Esmaltes podem interferir no resultado de saturação
Apesar de não haver estudo comprovando o feito, médicos já recomendam a aferição sem o uso do produto, principalmente de colorações escuras
Um produto muito utilizado como forma de embelezar homens e mulheres está no centro de estudos. O esmalte pode contribuir com falsos resultados na aferição da saturação, que mede quanto de oxigênio do sangue e na sua entrega pelo corpo. Alguns médicos reforçam essa tese e descrevem que a coloração escura desses produtos é a que mais interfere no momento dessas medições.
Uma pessoa que passou por esse susto foi a social media Cristiane Santos. Ela, que está recém recuperada da Covid-19, conta que contraiu a doença no momento que foi para o Rio Araguaia durante o feriado do dia 24 de maio. “Minha sogra já estava sem se sentir muito bem, porém todos os sintomas já eram normais de quando a sinusite dela atacava. Ficamos três dias tendo contato e acreditávamos que era apenas mais uma crise que ela estava tendo”, conta.
Segundo ela, ao retornar à Goiânia, já começou a sentir alguns sintomas da doença. A sogra dela se submeteu ao exame e o resultado foi positivo para o vírus Sars-Cov-2. “Com isso, todos fizemos o teste e imediatamente nos isolamos. Pegamos o resultado e deu o positivo que já imaginávamos. Nos dias de isolamento eu estava sentindo muita dor de cabeça, fadiga, dor nas costas e dificuldades em respirar”, pontua.
Cristiane conta que a sogra sugeriu que ela comprasse um oxímetro para ficar acompanhado a saturação. A social media pagou R$ 130 no aparelho, onde foi informada que o nível normal de saturação é acima de 94%. Ela conta que, no primeiro dia após a aquisição, a saturação deu 87. “Isso já me preocupou, mas mesmo assim não fui ao médico porque sou o tipo de pessoa que, infelizmente, quer esperar para ver se melhora. No dia seguinte acordei e fui medir novamente e aí o desespero veio: estava em 79% de saturação.”
Ela conta que saiu correndo para o postinho mais próximo de casa. Ela relatou a situação a uma enfermeira e ela foi atendida de maneira prioritária. Nesse momento, a saturação de Cristiane que foi tirada no aparelho da profissional deu 82%. Nesse momento, ela foi orientada a ir para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu. Após uma hora, ela explicou a situação a uma enfermeira, que lhe explicou que, caso a saturação estivesse nesse patamar, ela teria que ser internada.
Desesperada, ela conta que foi submetida a uma nova aferição e, para a sua surpresa, o resultado foi de 99%. Ela passou por vários exames e, como estava tudo normal, voltou para a casa. Cristiane pontua que o aparelho dela também foi testado em outras pessoas onde funcionou normalmente. Porém, ao tentar aferir novamente com o seu oximetro, o resultado mostrou que a saturação estava baixa. Nesse momento, ela retornou à unidade de saúde. Ela mediu e continuava baixa, mas a doutora em questão pediu para que ela retirasse o esmalte.
“Não entendi no início, mas fiz isso e aí a novidade. Minha saturação estava ótima e o problema estava no esmalte. Ninguém havia me informado da necessidade de tirar o esmalte. Nem médicos anteriores e nem o pessoal da farmácia que me vendeu”, destaca.
Após o susto, Cristiane conta que os profissionais devem estar mais cientes dessas questões para poder orientar melhor os pacientes. “Foi um susto muito grande, pois eu passei perto de ser internada sem razão nenhuma, apenas por estar com esmalte nas unhas. Todo mundo já tem medo de estar com Covid. Não é um momento fácil. Tem os sintomas físicos que são horríveis, questões psicológicas, o medo de contaminar alguém e, além disso, tive que lidar com o desespero de achar que seria internada, o que só aumentou a minha ansiedade e tudo por falta de informação básica de uso. E pelo que percebi conversando com várias pessoas é que ninguém sabia dessa interferência que o esmalte pode causar”, desabafa,
Como acontece
O clínico geral João Carlos Neto Araújo afirma que não há estudos que confirmam a interferência do esmalte com a aferição, mas reforça que já há testes que mostram que cores mais escuras acabam provocando falsos resultados de baixa saturação. “ A leitura é feita através da emissão de raios vermelhos e infravermelhos pela polpa digital e a observação da refração das mesmas. Desta forma, esmaltes e tudo mais acabam interferindo nessa refração e mostrando leituras alteradas.
João pontua que não são apenas os esmaltes que mascaram os resultados. “Nós sempre indicamos aos pacientes que é recomendado tentar se verificar a oximetria em dedos que não apresentem esmaltes ou outros acessórios, como as unhas postiças. Assim como também deve se observar se as extremidades dos dedos estão frias, assim como a diminuição da perfusão periférica e também certas patologias como anemia”, destaca.
O médico sublinha que a partir de determinada saturação a leitura realizada pelo oxímetro deixa de ter acurácia, principalmente quando a saturação está por volta dos 80%. E que isso pode induzir o profissional ao erro. “É sempre recomendado a pessoa esquentar a extremidade do dedo. Mas o profissional deve se valer de outros exames como a gasometria arterial que é bem precisa nessas situações”, aponta.
João diz que os sintomas mais comuns de baixa saturação são cansaço, batimento de asas do nariz, tiragem intercostal e expansão da caixa torácica. Ter um oxímetro em casa é importante, mas o clínico destaca que deve se ter algumas ressalvas. “É Importante também o paciente estabelecer períodos de verificação, como de seis em seis horas e não ficar verificando continuamente, pois criará uma angústia psicológica muito grande caso registre uma aferição com certa alteração”, pontua.
O profissional destaca que a falta de difusão dessa informação é devido não ter um estudo científico concluído sobre a questão. “Talvez não houvesse interesse ou necessidade de se verificar que fatores influenciaram a leitura do oxímetro. Só recentemente com a Covid foi que a oximetria e outros termos, antes restrito apenas a hospitais e pronto atendimentos, se expandiram e ganharam a atenção do público em geral”, explica.
Apesar disso, João pontua que é importante a pessoa procurar atendimento caso o paciente apresente alguma dificuldade respiratória. “Independente da oximetria, eu aconselho quaisquer pacientes que apresentem queixas respiratórias procurar atendimento médico! Caso esteja no período de vacinação, não caia na conversa fiada de políticos irresponsáveis. O diagnóstico e tratamento assim que se diagnostica a patologia é a melhor forma de se evitar complicações”, finaliza.