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sábado, 23 de novembro de 2024
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Cotidiano da Quebrada,

Mano Brown estreia no Spotify com o podcast ‘Mano a Mano’ que reforça o poder da escuta e o valor do diálogo

Contador de histórias nato

Postado em 26 de agosto de 2021 por Redação
Mano Brown estreia no Spotify com o podcast ‘Mano a Mano’ que reforça o poder da escuta e o valor do diálogo
Contador de histórias nato. | Foto: Reprodução

Com mais de 30 anos de carreira como integrante dos Racionais MC’s, considerado o principal responsável por comunicar e traduzir o cotidiano da quebrada, Mano Brown experimenta novos meios de expandir as suas ideias, compartilhar conhecimentos e gerar diálogo, agora em um novo formato: o podcast Original Spotify‘Mano a Mano’, que estreia hoje (26), grátis, na plataforma.

Os 16 episódios que estarão disponíveis toda quinta-feira vão trazer Brown em um encontro com personalidades de diversos cenários: do esporte à política, da música à religião. KarolConká, Drauzio Varella, pastor Henrique Vieira, Vanderlei Luxemburgo e Fernando Holiday são alguns dos nomes confirmados.Depois de um tempo distante da mídia, Mano compartilha que, nesta nova etapa da carreira, os fãs poderão conhecer um novo lado dele e descobrir que ele é “o cara mais comum do mundo”.

O artista tem perguntas para o mundo. Algo até inusitado, já que esse mesmo mundo se acostumou a vê-lo como um homem das respostas e não o contrário.Para falar sobre o novo projeto, Brown participoude uma conversa promovida pelo Spotify e revelou suas inspirações e motivações para criar o podcast. “Sou um contador de histórias nato, todo rapper é! Isso vem do compositor, de estar ali contando sua história e visão sobre o mundo. Sempre investi nesse lado meu, colocava no papel, em forma de batida e as pessoas falavam: ‘Você está cheio de coisas pra falar, porque não potencializa isso? Então decidi falar”, explica o cantor, em coletiva de imprensa.

A experiência de gravar um podcast tem sido desafiadora para ele. “É uma atividade em que não sou consagrado. Estou tendo que aprender comunicação, jornalismo. Parece simples quando você está vendo televisão, mas a condução das entrevistas são delicadas, assim como a maneira como você amarra os assuntos, como você mantém a conversa relevante sem perder o tempero”, ele avalia. “Se tem alguém que está aprendendo com essa experiência, essa pessoa sou eu. Mas estou bem assessorado por uma equipe black”, complementa, fazendo referências aos envolvidos na produção do podcast Original Spotify Mano a Mano, a exemplo da jornalista Semayat Oliveira.

O artista ainda afirma que para este desafio foi preciso “sair da zona de conforto”. Conhecido pelos seus posicionamentos firmes, ele compartilha que está aberto a novas conversas no ‘Mano a Mano’. “Há momentos que é preciso se posicionar, mas não preciso reafirmar o que for óbvio. É um diálogo, não vou ser neutro porque tem alguém com uma visão contrária à minha, mas não estou fechado para novas ideias e debates”.

Convidados

De acordo com o cantor, o programa representa não só um diálogo entre os seus pensamentos e os ideais de seus convidados, mas também um espaço aberto a aprendizados e também a questionamentos entre ambos os lados. “Essas pessoas, por mais que elas exerçam funções diferentes umas das outras, elas estão dentro do meu universo, e do universo que eu considero sendo nosso”, afirmou.

Os assuntos discutidos no podcast abrangem desde a cultura, a sociedade e o futebol, com quem Brown disse ter tido a oportunidade de conversar com ídolos de sua infância, até a religião, um dos temas que o rapper mais levantou dúvidas. Em sua conversa com o pastor Henrique Vieira, o cantor afirmou ter apresentado diferentes questionamentos: “Aonde estão os negros da Bíblia? Aonde que a Bíblia foi buscar aquelas informações, foi na África? Por que ninguém fala? Por onde andou Jesus dos 2 aos 32? Ele tava na Etiópia, ele tava na África?”.

Já a experiência com KarolConká, para ele foi um momento delicado. “As pessoas não queriam ouvi-la. Uma rejeição de 99% [no BBB 21] me interessa, talvez eu teria uma rejeição maior que a dela”, disse.”Ter uma mulher negra de frente pra mim, num momento de fragilidade, foi marcante (…) Uma mulher como minha mãe, de opinião forte. Em alguns momentos, eu a comparava com a minha mãe, esse olhar fez o diálogo fluir melhor”, explicou.

Outro entrevistado que ocupou um lugar paternal para o anfitrião do podcast foi Dráuzio Varella. “A importância dele é ter um pai que nunca tive. Ele tem muito o que ensinar, não só na saúde. Eu ficaria horas falando com ele, coisas que eu perguntaria para um pai que nunca tive, porque hoje em dia eu sou sempre o mais velho onde estou. Não tive essas pessoas para desabafar e pegar a visão”, afirmou.

Cultura hip-hop e juventude

O compositor também analisa a evolução do hip-hop no Brasil. Segundo ele, a possibilidade de músicos e produtores poderem sobreviver da própria arte é um movimento recente. Além disso, as reivindicações de artistas atuais do rap nacional não são as mesmas que antes.

“Imagina que você está no país do samba e também do agronegócio, que investe na música sertaneja e chega com uma cultura afroamericana. O negro sempre teve sua perspectiva abafada, como se fosse sem importância, dizem: ‘não, negão, sua hora não é agora. Depois você fala’. O rap não espera. Essa mulecada não espera nada, eles invadiram com talento, luta, música e views”, disse.

Por fim, Brown reitera que o intuito do podcast é também falar sobre essa juventude. “Pretendo apresentar pessoas pra esse público que ouve o rap e, no futuro, vão falar por mim, essa é a ideia”.

Por Elysia Cardoso

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