Asfalto se torna sonho de moradores de Aparecida
O Hoje visitou bairros e encontrou ruas esburacadas, com lamas e asfaltos pela metade | Foto: Wesley Costa
João Paulo Alexandre
Ruas tomadas pelo bairro, verdadeiras crateras no solo e ruas intransitáveis e oferecendo riscos. Essa é a situação de moradores de dois bairros em Aparecida de Goiânia: Jardim Itapuã e Bairro Boa Esperança. Os habitantes dos dois setores reclamam do descaso e esquecimento por parte do poder público com eles.
O Hoje flagrou a situação precária de algumas ruas do Bairro Itapuã. A Avenida 11 mais parece uma pista de rally com tantos obstáculos. A Rua dos Marrecos é uma das perpendiculares que dão acesso à avenida citada e conta com vários buracos formados pela força da água da chuva que desce no local.
O famoso morador da região que pediu para ser identificado como Gildeão, de 56 anos, tentava vencer a subida que era dificultada com tantos buracos e desníveis presentes na via. Ele estava com uma bicicleta e não poupou críticas a atual situação do setor.
“Isso é uma vergonha. Há 40 anos que o Itapuã existe e sempre é a mesma conversa: que o setor foi asfaltado. O atual prefeito disse que o dinheiro para a obra já estava liberado e que consta que o setor está asfaltado, mas ele esteve aqui e viu que não. O que mais é preciso para mudar essa situação?”, questiona.
Gildeão ainda afirma que a população da região vive um verdadeiro descaso e que os serviços paliativos não funcionam mais.
“Olha o tamanho desses buracos que se formaram com as últimas chuvas? Todo o ano é isso aqui. Eles colocam uma terra no tempo seco e a chuva vem e carrega tudo. Ainda mais aqui que é uma ladeira”, conta, ao apontar para a Rua dos Marrecos.
Pelo tempo que o setor existe, Gildeão é categórico em dizer que o bairro já era para estar completamente asfaltado.
“A gente paga impostos tão caros e o que a gente recebe? Areia! Isso é revoltante. Não queremos areia, queremos asfalto. Isso aqui é muito perigoso. Uma pessoa pode escorregar e se machucar aqui. Ou pode bater a cabeça numa dessas pedras que vêm da parte mais alta. Do jeito que tá, não dá mais!”, desabafa.
Ele conta que já viu muitos acidentes causados por falta do benefício. “Um tempo atrás uma cara estava na moto e ela derrapou no cascalho. O caminhão estava vindo por trás e passou por cima dele. Foi uma cena muito forte”, finaliza.
26 anos
A cuidadora Silvani Queiroz, de 37 anos, revela que espera há 26 anos pelo o asfalto no Jardim Boa Esperança, setor que ela mora desde os 11. Segundo ela, o setor só ganha visibilidade dos políticos na época das eleições.
“Estamos totalmente abandonados. É na época da chuva e no sol. A rua está tomada por buracos e eu acredito que aqui só mexe nas próximas eleições”, reforça.
A mulher conta que o setor é bom para morar, mas aponta as dificuldades de viver sem asfalto. “Os meninos ficam doentes direto. Fora que aqui quando chove vira um verdadeiro rio. E o mais engraçado é que eles fazem asfalto em algumas ruas e para bem no meio. Algumas nem têm meio-fio para você ter ideia. É problema atrás de problema. A casa não para limpa. Chega a dar raiva”, conta.
Silvani aponta que o asfalto é sinônimo de dignidade. “Quando você mora num setor estruturado, tudo fica melhor. Os impostos chegam na hora, mas a gente não vê o benefício chegar da mesma forma. Um lugar com boa estrutura dá dignidade para os moradores”, conta.
Um outro problema destacado por Silvani é o mato alto. Segundo ela, isso torna o setor ainda mais perigoso e, por isso, já pensou em se mudar para Goiânia. “Os bandidos aproveitam isso para se esconderem e roubar ou fazer qualquer outra coisa com a gente. Eu pensei por diversas vezes mudar daqui e ir para a Vila Pedroso. Já estive lá e vi que conta com muito mais infraestrutura aqui”, finaliza.
Por meio de nota, a Secretaria de Infraestrutura de Aparecida (Seinfra) informou que os dois setores citados na matéria “estão no cronograma de pavimentação da secretaria e devem ser contemplados após o período chuvoso.”
Sobre o mato alto, a prefeitura disse que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU) “está com cronograma de roçagem em andamento percorrendo todos os bairros da cidade.”
“Com relação a roçagem no setor Jardim Boa Esperança, as equipes estão realizando o serviço no setor e até o final desta semana devem finalizar o bairro. A secretaria ressalta que a obrigatoriedade de limpeza dos imóveis privados não edificados é do proprietário, mas que realiza o serviço, de forma constante, para amenizar os problemas ocasionados pelo mato alto”, traz o texto da nota.
Promessa é asfaltar todas as ruas de Aparecida
O prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), foi reeleito com mais de 95% das intenções de voto em novembro do ano passado. Uma das principais promessas do chefe do Executivo é deixar o segundo maior município do Estado com todas as ruas asfaltadas. A cidade, segundo levantamento exposto pelo próprio prefeito em dezembro do ano passado, conta com cerca de 20% sem pavimentação.
Como forma de expandir os trabalhos, o prefeito recebeu uma equipe do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) em dezembro. A instituição é ligada ao grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Entre os assuntos tratados, estava a possibilidade de um financiamento para obras na área de infraestrutura, mobilidade, educação e meio ambiente.
Uma das obras que seriam arcadas com o empréstimo seria a pavimentação de todas as ruas habitadas da cidade. “Nosso objetivo é levar o asfalto para todos, gerando qualidade de vida para os aparecidenses e consequentemente levando Aparecida para um novo patamar de desenvolvimento”, afirmou Gustavo à época.
Ele ainda foi questionado nas redes sociais por uma moradora sobre as ruas que ainda são de terra e ausência de qualquer tipo de infraestrutura em setores como Retiro do Bosque, Rosa dos Ventos e Setor Continental. Ele afirmou que a equipe já trabalhava nos projetos e na captação de recursos para começar as obras.
“Minha intenção é finalizar o segundo mandato com 100% da cidade asfaltada. Para isso vamos buscar parcerias com todas as esferas e também novos financiamentos”, garantiu. (Especial para O Hoje)