Motoboy afirma que levava mochila com dinheiro para empresa investigada na CPI da Covid
Ex-funcionário disse que nunca entregou dinheiro fora da rota do banco para a sede da empresa
Um motoboy da empresa VTC Operadora Logística (VTCLog), funcionário por mais de 20 anos, confirmou ao Estadão que sacou milhares de reais em espécie para a companhia. O nome do ex-empregado, Marcio Queiroz de Morais, consta em um relatório do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) em posse da CPI da Covid, no Senado, que investiga a empresa. O ex-funcionário afirmou que nunca entregou dinheiro fora de rota bancos-sede da empresa.
O relatório do conselho em poder da CPI mostra que Morais fez saques em dinheiro num total de R$ 450 mil. Os saques ocorreram em 2018, ano em que a VTCLog fechou contrato com o Ministério da Saúde para assumir a logística de armazenamento e distribuição de medicamentos e vacinas da pasta. O motoboy relatou ainda que sacava os valores em uma agência bancária no Aeroporto Internacional de Brasília e em um do Bradesco no Setor Comercial, e levava o dinheiro vivo para o setor financeiro da empresa. Além disso, o relatório aponta que os saques faziam parte da rotina da empresa.
No Brasil, existem iniciativas para coibir saque em dinheiro, prática muitas vezes utilizada para lavagem de dinheiro. A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado acaba de aprovar um projeto que proíbe transações com dinheiro em espécie em operações acima de R$ 10 mil, pagamento de boleto acima de R$ 5 mil, circulação de R$ 100 mil e posse acima de R$ 300 mil, salvo situações específicas.
O texto foi formulado com base nas Novas Medidas contra a Corrupção e elaboradas pela Transparência Internacional do Brasil com participação de mais de 200 especialistas e representantes de diferentes setores. Segundo a Agência Senado, o senador Flávio Arns (Podemos-PR) explica que o trânsito de dinheiro em espécie facilita a lavagem, sonegação fiscal e oportuniza ‘prática de crimes’.
Outro motoboy também fazia saques em espécie para a empresa. Na quarta-feira (25/08), o Jornal de Brasília publicou uma reportagem em que Ivanildo Gonçalves da Silva, que será ouvido pela CPI da Covid, confirma ter transportado milhões de reais para a VTCLog.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que Silva é responsável por nada menos que 5% da movimentação atípica da empresa. Na avaliação do senador, o motoboy precisa ser ouvido para elucidar melhor os esquemas da empresa.
A VTCLog entrou na mira da CPI da Covid por suspeita de irregularidades em um aditivo de R$ 18 milhões em um contrato com o Ministério da Saúde. A empresa é responsável por transporte de medicamentos e distribuição de imunizantes no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Em nota, a VTCLog afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as decisões da CPI que quebram sigilos dos seus sócios e restringiu a quebra de sigilo apenas em março deste ano. “A empresa reitera que a origem das suas receitas é comprovadamente lícita, decorrentes de serviços efetivamente prestados, citando como exemplo que é responsável pela distribuição de todas as vacinas fornecidas pelo Governo Federal”, informou a VTClog ao salientar que toda a movimentação bancária está escriturada em registros contábeis, “inexistindo quaisquer irregularidades”.
Sob a justificativa de redução de gastos, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), também alvo da CPI, decidiu desmobilizar a Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Insumo (Cenadi) e promover uma licitação para concentrar em uma única empresa a logística do Ministério da Saúde. A VTCLog assumiu o contrato com o Ministério em março de 2018, no valor de R$ 97 milhões, e é válido até 2023.