8 mil vidas perdidas por causa da Covid-19 nesta semana. Isso representa uma média de 24 mortes por dia. Uma morte por hora. Até a realização desta reportagem, o painel da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontava 8.043 mortes, sendo que mais da metade (4.692) foram homens e 3.351 mulheres. O Estado conta com 374.212 casos confirmados, sendo que 53,51% dos positivados são mulheres.

Foram 33 dias para Goiás ter mil mortes, levando em consideração que o estado chegou às 7 mil mortes no último dia 13 de janeiro. Com isso, 8 mil famílias choram a dor de perder um parente pela Covid-19. Foram 24 famílias em luto diariamente, uma por hora sem poder se despedir de perto do seu ente querido.

Uma dessas histórias foi interrompida ainda quando tudo estava muito recente. Ninguém ainda sabia ao certo como seria essa pandemia e a gravidade de toda essa doença, mas vidas já eram perdidas. Ao contrário do que muitos pensavam, idosos não eram os que eram mais suscetíveis a morrer pelo novo coronavírus. Pessoas jovens, sem nenhum histórico de comorbidade, também se tornavam vítimas fatais.

Um exemplo disso foi o engenheiro agrônomo Rafael Rodrigues, de 31 anos. Ele morreu na madrugada de 11 de abril do ano passado. Ele passou 14 dias internado no Hospital da Unimed em Itumbiara. Antes disso, passou por Aloândia, cidade em que moram os pais, e Goiatuba antes de ir direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade.

“O interfone da minha casa começou a tocar muito. Fui abrir a porta e era meu irmão, chorando e falando pra mim que o Rafael tinha morrido. Isso era às 6 horas da manhã. Eu comecei a chorar e arrumar a casa. Era como se eu não quisesse acreditar”, relembra a empresária Juliane Severo, de 30 anos, esposa de Rafael.

Segundo ela, o sonho dele era ser pai de uma menina. Ele conseguiu realizar o feito, que se chama Alice, de 2 anos. Porém, o coronavírus retirou o direito do pai de vê-la entrar na escola, namorar, entrar na faculdade e tornar-se adulta. Juliane conta que o marido era um exímio fã de sertanejo, mas adotou a música Every Breath You Take, da banda de rock inglesa The Police, como sendo do casal. Esta, inclusive, foi a primeira música que a filha dançou. “Ele me acordava à noite, quando eu dormia primeiro que ele, e falava que olhava a Alice dormir e não acreditava que tinha realizado o sonho de ser pai”, recorda.

Mudança

A vida da empresária mudou totalmente após a morte do marido. A ficha só caiu após receber o atestado de óbito dele pelo Correios, pois os velórios para vítimas do Covid-19 são vedados para evitar contaminação. Ela destaca que sequer teve um último contato com o amado. “Eu vi ele saindo de casa e nunca mais voltar. É um negócio estranho, porque você não vê a pessoa de novo, nem que fosse num caixão. Eu acho que ele não iria querer que a gente visse ele do jeito que estava, porque ele estava muito debilitado”, relata.

Ela conta que viveu sete anos ao lado dele e que, após dez meses da morte, afirma que não consegue retirar a aliança do dedo. “Não sei se vou conseguir tirar tão cedo, porque é uma coisa muito difícil de acreditar, sabe”, conta. Para tentar amenizar a saudade, ela assevera que teve que mudar de casa. “Qualquer buzina na porta a Alice saía correndo e chamando o pai. Hoje eu mudei para outro lugar, um apartamento. Mas quando chega alguém, ela pega a pessoa pela mão e sai mostrando tudo, inclusive as fotos do pai”, revela Juliane.

A filha do casal também sente muita falta do pai e sempre pede para desenhá-lo como forma de relembrar de mais uma vítima fatal da doença. “Ela sempre me pede para eu desenhar o Rafael com asas, como se fosse uma borboleta. Uma vez ela estava no quintal da casa do meu irmão, comendo, e minha cunhada falou que uma borboleta amarela apareceu e ficou voando em volta dela. Nunca tinha aparecido uma borboleta amarela lá antes”, conta emocionada.

Juliane revela que produz um diário sobre quem era o pai da pequena Alice. O objetivo é trazer como toda a história de amor aconteceu na vida deles e como o jovem gostava de viver intensamente. “O Rafael tinha uma humildade que poucas pessoas têm nesse mundo, e um coração enorme. Lembrar dele é lembrar de uma pessoa que tinha uma vontade incrível de viver. Hoje eu entendo porque ele queria viver tanto e tão rápido, ficar tanto perto da família: ele não ia estar muito tempo ainda com a gente. Parece que no fundo, no fundo ele sabia disso”, diz. (Especial para O Hoje) 

Nova cepa do coronavírus se espalha pelo país 

Já somam, de acordo com a Secretaria estadual de Saúde, 25 os casos de Covid-19 no estado de São Paulo provocados pela variante do coronavírus inicialmente identificada em Manaus. Desses, 16 são de pessoas que não estiveram no Amazonas nem em contato com quem tenha viajado pela região. Ou seja, a linhagem P1 está produzindo em número significativo infecções autóctones, que ocorrem sem “importação”.

O Ministério da Saúde informa que, além de Amazonas e São Paulo, essa mutação do vírus já atinge pelo menos Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima e Santa Catarina. E, segundo autoridades de saúde locais, há registros na Bahia e houve um episódio autóctone registrado no Rio Grande do Sul.

O avanço da P1 pelo País é preocupante, pois, segundo cientistas, ela demonstra ser mais transmissível. O principal freio seria a vacinação em massa. Mas a campanha nacional de imunização sofre com a escassez de vacinas.

A própria eficácia dos imunizantes é outra incógnita. Não há estudos que indiquem o grau de proteção da CoronaVac e da vacina de Oxford/AstraZeneca contra essa cepa. O Instituto Butantan informa que testes já estão em curso e devem ser concluídos nas próximas semanas sobre a vacina chinesa. A AstraZeneca, parceira de Oxford e da Fiocruz, também iniciou estudos.

Para tentar conter a propagação, Araraquara, que concentra 12 dos 25 casos de São Paulo — os demais estão na capital (9), em Jaú (3) e em Águas de Lindoia (1) —, entrou ontem em lockdown por 15 dias.

Também para barrar as variantes (incluindo a britânica e a sul-africana), o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) emitiu um alerta recomendando medidas de contenção como toques de recolher e lockdown.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde para entender a estratégia federal de contenção da nova cepa, sem retorno. E a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não respondeu se adotaria medida similar à da reguladora da União Europeia, que agilizará a liberação de vacinas eficazes contra novas mutações. (Com informações da ABr)  

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