A Romaria do Divino Pai Eterno, que acontece em Trindade, será realizada de maneira virtual pelo segundo ano consecutivo devido à pandemia do novo coronavírus. A decisão foi tomada após uma reunião entre a Basílica, a prefeitura de Trindade e o Governo de Goiás. Apesar disso, um comunicado oficial será formalizado na próxima segunda-feira (31). Com isso, a cidade deixa de receber cerca de 3 milhões de pessoas nos dias do evento religioso.

Em entrevista a uma rádio local, o reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, padre João Paulo, destacou as questões que envolvem a decisão de evitar aglomerações. “Diante do momento que a gente vive e das análises técnicas dos profissionais de saúde, não podemos promover nenhum tipo de evento que favoreça  algum tipo de aglomeração. Portanto, a nossa opção, até mesmo por questão de responsabilidade, é de não promover um evento presencial que favoreça algum tipo de aglomeração colocando vidas em risco”, pontuou.

Apesar das colocações, apenas no comunicado oficial na semana que vem vai destacar quais as regras serão válidas durante o período de festa, que estava agendado para os dias 25 de junho a 4 de julho. Isso porque, atualmente, não há restrições na circulação de pessoas na cidade. Uma das alternativas que pode ser adotada é a criação de barreiras sanitárias nas entradas da cidade. A prefeitura da cidade, porém, pede cautela e que os fiéis ainda não façam reservas em hotéis da cidade para a festividade religiosa.

A cidade de Trindade registra, até o último boletim, 9.017 casos confirmados de Covid-19. Desse total, 8.310 pessoas foram curadas e 369 casos estão ativos. A cidade conta com 338 mortes causadas pela doença e mais de 34 mil doses de vacinas foram aplicadas nos moradores da cidade. Duas pessoas que estão com o vírus Sar-Cov-2 estão internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da cidade.

Romaria

A Festa de Trindade é a segunda maior festa religiosa do Brasil – perdendo apenas para a Festa de Nossa Senhora Aparecida – e a maior dedicada à Santíssima Trindade no mundo. A devoção começou em 1840 após a descoberta de um medalhão com a imagem sagrada.

O dia da grande Festa do Divino Pai Eterno é o primeiro domingo do mês de julho de cada ano. Durante os nove dias que o antecedem, são celebradas missas e novenas; ocorrem encontros de jovens; acolhimento aos carreiros do Divino Pai Eterno (procissão dos carros de boi), foliões, tropeiros, e outros devotos.

Ao todo, são realizadas cerca de 100 missas e mais de 46 novenas, além de procissões, batizados, vigílias, alvoradas e confissões. Mais de 2,5 milhões de pessoas passam pela Romaria durante os dez dias de festa e vários outros fazem visitas ao longo do ano.

Muitos devotos percorrem a pé o trajeto entre os municípios de Goiânia e Trindade, chegando até o Santuário Basílica, aproximadamente 18 quilômetros, como forma de pagar promessas, pedir graças e agradecer bênçãos alcançadas. Os peregrinos também partem de outras cidades e estados.

Desfile de carros de bois

A Festa do Divino Pai Eterno também conta com o tradicional Desfile de Carros de Boi, reconhecido nacionalmente. Em 2016, o desfile foi reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro e inscrito no Livro de Registro das Celebrações. O epicentro da Romaria é em Trindade, mas os devotos saem de diversas cidades de Goiás e de estados próximos, do Centro-Oeste e do Sudeste. Desde o século XIX, milhões de devotos participaram da Festa que acontece, anualmente, na cidade.

A identidade cultural de um povo, muitas vezes, está ligada à sua crença e, principalmente, à simbologia que envolve a tradição das práticas e celebrações religiosas. A preparação para a Romaria envolve diversas atividades, como reparos eventuais nos carros de bois, preparação dos mantimentos que serão consumidos, ofertados ou vendidos durante o trajeto, entre outros. Essas atividades são executadas por homens e mulheres de acordo com suas práticas no cotidiano da vida rural. Os carros de bois eram, antigamente, o principal meio de transporte das famílias das zonas rurais, em suas viagens de longas distâncias.

Durante a Romaria, os carreiros, candeeiros e demais participantes se colocam na posição de herdeiros, guardiões e transmissores de costumes da vida rural, que vem sofrendo, nas últimas décadas, profundas mudanças com o advento da modernização que avança na região. Ao usarem um meio de transporte tido por anacrônico na atualidade, rememoram os tempos dos seus antepassados e até mesmo o da infância e reconstroem, ano após ano, a tradição da vida rural e das devoções.