Em meio a uma crise hídrica, consumo de água cresce no país
Atualmente, o agronegócio é a atividade que mais consome água e, ao contrário da indústria, praticamente não faz reuso desse recurso.
A maior crise hídrica em nove décadas está levando empresas e órgãos governamentais a um debate há muito tempo adiado: o valor e o uso racional da água. Mudanças climáticas são apenas uma parte das respostas à queda nos volumes de vazão nas bacias hidrográficas, indicam diferentes estudos. Igual ou maior influência têm os desmatamentos, sugerem dados do Map Biomas: a bacia do Paraná perdeu 17% da mata nativa e o Cerrado ficou sem 33% de cobertura vegetal nas últimas três décadas.
Atualmente o agronegócio é a atividade que mais consome água e, ao contrário da indústria, praticamente não faz reuso desse recurso. Essa total dependência, obrigatoriamente deveria gerar maior esforço na preservação dos recursos hídricos mas, o que vemos é justamente o contrário. As atividades em si já impactam fortemente o meio ambiente, já que são necessárias grandes porções de terra, quase sem árvores, para a criação de animais no regime extensivo, quando o gado bovino é criado solto nas pastagens. Sem floresta e sem água no subsolo, a seca começa a impor uma disputa pela água que resta entre empresas de energia e o agronegócio, dependente de irrigação.
A população que está na ponta sempre acaba pagando o preço pela escassez hídrica, principalmente os mais pobres, que muitas vezes moram em locais mais afastados e que nem sempre possuem água encanada, dependendo de água de cisternas que, com muita frequência, são construídas próximas de fossas negras, tornando-as assim, contaminadas. Mesmo quando possuem rede de água, a pressão que chega é menor e os bairros costumam ficar sem água por mais tempo. Outro problema se relaciona com o custo da água, que tende a aumentar à medida que essa começa a faltar nas torneiras, impactando novamente o bolso dos mais desprovidos. De acordo com a Saneago, no momento, os mananciais de abastecimento estão com disponibilidade hídrica suficiente para assegurar a estabilidade no fornecimento de água tratada. No entanto, o período de estiagem demanda cautela e consumo consciente em Goiás.
A Saneago está presente em 226 dos 246 municípios goianos. Nos demais, o sistema de abastecimento de água é municipalizado, ou seja, é administrado pelo próprio município. Atendendo mais de 6 milhões de pessoas em todo o estado de Goiás com água tratada, sendo 1,5 milhão somente em Goiânia.
Em julho de 2021 (mês mais recente para o qual temos dados consolidados disponibilizados por meio de entrevista exclusiva com a Saneago), o volume faturado em Goiânia foi de 6.765.254 metros cúbicos de água, enquanto o volume faturado em Goiás marcou 23.367.555 metros cúbicos. Dessa forma, neste mês, por exemplo, o consumo da Capital representou 28,95% em relação ao consumo do estado. Nos dois meses anteriores – maio e junho – a média se manteve na mesma faixa: 30,28% e 29,2%, respectivamente.
No mês de julho de 2021, em Goiânia, o volume médio de água consumido por economia foi de 9,91 metros cúbicos. Já em Goiás, esse número marcou 9,33 metros cúbicos. Em junho, o mesmo dado para a Capital atingiu 10,41 metros cúbicos, ao passo que para o estado foram 9,73 metros cúbicos. Já no mês de maio, os volumes médios para Goiânia e Goiás ficaram, respectivamente, em: 10,34 e 9,33 metros cúbicos.
Ernesto Augustus Renovato Araújo é diretor financeiro do Instituto Plantadores de Água, uma organização da sociedade civil brasileira, apartidária e sem fins lucrativos que trabalha em defesa da vida. Ele explicou que grande parte das cidades, principalmente as capitais, se desenvolveram ao longo de cursos d’água. O motivo é que o ser humano utiliza água para praticamente todas suas atividades, além do que ela é essencial a nossa vida. “Infelizmente, nossa relação com a água, apesar de nossa total dependência, nunca foi das melhores. Temos sistematicamente destruído, por ignorância ou não, as nossas matas, e, para quem não sabe, as árvores, arbustos e capins nativos tem estreita ligação com a recarga do lençol freático e dos aquíferos. Também temos poluindo nossas fontes de água, com esgotos industriais ou residenciais, além de agrotóxicos oriundos da agricultura. Perdemos com isso em quantidade e qualidade, reduzindo ainda mais a disponibilidade hídrica para nosso consumo e outras atividades. Portanto, preservar a água é garantir a nossa própria sobrevivência, é permitir que continuemos desenvolvendo, é manter a população com saúde e com maior qualidade de vida”, explicou o diretor.