Especialistas avaliam célula de etanol como opção mais sustentável para veículos elétricos no Brasil
O automóvel elétrico tipo plug in, movido a baterias recarregáveis, um dos padrões que vem sendo adotado pela indústria automobilística americana e europeia, não é considerado a melhor alternativa para os países em desenvolvimento, em especial para os que são produtores de etanol. Especialistas consideram que, entre as atuais tecnologias em desenvolvimento, outras atendem melhor a […]
O automóvel elétrico tipo plug in, movido a baterias recarregáveis, um dos padrões que vem sendo adotado pela indústria automobilística americana e europeia, não é considerado a melhor alternativa para os países em desenvolvimento, em especial para os que são produtores de etanol. Especialistas consideram que, entre as atuais tecnologias em desenvolvimento, outras atendem melhor a especificidade de países como o Brasil, a exemplo do modelo de propulsor elétrico movido a hidrogênio gerado a partir de célula de etanol.
Para o especialista em estudos energéticos do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE) da Unicamp, Luiz Augusto Horta Nogueira, o veículo elétrico a hidrogênio gerado a partir de célula de etanol apresenta uma série de vantagens para o Brasil e outros países produtores de etanol quando comparado ao modelo elétrico à bateria.
“Temos aspectos técnicos e estratégicos envolvidos nessa questão”, pondera. Segundo Nogueira, as questões técnicas dizem respeito à maior autonomia, uma vez que o abastecimento do veículo com célula de etanol será de forma idêntica aos veículos movidos à combustão, ou seja, parar no posto, encher o tanque de etanol e seguir adiante, sem ter de perder tempo recarregando as baterias. “Quando há previsibilidade de trajeto diário, o veículo elétrico tipo plug in pode até ser uma opção. Mas quando pensamos em grandes distâncias ou imprevistos, o abastecimento elétrico pode se tornar um problema”.
“Quanto à estratégia, o Brasil é líder em tecnologia na produção de etanol a partir da cana. Vamos virar as costas a todo investimento, toda expertise e toda tecnologia desenvolvida nos últimos quarenta anos?”, indaga. “Seria uma insensatez fazer isso e ainda precisamos de considerar todo o investimento que teremos de fazer na infraestrutura da rede elétrica”, considera. Estudos da Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério das Minas e Energia, apontam que a estruturação da rede elétrica para abastecimento automotivo custaria ao país algo em torno de R$ 1,2 trilhão, cerca de 16% do PIB de 2020.
ParaNogueira, o Brasil deveria optar por outras opções de mobilidade que não o veículo elétrico à bateria. “Veículos híbridos, com motor elétrico e à combustão trabalhando conjuntamente, podem ser uma boa opção, mas o veículo elétrico utilizando a eletricidade gerada em uma célula de combustível a hidrogênio, produzido no próprio veículo a partir de etanol, é mais eficiente”, aponta.
Um caminho possível
Nenhuma tecnologia de mobilidade deve ser descartada, todas podem conviver e ser utilizadas de acordo com necessidades específicas de cada local e de cada país. Esse é o ponto de vista defendido por Ricardo Simões de Abreu, engenheiro, consultor da Bright Consulting e especialista em bioenergia.
“Quando avaliamos as tecnologias em termos de emissões de CO2, tanto veículos híbridos movidos à etanol, quanto veículos elétricos à bateria, ou mesmo motores elétricos movidos à hidrogênio têm um índice de emissões bem inferior aos movidos à gasolina. Se a questão for reduzir emissões para respeitar acordos climáticos, todas essas tecnologias contribuem para atender a essa demanda”, explica.
Porém, segundo o consultor, a opção pela tecnologia de mobilidade depende do tipo de uso ou da estrutura instalada. “Veículo elétrico à bateria pode ser uma boa opção urbana, em especial para transporte público. No caso de outros usos, a geração interna de eletricidade a partir do hidrogênio, com abastecimento em postos de combustíveis, pode se configurar uma opção mais adequada”, argumenta. Segundo ele, no caso do Brasil, que tem o setor de etanol bem desenvolvido, os híbridos a etanol ou a célula de etanol são opções muito interessantes, sendo que a célula de etanol tem maior eficiência. Ele frisa que a rede de distribuição já está pronta, o País tem grandes pesquisadores na área e, em havendo investimento, o resultado será uma tecnologia mais adequada à realidade nacional.
Tecnologia promissora
A célula de etanol para mobilidade já está em desenvolvimento no Brasil. USP e a Unicamp estão participando do desenvolvimento dessa tecnologia em parceria com uma montadora japonesa, além de outras iniciativas. O modelo em desenvolvimento retira o hidrogênio do etanol e depois o utiliza para gerar energia elétrica, que aciona o motor elétrico e impulsiona o veículo. Toda a tecnologia necessária para a mobilidade vai embarcada. O abastecimento é feito com etanol nos postos de combustíveis. Para os especialistas, o etanol é uma excelente opção porque é obtido a partir de fontes renováveis e sua molécula possui muito hidrogênio. “Etanol é praticamente um cacho de hidrogênio”, brinca Abreu.
Para Nogueira,do NIPE, os primeiros resultados do uso das células de etanol em carros elétricos são muito promissores. “O rendimento é muito superior ao dos carros a combustão movidos a álcool ou mesmo híbridos, sendo que os testes iniciais indicam que o veículo pode fazer, em média, 20 km por litro de etanol. Além disso, a emissão de gases de efeito estufa é 90% menor por quilômetro rodado quando comparado aos veículos movidos à gasolina”, diz.
Passivo ambiental
A tecnologia de carros elétricos movidos à bateria pode parecer limpa, mas não é bem assim. Há dois importantes aspectos que devem ser considerados, alertam os especialistas: a origem da energia elétrica utilizada na recarga e o descarte das baterias velhas. “Do ponto de vista ambiental, não adianta muito ter um veículo elétrico abastecido com energia gerada a partir de carvão, diesel ou outro combustível fóssil. Há um ganho de eficiência, mas na prática estamos apenas mudando o local da fonte poluidora”, explica Nogueira. Ele lembra ainda que os metais hoje utilizados para a produção de baterias geram um importante passivo ambiental de reciclagem.