Chapada dos Veadeiros: entenda a polêmica sobre o Projeto Gênesis
Apelidada por moradores de ‘obras faraônicas e insustentáveis’, o idealizador garante que a proposta não é apenas de construções de edificações, mas de progresso e desenvolvimento
Projetado como um grande complexo arquitetônico para o Parque Estadual Águas do Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso de Goiás, o ‘Projeto Gênesis’ está tirando o sono dos moradores e ambientalistas da região.
A proposta de ‘obras faraônicas’, como está sendo chamado o complexo, foi desenvolvida pelo Instituto Espinhaço – mesma Organização da Sociedade Civil (OSC), que fez o programa “Juntos pelo Araguaia” (que é detalhado mais adiante).
“É um verdadeiro show de horrores”, critica o vereador Marconey Correia (REDE), de Alto Paraíso de Goiás. Ele questiona como serão mantidos os prédios “se a cidade mal consegue suprir a necessidade atual de água, energia elétrica e saneamento?”.
Além disso, ele denuncia que o Governo Estadual nem chegou a fazer consulta pública à população, ao promover um evento fechado com poucos convidados.
Um comunicado que circula nas redes sociais na região chama a proposta de “megalomaníaco e de alto impacto ambiental, que demonstra o distanciamento que o governo e os empresários envolvidos têm com a tal ‘sustentabilidade’, a preservação do Cerrado e as pautas mais urgentes”.
Eles temem que a implantação do projeto atraia também para o local a especulação imobiliária. Em grupos de mensagens da cidade, o projeto já é chamado de “Cidade dos Couros”, devido as construções serem projetadas para as imediações das Cataratas dos Couros.
O ex-vereador de Alto Paraíso, João Yuji, afirma que na cidade há outras necessidades urgentes, como o fim do ‘lixão’ e instalação de um aterro sanitário, mais postos de saúde na zona rural, melhoria da infraestrutura de abastecimento de água e energia elétrica. “Precisamos de um juiz e de um promotor permanente”, aproveitou da ocasião para reivindicar.
O presidente do Instituto Espinhaço, Luiz Oliveira, em entrevista ao jornal O Hoje, disse que há um movimento “de meia dúzia de pessoas criando alvoroço na internet” sobre a proposta, que não se resume apenas às edificações, mas que tem o intuito de levar melhoria para a região, classificada como uma das mais pobres de Goiás.
“É um projeto do Governo, contribuímos voluntariamente para o seu desenvolvimento, porém sem que o Estado tenha custos para a sua implantação”, explica, acrescentando que a entidade já realiza várias ações voluntárias na região, como de saúde. Para tanto, ele citou o projeto voluntário NUPICS, voltado para a saúde das pessoas carentes; e a promoção de simpósios, dentre os quais de sustentabilidade.
Complexo
O projeto prevê construções de várias edificações como Portal Águas do Paraíso, Museu da Água, Museu do Amanhã, Domo Geodésico, Templo Ecumênico, Equilibrium – Natureza e Saúde, planetário, Centro de Referência para o Desenvolvimento Sustentável (Cerne) e até teleféricos sobre as cachoeiras da Chapada dos Veadeiros.
Para a secretária estadual do Meio Ambiente, Andrea Vulcanis, o programa levará desenvolvimento sustentável e inovação para o Nordeste goiano. “Temos uma dicotomia na região: a maior porção do Cerrado preservado em Goiás também é onde temos os menores índices de desenvolvimento humano. É muita pobreza, muita falta de oportunidade para as pessoas,” justificou.
O Governo Estadual, oficialmente, apresenta a proposta como de “desenvolvimento sustentável” e que irá “transformar” a região, que conta com 20 municípios. No lançamento, em evento fechado para autoridades e empresários, na última sexta-feira (10/09), foi informado que um grupo de 11 consultorias irão executar a proposta, com gestão compartilhada entre o Estado e a Prefeitura de Alto Paraíso. Resta saber se o projeto é realizável e será bom para a região, como se propõe.
‘Juntos pelo Araguaia’
O projeto ‘Juntos pelo Araguaia’ também faz parte do portfólio do Instituto Espinhaço. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o programa foi idealizado pela entidade, por meio de Acordo de Cooperação entre Goiás e Mato Grosso.
O ‘Juntos pelo Araguaia’ foi lançado em 05 de junho de 2019, no município de Aragarças (GO), pelo Governo Federal e pelos governos dos dois estados.
A pasta revela que o programa já conta com um aporte de R$ 43 milhões captados junto a empresas parceiras. Dentre as quais: Anglo American, que destinou R$ 7 milhões para recuperar cerca de 100 hectares em Piranhas; Hypera Pharma, que aportou R$ 11 milhões para a recuperação de 160 hectares nos municípios de Santa Rita do Araguaia e Portelândia e a Rumo Logística, operadora de logística ferroviária, que destinou R$ 24,9 milhões.
Ao todo, o projeto prevê recuperar os 2.600 quilômetros de extensão do Rio Araguaia, que passa pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. A bacia tem extensão de mais de 350 mil quilômetros quadrados. Desde que saiu do papel, o programa só avançou 2% em Goiás, dados do fim de agosto deste ano. Luiz Oliveira esclareceu que o programa é em parceira com os demais estados, como também do Tocantins e Pará.