Projeto de poder da Iurd leva Rogério Cruz a expurgar o MDB
Vice que virou prefeito não gastou nem 80 dias de mandato para dar uma guinada e mostrar que a sua gestão será afinada com a pauta religiosa do seu grupo político | Foto: Reprodução
José Luiz Bittencourt
O poder transforma os homens. Não se passaram nem 80 dias
desde que Rogério Cruz assumiu a prefeitura de Goiânia, naquela época, sob o
impacto emocional da morte do prefeito eleito Maguito Vilela e ele, em menos de
uma semana, colocou as garras de fora. Um expurgo foi iniciado e emedebistas da
gema estão sendo colocados para fora do Paço Municipal, sem a menor cerimônia.
Rogério Cruz, aquele que não foi eleito para se sentar onde está sentado,
resolveu enfim assumir o cargo de titular número um do Paço Municipal e provar
que é ele quem manda.
O MDB, conduzido pelo jovem imaturo que Daniel Vilela mais
uma vez provou que é e não se corrige, está sendo expurgado da prefeitura. No
janeiro passado que os tempos de pandemia passam a impressão de ter sido
longínquo, o partido foi ganancioso e pegou tudo o que o poder municipal
oferece política e administrativamente de bom, não deixando nem migalhas para
ninguém, nem mesmo para o próprio Rogério Cruz – que, em um fato inédito na
história de todos os governos, foi humilhado ao ficar até mesmo sem a sua cota
pessoal no secretariado pessoal. Espertamente dócil e submisso então, ele fez
como a sabedoria chinesa aconselha e aguardou pacientemente para dar o seu
contragolpe.
Andrey Azeredo, o petulante primeiro-ministro do alto do
Park Lozandes, foi a vítima preferencial pelo simbolismo emedebista que a sua
figura carregava, como ponta de lança de Daniel Vilela, atuando 24 horas por
dia na vigilância intensiva ao prefeito, misturando os papeis de carcereiro e
espião. Nenhum outro secretário transmitiria o recado que a degola de Andrey
passou, mas, por via das dúvidas, outro ícone emedebista, Agenor Mariano, da
Secretaria de Planejamento Urbano e habitação, entrou na mira e, mesmo
supostamente blindado por Daniel Vilela, pode ser despachado a qualquer
momento. tudo tem um quê de agressividade e deixa claro que entre o atual
prefeito e o MDB de Daniel Vilela não existe mais qualquer aliança.
O erro dos emedebistas foi a voracidade, lá atrás. Quiseram
pegar tudo o que havia de disponível e até mais, tanto que induziram Rogério
Cruz, contra a sua vontade, a criar mais de três centenas de cargos
comissionados com salários entre R$ 8 e 12 mil para distribuir a uma extensa e
interminável lista de apaniguados, em uma das mais tristes demonstrações de
cupidez pela folha de pagamentos que a classe política já deu em Goiás. Não
deixaram nada para o prefeito e a sua trupe de pastores da Igreja Universal, do
Republicanos e da Rede Record, que atuam de forma sincronizada em um plano de
conquista de poder que fracassou no Rio de Janeiro com a prisão do prefeito
Marcelo Crivella e no momento está literalmente transferido para Goiânia, com a
realocação de quadros religiosos cariocas que agora serão instrumentalizados
pelo Paço Municipal, a exemplo do novo secretário municipal de Governo, que vem
da hierarquia do Republicanos e da IURD.
As peças do dominó montado pelo MDB e por Daniel Vilela na
prefeitura começaram a cair com Andrey Azeredo e Marcelo Costa Ferreira, este
da Educação, passando por Marcelo Araújo teixeira (desde a gestão de Iris
Rezende na pasta da Administração) e ainda devendo jogar no chão, nas próximas
horas, os titulares de áreas estratégicas como a Comunicação, aqui configurando
outro equívoco dos emedebistas na sua ânsia pela ocupação de espaços, já que
sempre se soube que a Igreja Universal tem fartura de quadros qualificados para
essa pasta na condição de dona da segunda maior rede de televisão do país e
igualmente de Goiás. A Rede Record, portanto, é que deveria ter sido
contemplada com a pasta na formação inicial do secretariado e não um preposto,
embora muito preparado, de Daniel Vilela.
Não há novidades no movimento operado pelo prefeito Rogério
Cruz, que parece longe de ter terminado. Novidade foi a vassalagem resignada
dele ao entregar os dedos e os anéis ao MDB na montagem do secretariado,
contrariando a lógica de uma vida dedicada à Igreja Universal, ao seu complexo
de comunicação e do aprendizado de dois mandatos na Câmara de Vereadores. Ele
apenas está se encontrando com a sua realidade e retomando o caminho que
deveria ter sido o seu desde lá atrás, quando o destino – e o estelionato
eleitoral comandado por Daniel Vilela – o premiou com o mandato de prefeito de
uma das 27 capitais brasileiras e a oportunidade de tentar colocar em prática
os ideais religiosos que sempre professou, continua e continuará seguindo.
A imprudência emedebista foi tamanha que começaram a pulular
candidatos a deputado estadual e federal dentro dos gabinetes do Paço, cada
qual sonhando aproveitar as vantagens das secretarias das quais haviam se
apossado. Andrey Azeredo queria a Assembleia. O sobrinho de Maguito, Leandro
Vilela, já se apressava em se habilitar para a Câmara Federal. Ninguém
consultou a opinião de Rogério Cruz, no colo de quem a despesa por essa festa
seria jogada. Nem muito menos se perguntou como essas ambições se encaixariam
no projeto político da trindade Republicanos Igreja Universal-Rede Record,
origem irrenunciável de Rogério Cruz.
O estelionato eleitoral do MDB e de Daniel Vilela criou o
monstro que agora aterroriza a ambos. Pela coluna Giro, de O Popular,
eternamente porta-voz do emedebismo e do seu presidente estadual, eles ameaçam
romper, para o que não têm nem a fibra nem a coragem necessária. Pode apostar,
leitoras e leitores, o expurgo vai continuar no Paço Municipal e tanto o
partido quanto a sua maior liderança vão engolir a seco, agarrados aos cargos.
Goiânia, que o MDB pensou que era sua, agora é do Reino de Deus. (Especial para
O Hoje)