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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
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Bombeiros

Fogo controlado é utilizado para prevenir queimadas no Cerrado

O objetivo é que a técnica de ‘queima prescrita’ use o fogo para a eliminação de capim seco, que vira combustível em incêndios.

Postado em 26 de abril de 2022 por Redação

Por Sabrina Vilela

O fogo geralmente é tido como o inimigo de locais voltados para a preservação ambiental, mas estudos mostram que esse elemento da natureza pode ser usado como forte aliado justamente para conter esse problema enfrentado em época de muita seca. O objetivo é que a técnica de ‘queima prescrita’ use o fogo para a eliminação de capim seco, que são os responsáveis por gerar grandes incêndios. Pesquisas ainda estão sendo realizadas sobre o fogo a fim de amenizar mais danos ambientais.  

Analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), João Morita explica como é realizada a queima prescrita. “O fogo é utilizado para consumo de combustível seco, combustível morto, vegetação morta, principalmente capim seco – que faz a propagação de grandes incêndios. O trabalho consiste em prescrever a utilização do fogo nessas áreas para a eliminação do combustível morto”.  

Embora possa parecer uma ideia controversa usar o fogo para prevenir queimadas, ainda o analista do ICMBIO conta os objetivos para essa prática. “O Cerrado e o Pantanal evoluíram com a presença do fogo, é um elemento no desenvolvimento histórico desses biomas. A gente o usa como se fosse um período natural, ao invés de cair um raio nós mesmos manejamos, nós mesmos prescrevemos para que o fogo seja utilizado nessas áreas para a eliminação de combustível seco e disponível da queima”, explica.  

João Morita afirma que com o uso do fogo houve redução de incêndios de grandes proporções em unidades de conservação federais – são parques, florestas, parques nacionais, florestas nacionais, estações ecológicas e reservas biológicas. O benefício é a conservação de biodiversidade. “A gente propicia outros nichos para que animais também possam se utilizar dessas áreas, redução de conflito, porque ainda existe a necessidade de otimização do fogo como ferramenta econômica por residentes no interior de unidades de unidades de conservação que ainda não foram indenizados”, conta.  

A utilização do fogo existe desde o período paleolítico – período da pré-história que começou há cerca de 2,5 milhões de anos -, mas em unidades de conservação federais a partir de 2013 começaram a fazer o uso do fogo para conseguir prevenir incêndios. A técnica está sendo utilizada sobretudo em locais com grande incidência de incêndios como o “Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), Parque Nacional do Araguaia (TO), Estação Ecológica da Serra girau do Tocantins” entre outros conforme exemplifica João Morita. Mas, para se ter acesso aos locais é feito um histórico para conseguir atender a demanda.  

“Primeiro é feito um planejamento que leva em consideração o histórico e os locais de ocorrência dos incêndios. É feita uma análise também sobre vegetação sensível à passagem do fogo porque nem toda vegetação suporta a passagem decorrente de fogo. O planejamento leva em conta também a melhor época do ano, que é no início ou no final das estações chuvosas”, explica.  

Quando se trata de queima de locais com biodiversidade uma das preocupações é os animais que estão em seus habitats naturais e que acabam morrendo por causa de incêndios de longa escala. Para que a fauna não seja prejudica a queima prescrita permite que eles fujam antes que o fogo se alastre. “A propagação do fogo de queima prescrita é mais lenta e a gente também não faz linhas contínuas, a gente faz como se fosse várias descargas de raios para que não se forme uma linha e deixe os animais cercados. Tecnicamente a gente consegue utilizar o fogo de forma lenta, claro que depende das condições climáticas, só usamos o fogo em condições ideais”, salienta o profissional do ICMBIO.  

A técnica não é utilizada em ambientes de maior umidade como as florestas tropicais, Mata Atlântica e a Floresta Amazônica. Por conta da região o fogo não se forma de maneira natural o que propicia danos ambientais maiores.  

Pesquisa com fogo 

Pesquisadora, Noely Vicente Ribeiro integra o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Lapig / UFG) e que está à frente do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ciência do Fogo (NEPCF). Ela conta qual a base para a pesquisa. “Atualmente desenvolvemos alguns trabalhos mais no sentido de buscar padrões de queimadas para tentar ver possíveis áreas mais suscetíveis. E com isso dar subsídio para o pessoal de campo executar os procedimentos de prevenção”. A pesquisa também também realizou a validação do mapeamento de cicatrizes de queima. 

“Temos parceria com o Prevfogo do Ibama [O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e no ano passado desenvolvemos um aplicativo para os brigadistas preencherem com todos os relatórios que eles preenchiam em papel em campo agora eles preenchem pelo celular”, informa. O aplicativo também funciona de forma off-line e todos serão enviados para a central quando tiver acesso à internet.

Período de estiagem  

No incêndio que tomou conta da Chapada dos Veadeiros no final de 2021 fez com que cerca de 28 mil hectares fossem consumidos na área. E se não fosse queima prescrita a situação poderia ter ficado ainda pior. Mas, com o período de estiagem chegando a preocupação já começa. Segundo o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo), André Amorim explica que “dentro de um padrão climatológico o período de estiagem se inicia em maio e vai até meados de outubro”.  

Para o ano de 2022, o gerente do Cimehgo salienta que “rodou o modelo matemático de previsão climática para seis meses e estima-se que pode ocorrer algumas pancadas de chuva em setembro, mas estimando o retorno da chuva por volta de outubro a princípio”. Ainda de acordo com o instituto é importante levar em consideração que esse ano terá o fenômeno La Ninã – diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Orienta -, que gera a presença de chuvas irregulares. 

“Tivemos nos últimos 02 anos a presença do fenômeno La Niña que provocou na região do cerrado chuvas irregulares sendo observado na região sudoeste de Goiás chuvas abaixo da média climatológica e na região norte e nordeste chuvas que superaram as normais climatológicas, sendo que esta ocorrência foi caracterizada como um fenômeno natural extremo pois tivemos a ocorrência de alagamento nas cidades e transbordamento de rios” explica.

A reportagem entrou em contato com a assessoria do Corpo de Bombeiros para saber mais sobre as ações contra incêndios florestais e sobre os números de registros nos últimos meses, mas até o fechamento desta edição não obtivemos resposta.

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