Frota de veículos envelhece e atinge média superior a 10 anos
Os veículos antigos têm contribuído para a poluição do meio ambiente e renovação não acontece pela baixa produção de carros novos
Com o baixo crescimento da produção de veículos devido a fatores impostos pela pandemia da Covid-19, aumento do frete e inadimplência das famílias brasileiras, a frota de veículos brasileira envelheceu. A idade média atingiu 10 anos e 3 meses em 2021 e a de motocicletas aumentou para 8 anos e 5 meses, aponta levantamento do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Goiás responde por 3,40% da frota nacional.
A pesquisa mostra que a frota brasileira prosseguiu em seu processo de envelhecimento. Em quase uma década (2013 a 2021), o envelhecimento da frota em circulação elevou-se em 1 ano e 10 meses. As possibilidades de reversão desse fenômeno dependem do aumento da taxa de crescimento das vendas de veículos novos vis a vis a taxa de sucateamento da frota existente e/ou de políticas públicas que exijam a retirada de circulação das unidades mais antigas, ou seja, de um programa de renovação de frota.
Segundo o diretor de Economia do Sindipeças, George Rugitsky, a frota brasileira tem envelhecido porque não há uma renovação com carros novos que compense a obsolescência existente. Somado a isso, a pandemia da Covid-19 resultou em um sucateamento ainda maior da frota nacional, situação que, em dimensões diferentes, também ocorre globalmente. “No caso do Brasil, essa desorganização mundial da cadeia de abastecimento vem alinhada ao que ocorre na economia local”, ressalta.
Desse modo, o diretor defende programas de inspeção veicular e de renovação da frota para uma modernização mais rápida. Caso isso não aconteça, as expectativas para este ano e o próximo são de continuidade do sucateamento. “Os veículos antigos, em geral, estão poluindo bastante, além de serem responsáveis por aumento de trânsito, acidentes e gastos com saúde”, pontua.
Mercado de veículos usados
O geógrafo especialista em mobilidade, Miguel Ângelo, do Mova-Se Fórum de Mobilidade, aponta que a comercialização de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no Brasil de janeiro a abril de 2022 recuou 22,8% no acumulado sobre o ano anterior, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Já o mercado de veículos usados continua sem apresentar nenhum tipo de avanço relacionado às vendas. “Com base nos dados divulgados pela Fenabrave, em abril deste ano houve a comercialização de 17,76% a menos do que no mês de abril de 2021, e 13,7% a menos em relação ao mês de março”, informa o especialista.
Uma revendedora de carros usados da Capital, localizada no Setor Aeroporto, sofreu diretamente com a queda nas vendas. No local, o lucro caiu em cerca de 30%. De acordo com o gerente, que prefere não se identificar, o preço dos veículos aumentaram de forma absurda e os valores foram repassados aos clientes, que estão querendo economizar. “A pandemia também foi uma época bastante difícil. As vendas neste ano também estão bem paradas”, revela.
Motos
No sentido contrário dos automóveis e comerciais leves, a venda de motos teve crescimento no primeiro quadrimestre de 2022. “Estes cenários demonstram que a solução mais viável encontrada pela maioria da população é a aquisição de motocicletas. Tal situação pode provocar uma maior degradação do trânsito com aumentos de acidentes”, sugere o geógrafo.
Diante deste cenário, o melhor é esperar e não comprar um carro. Isto porque tanto os preços dos combustíveis quanto de compra estão muito elevados, aponta Miguel. “Sendo assim, as melhores soluções são buscar diminuir a dependência do automóvel/moto e aumentar os deslocamentos à pé e bicicleta ou utilizar o transporte público que está à 3 anos com tarifa congelada em 4,30”, finaliza.
Programa de reciclagem
As discussões feita pelo governo federal, entidades setoriais e transportadores de carga para estruturar um programa de reciclagem veicular são avaliadas pelo Sindipeças como uma excelente iniciativa para avançar na modernização e redução da idade média dos veículos no país.
“Em resposta à crise econômica provocada pela pandemia, várias nações definiram programas de incentivo para a comercialização de veículos elétricos e híbridos e a exclusão daqueles movidos a gasolina e diesel”, afirma.
Apesar do avanço da imunização, a extensão da pandemia em 2021 fez emergir desafios que não estavam contemplados nas melhores análises. A recuperação em “V” no segundo semestre de 2020 alimentou expectativas de que o setor automotivo iria apresentar exuberante recuperação no ano seguinte. O mercado projetava crescimento de 25% para produção de automóveis em 2021, sendo que o ano fechou com expansão de somente 11,6%.
“O descompasso logístico global e as restrições produtivas para fornecimento de matérias-primas, commodities e componentes, principalmente, semicondutores, conjuntamente com o encarecimento dos fretes marítimos, somados a aumento das restrições nas concessões de crédito, decorrente da elevação da taxa Selic e aumento da inadimplência das famílias, entre outros fatores, frustraram o potencial produtivo e de vendas de automóveis no Brasil”, enumera o relatório do Sindipeças.
Governo anunciou programa de renovação de frota veicular
Para incentivar a retirada de circulação de caminhões que não atendam às mínimas condições técnicas e operacionais, o Governo Federal lançou, no último mês, o Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária no País, o Renovar. O objetivo é retirar de circulação veículos que não atendam aos parâmetros mínimos de segurança, emissão de poluentes e eficiência energética estabelecidos pela regulamentação nacional e internacional.
Dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) indicam que há mais de 3,5 milhões de caminhões em circulação no Brasil e, desse total, cerca de 26% possuem mais de 30 anos de fabricação. Baseado em redes de cooperação entre os setores público e privado, o Renovar é voltado a veículos de transporte rodoviário de mercadorias, ônibus, micro-ônibus e implementos rodoviários.
As iniciativas terão a adesão voluntária de pessoas que encaminham para a desmontagem ou destruição os veículos em fim de vida útil e financiadores que oferecem benefícios e vantagens aos proprietários.
Cooperação
De acordo com o governo, a proposta prevê uma iniciativa de âmbito nacional em plataforma coordenada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), além da possibilidade de realização de chamadas para seleção de outras iniciativas.
Antevê também a possibilidade de instituição, pelo Poder Executivo, de certificação, de caráter voluntário, aos veículos automotores em circulação, seus fabricantes e operadores, em razão de suas condições de segurança e de controle de emissão de poluentes.
“Todas as iniciativas do programa serão voltadas à retirada progressiva dos veículos em fim de vida útil e terão como objetivo promover o sucateamento dos veículos antigos e estimular a aquisição de substitutos mais eficientes, econômicos e seguros, gerando impactos positivos na frota circulante e contribuindo para o aumento da produtividade, da competitividade, da qualidade e da eficiência da logística no país”, informa. (Especial para O Hoje).