Horário de verão e contraturno industrial
Confira o artigo, desta segunda-feira (19/07), por Eduardo Amendola Camara
O horário de verão, desde sua adoção, em 1931, tem o objetivo de melhorar o aproveitamento da luz natural e reduzir a necessidade de energia concentrada no período das 18h às 21h. Durante o horário de pico o segmento produtivo ainda está em operação, as residências aumentam a demanda por energia e a iluminação pública municipal é acionada. No início de seu primeiro ano de governo, o Presidente Jair Bolsonaro extinguiu o horário de verão por considerar que a medida perdeu a “razão de ser aplicada sob o ponto de vista do setor elétrico”.
Entretanto, em meio à crise hídrica e aumento das contas de luz no Brasil, o governo declarou na terça, 29 de junho, uma nova medida de incentivo às empresas deslocaram o consumo do horário de maior demanda de energia para o de menor demanda, mudando os turnos.
Para a indústria ser motivada a mudar seu horário de funcionamento ela precisaria de incentivos. A sua força de trabalho passaria a receber adicional noturno, e nesse período, é sabido que o número de acidentes de trabalho aumenta. E com isso as empresas teriam que lidar com o aumento do custo, além de uma mudança cultural muito grande. Para incentivá-las, além de benefícios na tarifa de energia, seria necessário incentivo fiscal – e custaria muito ao governo em um momento em que não há folga no orçamento. Assim, a medida não seria efetiva em reduzir a sobrecarga sobre o sistema no horário de pico.
Como alternativa, o retorno do horário de verão ao final de 2021 poderia produzir o efeito esperado, principalmente nas unidades federativas meridionais, coincidentemente os maiores consumidores de energia. Neste sentido, a Confederação Nacional do Turismo (CNTur) lançou uma proposta requisitando a volta deste horário especial. Diante deste cenário, é importante refletir sobre o real impacto dessa medida quando falamos na demanda por energia. A principal responsável pela geração de energia é a hidrelétrica. Sendo assim, quando o volume dos reservatórios é insuficiente para atender a demanda naquele momento, outras fontes são acionadas para entregar a quantidade necessária para a população. Essas alternativas, como eólica e térmica, contudo, são mais caras – e o valor é repassado para o cidadão.
A companhia geradora de energia de uma determinada região ganha concessão e se compromete a entregar toda quantidade de energia demandada. Quando a indústria liga uma máquina ou uma família liga a televisão, aumenta o consumo de energia. O sistema tem que gerar, basicamente no mesmo instante, aquela energia. Por isso o horário de verão tinha sua importância ao descasar o fim do expediente produtivo com o acionamento da iluminação das vias públicas reduzindo a necessidade de energia concentrada em horários de pico. Portanto, a retomada do horário de verão em 2021 é uma prática recomendada pois em primeiro lugar a medida aumenta a eficiência e segurança do setor energético; em segundo lugar não onera os cofres públicos e por fim, mas não menos importante, ainda incentiva o setor de turismo. Avante ao seu retorno!