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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Abuso Militar

O que levou uma policial militar mãe de um bebê de 2 anos a ser presa pelo próprio comandante

A soldada precisou fazer tratamento psicológico após o ocorrido e diz já se sentir adoecida pelos abusos sofridos.

Postado em 26 de setembro de 2021 por Ícaro Gonçalves
O que levou uma policial militar mãe de um bebê de 2 anos a ser presa pelo próprio comandante
A soldada precisou fazer tratamento psicológico após o ocorrido e diz já se sentir adoecida pelos abusos sofridos | Imagens: Divulgação/ Arquivo pessoal

Tatiane Alves, soldada da Polícia Militar do Estado do Maranhão, denunciou em suas redes sociais ter sido presa durante seu expediente pelo próprio comandante, por se recusar trabalhar além de seu horário de serviço. O caso ocorreu no dia 5 deste mês de setembro, quando a policial estava na equipe de patrulhamento do Batalhão de Turismo, durante um evento no Centro Histórico de São Luís.

O expediente de Tatiane naquele dia seria das 14h as 20h, e após isso, ela precisaria voltar para sua casa para amamentar seu filho de 2 anos e seis meses. Perto das 20h, ela foi ordenada a exceder o tempo de plantão. Mesmo alegando não poder ficar por estar perto do horário em que amamentaria o filho, ela acabou sendo detida pelo comandante da equipe, tenente Mário Oliveira, por desobediência. Ela filmou o momento da prisão e postou em seu Instagram.

“Meu filho tem 2 anos e seis meses. Eu trabalharia das 14h às 20h e precisava amamenta-lo. Então ele [Oliveira] disse que iria ligar para o comandante do Batalhão de Turismo e depois me deu voz de prisão em flagrante por desobediência”, contou Tatiane em entrevista.

Policiais militares do Maranhão não são obrigados a trabalhar após seu horário de expediente. Nos casos em que a presença dos militares é necessária, é feito um acordo para que, se possível, a pessoa se mantenha no posto e folgue em um outro dia. Se não se chegar a um acordo, o militar não é obrigado a fazer hora-extra. No caso de Tatiane, havia a necessidade de amamentar o filho.

Após receber voz de prisão, Tatiane ficou presa por 24h em um alojamento de policiais no Comando Geral da Polícia Militar, em São Luís. Ela só foi solta após expedição de um alvará de soltura solicitado por sua defesa.

A soldada precisou fazer tratamento psicológico após o ocorrido e diz não ter mais medo de ser exonerada da polícia por ter denunciado o caso. “O medo eu já não tenho mais. Porque não adianta a gente ficar em um ambiente de trabalho onde você adoece, e eu já adoeci. O ambiente militar é complicado, principalmente na polícia”, desabafou.

Visibilidade e denúncia aos abusos

Para denunciar este e outros casos de abuso militar, a policial decidiu criar um perfil no Instagram, o @relatosdeabusomilitar.

https://www.instagram.com/p/CTp5YFzpHOo/?utm_source=ig_web_copy_link

“Assédio na Polícia Militar eu sofro desde o curso de formação e muitos policiais sofrem assédio moral, principalmente, e abuso psicológico até o decorrer da profissão. Nenhuma situação é resolvida porque a gente se submete a aceitar para não perder o emprego”, afirma.

Procuradas para responder à denúncia, a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública optaram por adotar resposta única. Em nota, a SSP/MA diz lamentar o ocorrido e que “reforça seu comprometimento em mitigar condutas de membros da corporação, incompatíveis com os princípios profissionais e éticos que orientam as atividades do Sistema de Segurança do Maranhão”.

Disparidade entre homens e mulheres

As corporações militares no Brasil ainda são majoritariamente compostas por homens, o que reforça o ambiente de misoginia e contribui para o silenciamento dos casos de abuso de gênero.

No Brasil, cerca de 1/8 do efetivo da Polícia Militar é formado por mulheres. São 357.887 pessoas do sexo masculino (87%) ante 46.220 do sexo feminino (12%) entre praças e oficiais, segundo dados da Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública.

No estado de Goiás, dos 12.792 policiais militares na ativa, 11.589 são homens (90,5%). Apenas 1.203 são mulheres (9,5%), atuando em atividades administrativas e operacionais. Nas atividades operacionais, como o patrulhamento ostensivo, são apenas 734 policiais militares mulheres ante 9.554 homens.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) foi procurada pelo O Hoje, onde questionou-se o motivo da disparidade entre gêneros na Polícia Militar de Goiás e se existem políticas ou ações afirmativas para aumentar o ingresso de policiais mulheres na corporação. Não obtivemos resposta até a data de publicação desta reportagem. O espaço permanece em aberto.

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