Artistas independentes encontram alternativas para se manterem ativos durante a pandemia
Murilo Bispo, cantor paulista, conta como foi a experiência de se reinventar artisticamente frente aos impactos da Covid-19
O mundo artístico tem forte influência, seja por meio da dança, de pinturas ou até mesmo da música, tanto por trabalho quanto para entretenimento, a arte está presente no cotidiano da sociedade. Em decorrência da crise gerada pela pandemia da Covid-19, o mundo teve que se adaptar ao novo normal, se reinventando para permanecerem ativos no trabalho, independente da profissão.
Para combater o novo coronavírus, medidas de isolamento e distanciamento social tiveram que ser adotadas. Uma pesquisa inédita da União Brasileira de Compositores (UBC) em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), traduz este cenário e revela que a dificuldade de viver da música aumentou ainda mais, principalmente para cantores independentes. Segundo dados coletados, 86% dos 883 músicos que participaram da análise perderam renda.
Segundo Giovani Marangoni, coordenador de pesquisa, os resultados permitem constatar uma vinculação muito grande dos artistas da música com os shows. “Como essa atividade foi a primeira a parar e está sendo a última a voltar durante a pandemia, o impacto financeiro sobre o setor é muito grande. Outra coisa que percebemos é que muitos passaram a fazer lives, acreditando que ganharão dinheiro com isso”, ressalta.
A carreira musical do cantor independente e compositor Murilo Bispo, não se distancia de outras histórias já conhecidas. Natural de Lorena (SP), o artista que chegou à semifinal do The Voice Brasil (2018), lançou seu primeiro clipe solo ano passado durante a pandemia. Assim como outros artistas, Murilo teve que se adaptar à nova realidade e se reinventar artisticamente.
Para o cantor, a maior dificuldade foi a falta do palco e da convivência de maneira geral. “Para você ser artista, precisa ter uma vivência pessoal muito carregada de coisas para você conseguir traduzir aquilo em arte de alguma forma. Quando a gente não tem vivência nenhuma é muito difícil você extrair ideias e você acaba se fechando em um mundo que basicamente o que você vive de diferente do que está dentro do seu teto é o que você vê na internet. Não tem a vivência real de conexão com outras pessoas, de conhecer pessoas novas, então pra mim o que mais pesou foi não ter histórias novas pra poder colocar dentro do meu trabalho artístico”, destaca.
A maioria dos artistas utilizaram das lives para divulgar seus trabalhos, mas Murilo não achou que se encaixaria a isto, apesar de ter achado a movimentação interessante. “Eu confesso que eu não fui muito adepto da lógica das lives. Por mais que eu tenha achado muito legal todo movimento que rolou, fazer por fazer para mim não estava fazendo muito sentido, eu acho que para os grandes artistas acabou sendo muito legal porque eles conseguiram obviamente puxar patrocínio, e ter uma audiência maneira ali e a fanbase desses caras que são grandes, obviamente é muito maior então as pessoas depositavam essa expectativa de ver alguma coisa acontecendo. Mas no meu caso, me dediquei mais para estudar”, afirmou.
O cantor, durante a pandemia, tem se dedicado aos estudos, sobretudo de produção musical. Diante dos novos conhecimentos, Bispo está produzindo um novo projeto que promete ser intimista, além de seu mais novo EP, o 96’ Live In Studio. “Quando começou a pandemia a primeira coisa que eu fiz foi estudar produção. Então dando um mínimo spoilerzinho, acho que tem coisa muito legal para sair e com uma mão mais minha, com coisa que eu fiz aqui dentro do meu quarto e que eu tenho expectativa de soltar pro mundo em breve”.
Outra área artística afetada pela Covid-19 foram os shows, sendo eles em teatros ou arenas abertas. De acordo com às medidas sanitárias decretadas, eventos de grande porte estavam suspensos por tempo indeterminado. Diante disso, vários artistas tiveram que cancelar suas apresentações sem previsão de remarcá-las. Para Murilo, a expectativa era no final de 2020 dar início à uma turnê que tivesse mais a ver com seu novo projeto.
O mundo todo está ansioso para o final da pandemia, que já deixou mais de 517 mil mortos no Brasil. Mesmo sem uma data exata de quando tudo irá normalizar novamente, com o avanço das campanhas de vacinação ao redor do país, as esperanças são renovadas e os planos para o mais breve possível são arquitetados. O compositor pretende colocar o projeto do 96’ em prática, após a redução da propagação do coronavírus.
96’ Live In Studio
O projeto foi iniciado durante a pandemia, no final de 2020, e contou com o financiamento coletivo. Murilo Bispo teve que adiar seus planos, assim como vários outros artistas, devido aos impactos gerados pela Covid-19.
“O impacto não só psicológico, mas também econômico que a pandemia trouxe é muito difícil para a gente conseguir fazer acontecer, porque era um financiamento coletivo, as pessoas precisavam ter grana e disposição para poder contribuir para o projeto. A gente foi meio corajoso de lançar em dezembro de 2020 com a ideia de gravar já no começo de 2021”, afirma o cantor.
Além disso, Murilo contou que o 96’ é um projeto já engatilhado e que está sendo trabalhado em paralelo à ouras iniciativas. A expectativa é trazer uma proposta intimista que tenha relação com a dinâmica usada pelo compositor durante a pandemia, de se autoproduzir e fazer tudo dentro de casa.
Apesar das dificuldades impostas, a pandemia proporcionou ao paulista a chance de entender esteticamente o próprio trabalho, desafio enfrentado por todos os músicos. “Eu já estava, em 2020, numa dinâmica um pouco mais olhando para dentro, entendendo esteticamente o que é o meu trabalho. Acho que é um desafio que todo músico tem, ‘o que eu quero representar musicalmente, com quem eu quero cantar’. Acho que todas essas perguntas podem surgir para todos os músicos que querem lançar um trabalho autoral”.