Fome atinge mais de 33 milhões de pessoas no Brasil e iguala à década de 90, diz pesquisa
A nova edição da pesquisa mostra ainda que mais da metade da população brasileira convive com algum grau de insegurança alimentar
No Brasil, 33,1 milhões de pessoas passam fome, sendo 14 milhões a mais do que no ano passado. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, lançado nesta quarta-feira (8/6). Com esses números, a quantidade de pessoas que não tem o que comer no país voltou a patamares registrados pela última vez nos anos 1990.
A nova edição da pesquisa mostra ainda que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com algum grau de insegurança alimentar e 12% da população brasileira sentem a falta de acesso regular à água para beber e cozinhar, a chamada insegurança hídrica.
Para os especialistas que participaram do levantamento, as políticas públicas adotadas por parte do governo federal, o agravamento da crise econômica, o aumento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia contribuíram para a piora do quadro.
“Já não fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013 reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros (tirando o País do mapa da fome mundial)”, explica o coordenador da Rede Penssan, Renato Maluf.
No ano passado, o número de brasileiros que não tinham o que comer era de 19 milhões. Em 2018, eram 10 milhões.
Anos 90
Os números divulgados na pesquisa são similares aos do início da década de 90, quando o Brasil tinha 32 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.
Em um aspecto geográfico, a fome atinge as regiões do País de forma muito desigual. Em média, 15% dos brasileiros estão abaixo da linha da pobreza. O percentual, entretanto, chega a 25% e 21% no Norte e no Nordeste.
Gênero e cor
A situação é pior entre os negros e as mulheres, segundo o levantamento. Os dados mostram que 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com alguma restrição alimentar. Comparando com a primeira edição, a fome saltou de 10,4% para 18,1% dos lares comandados por pretos ou pardos.
Segundo os pesquisadores, a desigualdade salarial entre os gêneros proporcionou uma diferença expressiva na comparação entre lares chefiados por homens e por mulheres. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares em que os homens são os responsáveis, o salto foi de 7,0% para 11,9%.