O Fórum Goiano Ambiental juntamente com a prefeitura da Cidade de Goiás organiza uma caminhada pelas margens do Rio Vermelho. A chamada ‘Caminhada: Cerrado agredido, caixa d’água vazia!’ irá acontecer neste sábado (11/09), dia do Cerrado, contra o desmatamento do bioma.

O Cerrado é considerado a caixa d’água do Brasil, uma vez que 8 das principais bacias hidrográficas tem nascentes no bioma. Além disso, a região contribui com a maior parte da água que alimenta as bacias do Araguaia/Tocantins, São Francisco e do Paraná/Paraguai. Dessa forma, as árvores são responsáveis por levar água para as torneiras da maioria dos brasileiros por meio das raízes profundas e bem ramificadas, que armazenam água para a estação seca. Entretanto, quando há excesso de água, o sobressalente alimenta os lençóis freáticos e aquíferos, fazendo com que a retirada de árvores gere menor armazenamento de água para o período de estiagem.

Segundo pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), nos anos de 2000 a 2015, o bioma com maior desmatamento foi o Cerrado. A região sofreu com a perda de 236 mil km2, enquanto a Amazônia, bioma duas vezes maior, perdeu 208 mil km2. Em 2020, o desmatamento foi de 7,3 mil km2, área correspondente a 13,21% a mais que o total registrado no período anterior.

Além do desmatamento, o uso desregulado e não priorizado também pode prejudicar a população. A água é usada principalmente para a produção de energia, irrigação, uso industrial e abastecimento humano e animal. Entretanto, ao contrário do que é previsto na legislação brasileira, o uso da irrigação, muitas vezes irregular, tem sido priorizado em detrimento do abastecimento humano.

O estado de Goiás é o segundo com maior área irrigada do país, com 272.330 hectares (há), representando 18,4% da agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil. Ainda segundo o levantamento do INPE, 78% da área está no bioma Cerrado, enquanto diversas cidades têm dificuldade em abastecer a população e fazer racionamento, caso de Goiânia, Anápolis e diversas outras.

Segundo a Secretaria de Estado da Fazenda (SEFAZ), em levantamento realizado em 2018, existiam mais de 3300 pivôs centrais no estado, sendo que menos de 25% tinham licenciamento ambiental. Assim, com o desmatamento, que diminui a infiltração da água e uso ilegal e irracional das nossas reservas, cada dia mais corremos o risco de não ter água para necessidades básicas, já que esta tem sido direcionada ao abastecimento do mercado internacional de soja e gado.

Rio vermelho

O Rio Vermelho não é navegável no período de estiagem em grande parte de sua extensão e ainda assim foi autorizada a retirada de milhões de litros de água para abastecimento de 26 pivôs de uma única propriedade rural. Essa retirada gera consequências até mesmo para o Rio Araguaia, o qual a cada ano seca mais e já pode ser atravessado a pé em vários trechos.

Devido a isso, o objetivo da iniciativa ‘Caminhada: Cerrado agredido, caixa d’água vazia!’ é abrir os olhos da sociedade perante o problema. O texto fala sobre a importância de ressaltar que proprietários e produtores também vão sofrer com a falta de água. “É importante dizer que mesmo os proprietários e produtores vão sofrer (alguns já sofrem, especialmente os mais pobres, que não tem dinheiro para instalar um pivô central) com a falta de água. E normalmente sofrem os pequenos agricultores e da agricultura familiar, que produzem grande parte do alimento que é consumido dentro do Brasil. Ou seja, a sociedade brasileira está perdendo quase sempre, em troca do lucro das exportações. É isso que queremos?”, ressalta.