Amadure(ser)
Amadurecer – amargura de ser. Se reeditar, reescrever. Se deixar padecer. Um empanzinamento de si mesmo, a saturação do ego, a oxidação efêmera e contínua das armaduras de um momentâneo viver. É que eu já não caibo mais aqui, já não sei bem se ainda quero ir ali. Quanto mais sei, mais sei que não […]
Amadurecer – amargura de ser. Se reeditar, reescrever. Se deixar padecer. Um empanzinamento de si mesmo, a saturação do ego, a oxidação efêmera e contínua das armaduras de um momentâneo viver. É que eu já não caibo mais aqui, já não sei bem se ainda quero ir ali. Quanto mais sei, mais sei que não sei. Perdido. De novo e de novo. E aí me refaço, pro novo de novo. Já fui só, já fui legião. Já fui eu e você. Já fui. Sempre solto na multidão.
Novos vícios, traumas sem alarde e com poucos indícios. Eu saí na rua. Eu gritei. Eu me digladiei. Eu me matei e tomei a coroa. Por tempos fui meu próprio rei. Mas hoje, já não sei. Talvez no casulo, no limbo entre o claro e o escuro. Um sentimento nulo, quase impuro. Um eu que calmamente exprime em sussurro. Um eu que se sufoca em urros. Outro eu. De novo e de novo.
E como fui ingênuo, por pensar enquanto pequeno, que o ser maduro era se tornar constantemente pleno. Mal sabia eu. Mal saberei. Mas pelo menos hoje sei, que constante eu nunca serei. A essência fica, a alma se comunica. Os olhos ainda fitam, a boca ainda adocica. Mas substancialmente, não sei. E pra você, o que isso significa?
A totalidade do ser tem uma matemática complicada. Diferente da escola, não dá pra ser comparada. Uma soma do agora, menos parte de um recente passado, que multiplicada por um incerto futuro resulta num eterno “e agora, José? ”. Corre não, mané. Essa aula a gente não pode faltar. Pode espernear, pode chorar. Apruma o corpo, puxa o ar. Um novo eu sempre irá chegar.
Lucas Montagnini