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sábado, 23 de novembro de 2024
Pandemia

Em um ano, Goiás perde 10 mil vidas para Covid-19

Cemitérios da Capital registram um grande número de velórios diários e preocupa autoridades | Foto: Wesley Costa

Postado em 18 de março de 2021 por Sheyla Sousa
Em um ano
Cemitérios da Capital registram um grande número de velórios diários e preocupa autoridades | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

Lágrimas, desespero e dor. Essa é a rotina que muitos coveiros vêm presenciando recentemente. Pode-se falar que isso é normal levando em consideração que eles trabalham em um cemitério, e que não é fácil se despedir de ninguém. Porém, tudo ganhou mais intensidade no último ano. Isso porque o mundo foi assolado pela Covid-19 e, dentro do Brasil, foram mais de 282 mil pessoas morreram pela doença, sendo 10 mil delas goianas.

Dez mil mortes. Milhares de famílias inconsoláveis já que, em alguns casos, mais de uma pessoa perdeu a batalha para a doença. E o pior: a diferença dos óbitos acontece em questões de horas ou até de minutos. Segundo o painel da Secretaria de Estado da Saúde (SES), a maioria das mortes ainda são os idosos de 70 a 79 anos e acima de 80 anos. Mas pessoas mais jovens vêm se tornando vítimas fatais com maior intensidade. Quase 1,4 mil mortes são de pessoas que têm entre 50 a 59 anos e quase 350 pessoas tinham de 30 a 39 anos. Goiás também já registrou mortes de crianças menores de 10 anos e entre 10 a 14 anos.

E, infelizmente, a expectativa no cenário não ajuda para expectativas melhores. O Estado conta com 444.750 casos confirmados e mais de 375 mil em suspeição. Além disso, as pessoas não colaboram e teimam em promover aglomerações em festas ou eventos clandestinos. Quem sofre com isso é o sistema de saúde que beira o colapso, com as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), praticamente todas ocupadas. A situação é de rodízio em algumas cidades, onde ou a alta ou a morte é quem dá espaço para uma nova internação.

A morte, inclusive, é o ciclo final mais doído para essa jornada. Para quem ainda está vivo, é uma sensação recorrente, pois se a pessoa que precisa ficar internada sofre com a falta de ar tem uma sensação instantânea que não vai resistir. Caso a pessoa não resista, o baque é para as pessoas que ficam, que têm que sofrer com o adeus forçado e a dúvida do porquê da partida do ente.

Dor da despedida

O Hoje esteve no Cemitério Parque, no Setor Gentil Meirelles, em Goiânia, nesta quarta-feira (17). O local tinha programado nove enterros para serem executados ontem, sete deles eram de vítimas que morreram do novo coronavírus. Um grupo com cerca de 14 pessoas se reuniu para se despedir de uma mulher que tinha pouco mais de 50 anos. O caixão prata estava lacrado e envolto com um plástico.

Uma das conhecidas da família pregava palavras de conforto naquele último momento de despedida. Uma oração foi feita e no meio das interseções e pedindo a cura para o vírus. Os coveiros chegam para realizar o fechamento da urna. A dor nesse momento é mais forte. Mesmo não sendo recomendado, os familiares se abraçam pedindo um conforto naquele momento tão difícil. A irmã dessa mulher era a que mais chorava. As duas tinham uma grande sintonia. Apesar de não terem nomes divulgados, a cena se tornou comum e a realidade de várias famílias goianas.

Algumas quadras dali, outro grupo também se reunia para se despedir de mais uma vítima fatal. O carro da funerária para mais distante. O ritmo é o mesmo. Palavras de conforto, oração e lágrimas. Muitas lágrimas de pessoas que agora estão enlutadas e que são marcadas para sempre pela pandemia. 

Pior dia da pandemia

Na última terça-feira (16), Goiás registrou o pior dia da pandemia no Estado. Foram 220 mortes em apenas 24 horas, segundo a SES. O recorde também foi registrado dentro do mês de março. Mais precisamente no último dia 10. Na ocasião, foram 267 pessoas que perderam a vida.

Para tentar conter o vírus, o governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou medidas de restrições ainda mais severas. O chefe do Executivo Estadual decidiu voltar com o revezamento das atividades econômicas e o comércio tido como não essencial deve ficar fechado por 14 dias e pode abrir por outras duas semanas. A medida começou a valer ontem (17).

O governador ressaltou que nas cidades que estão em situação de calamidades, o decreto estadual deve sobressair ao municipal. Isso deve acontecer em praticamente todo o Estado pois, no mapa de risco da SES, das 18 regiões, 17 estão inseridas em situação de calamidade e apenas uma está na situação crítica, que também não é sinônimo de tranquilidade.

“Você não tem leito, se tem demanda maior do que a oferta, então não tem como ter dois protocolos diferentes. […] Hoje a situação do estado de Goiás é de todo o mapa em calamidade, [nesse caso] prevalecem as regras do decreto estadual”, disse. 

Goiás é o estado com mais mortes nos últimos 4 dias 

Goiás foi o Estado de todo o País que mais registrou mortes por Covid-19 nos últimos quatro dias, apontam dados do consórcio de imprensa que analisa a média móvel de mortes pela doença. Até a noite de ontem (17), a média do Estado era de alta de 210%, enquanto Sergipe, que ocupava a segunda posição com 122%.

A média móvel é a variação da média dos 7 últimos dias com relação à média de duas semanas atrás. Com mais de 440 mil casos de Covid-19 registrados, Goiás passou da média de 31 mortes para 125. Na tentativa de frear o contágio acelerado, o Estado estabeleceu o isolamento intermitente. Desde ontem, começou a valer o revezamento das atividades econômicas devido ao agravamento da situação de emergência em saúde pública decorrente da pandemia de Covid-19.

A medida restabelece o Decreto nº 9.653, de 19 de abril de 2020, com a adoção do sistema de revezamento das atividades econômicas organizadas para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, que se inicia com 14 dias de suspensão seguidos por 14 dias de funcionamento, sucessivamente.

Ocupação de leitos

Além do alto índice de mortes, Goiás ocupa a quarta posição dos estados que possuem a maior taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de acordo com uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Atualmente, a taxa gira em torno de 97% em toda a rede pública ocupada por pacientes com Covid-19.

Os pesquisadores que realizaram estudo apontam que a situação se trata do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil. Isto porque o boletim mostra que, das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%.

No que diz respeito às capitais, 25 das 27 estão com essas taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%. Goiânia está entre as cidades com a situação considerada de colapso, com 96% de ocupação.

De acordo com os pesquisadores, há necessidade de adoção rigorosa de ações de prevenção e controle continua se impondo, em um cenário em que o descontrole da pandemia parece se alastrar. No ano passado, a Universidade Federal de Goiás (UFG) já apontava para o agravamento da crise caso medidas de restrições não fossem tomadas, ainda no início da pandemia. (Especial para O Hoje) 

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