Após dificuldades durante a pandemia, cinemas de rua voltam a alcançar bons resultados
Depois de dois anos afetados severamente pela chegada da pandemia, cinemas voltaram a figurar como alternativa e retomaram protagonismo
O cinema surgiu no final do século XX, em 1895, com a invenção do cinematógrafo. Essa invenção chegou ao Brasil pouco tempo depois, no dia 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro. Em junho de 1936, ‘nasceu’ o primeiro cinema de rua na capital, o Cine Teatro Campinas, no bairro mais antigo da cidade. Três anos depois, em 1939, veio o segundo, Cine Santa Maria, no Centro, anteriormente conhecido como Cine Popular. Você provavelmente já deve ter ouvido seus avós, pais e até tios falando sobre os cinemas de rua, que um dia fizeram parte de Goiânia.
De acordo com o livro “Goiás no Século do Cinema”, de Beto Leão e Eduardo Benfica, nas décadas de 60 e 70 as telonas basicamente triplicaram em Goiânia. Desde então, o brasileiro criou o hábito de ir ao cinema assistir filmes estrangeiros, nacionais, filmes animados; ou seja, qualquer tipo de arte visual em movimento. Entretanto, desde sua criação as salas de cinema mudaram muito. Hoje, apenas 17% das salas de cinema do país não funcionam dentro de um shopping.
Há dois anos, o mundo parou e os cinemas fecharam suas portas. Durante a pandemia, os serviços de streaming aumentaram seus inscritos, segundo dados da NZN Intelligence, a procura por plataformas digitais cresceu notavelmente nos últimos dois anos, e mais de 34% dos 1800 entrevistados na pesquisa é assinante de mais de quatro serviços. Nesse meio tempo, a busca do ‘vintage’ – daquilo que um dia foi popular e agora é “trendy” – virou moda, principalmente com a volta dos cinemas de drive-in em 2021.
Pós-pandemia
Em entrevista ao O Hoje, o Coordenador e programador de filmes do Cine Cultura de Goiânia, Fabrício Cordeiro, conta que mesmo com o aumento dos serviços digitais, e suas diversidades, após dois anos reclusos, a população está se sentido confortável em voltar às salas de cinema.
“Certamente acho que havia uma vontade geral de voltar a frequentar não apenas salas de cinema, mas todo tipo de espetáculo coletivo, como shows de música, concertos, peças de teatro, ou seja, um retorno à normalidade cultural. É verdade que streamings dão mais opções, mas é uma experiência diferente, mais solitária e, portanto, sem o sabor de socialização e de completa imersão que uma sala de cinema cria.”, disse.
Embora a procura tenha retomado após a pandemia, os preços dos ingressos subiram junto à inflação. Desde o ano passado, analistas do mercado já previam que a inflação de 2022 seria acima do teto da meta. O Cine Ritz/Lume de Goiânia, por exemplo, em março de 2020 criava uma promoção na qual o ingresso custava oito reais para todos. Hoje em dia, as promoções seguem o preço de dez a doze reais. O Hoje reportou no começo de 2021 as dificuldades enfrentadas pelo Cine. Fundado em 1990, o Ritz promoveu uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro e manter o local em funcionamento.
Inaugurado em 1989, o Cine Cultura passou pela mesma problemática. “Assim como quase todas as salas públicas do Brasil, o Cine Cultura possui uma peculiaridade: o pagamento dos ingressos é apenas em dinheiro. Além disso, como metade da bilheteria vai para as empresas distribuidoras dos filmes, é inevitável que em algum momento os ingressos precisem sofrer reajuste, já que os custos para essas empresas e para quem produz filmes também aumentou.”, afirmou o programador de filmes.
“Em 2022 o que notamos foi um bom público em fevereiro, certamente pelo efeito da reabertura após esse longo hiato da pandemia, o que fez com que março se tornasse, até o momento, o mês de menor público. Por sua vez, o mês de abril foi certamente o melhor, já que exibimos Drive My Car, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano”, concluiu.
Mesmo com a chegada da nova variante Ômicron, filmes como ‘Homem Aranha de Volta ao Lar’ levaram os entusiastas aos cinemas. O longa bateu recordes. No Brasil, o filme atraiu mais de 4.420 milhões de pessoas, com renda acumulada de R$ 103,7 milhões. Nesse contexto, ‘blockbusters’, como os filmes de super-heróis, atraem fãs de todas as idades. O Cine Lume, por exemplo, oferece sessões em 3D e baldes de pipoca temáticos, o que demonstra a procura desse serviço cultural. Mantendo o distanciamento social e uso obrigatório de máscaras.
Público
A estudante, Vitória Sousa, em entrevista ao O Hoje, revelou que normalmente prefere frequentar os cinemas de rua de Goiânia. “Acho importante visitar lugares históricos como esses tipos de cinema. O preço pesa bastante também, os ingressos em outros cinemas são mais caros”, conta a estudante de jornalismo. Geralmente, o público que frequenta avidamente as salas é leal. Assim, ao publicar nas redes sociais, ou indicar à amigos, eles vão se popularizando.
“Por se tratar de uma sala de cinema de perfil alternativo e ser o único espaço de exibição de vários filmes mais segmentados – como filmes nacionais, europeus, asiáticos, mostras e festivais – o próprio recorte dessa programação de filmes costuma atrair um público também mais alternativo, já aberto a experiências diferentes”, reforça o coordenador do Cine Cultura.