Moradores da Baía Nelson Mandela na África do Sul já contam com o fim do abastecimento de água
Moradores precisam andar 1,5km para buscar água potável em torneiras comunitárias
Desde março, muitas torneiras secaram na cidade de Kwanobuhle e os moradores da região dependem de uma única torneira para abastecer suas casas. Não apenas a cidade, como muitos municípios da região de Baía Nelson Mandela na cidade de Ggeberha, dependem de um sistema de quatro barragens, que poucos meses há de secar.
Para Marris Malambile, a viagem é longa. Com um carrinho cheio de recipientes de plástico e um balde grande, ele anda a pouco menos de um quilômetro de distância para buscar água potável e saciar a sua casa. A estrada é esburacada, cheia de casas do poder público, e para trazer de volta os galões de quase 70 litros se torna ainda mais difícil.
Algumas das barragens do local, já estão sendo desativadas, por já estarem cheias de lama ou totalmente vazias. A cidade já conta com o ‘’Dia Zero”, em que as barragens e as torneiras secam e não há mais nenhuma gota de água para ser extraída.
As famílias procuram uma resposta das autoridades, mas não obtiveram retorno. A má manutenção, as bombas defeituosas, os vazamentos nos canos, agravam ainda mais a situação.
Malambile que mora com sua irmã e seus quatro filhos, também conta que grande parte da água potável que precisa chegar até a região, que sai das barragens, mas nunca chegam por conta dos vazamentos.
A falta de chuva e o agravamento das secas na África do Sul, não afetou apenas a água potável dos habitantes, mas o setor agrícola e a economia local. A falta de água não reflete apenas na bebida, no banho e na limpeza dos moradores, mas na produção de alimentos e no mercado como um todo.
O Sistema Meteorológico da África do Sul, na perspectiva Climática Sazonal, prevê precipitação de chuva abaixo do normal. Os sistemas climáticos que mesmo lentos, deveriam produzir até 50 milímetros, seguidos por tempo úmido persistente, mas não acontecem há anos.
De acordo com as autoridades da região, menos de 2% da água restante é realmente utilizável. E relatam que há quase uma década, as principais barragens de abastecimento da Baía de Nelson Mandela receberam chuvas.
Sem a previsão de chuva forte, funcionários da Baía Nelson Mandela e moradores da região, estão preocupados com o ‘‘ Dia Zero’’ que está próximo de chegar. “Eles simplesmente não têm escolha”, disse o gerente de distribuição de água do município, Joseph Tsatsire.
“Lavar vasos sanitários, cozinhar, limpar — esses são problemas que todos enfrentamos quando não há água nas torneiras, mas criar um bebê e ter que se preocupar com a água é uma história totalmente diferente’’, disse Babalwa Manyube, de 25 anos, enquanto enchia seus próprios recipientes .
Moradores aguardam resposta do governo
A falta de políticas que ajudem a minorar os problemas decorrentes da falta de água que tem assolado a Cidade do Cabo ainda pesa nas contas do Governo sul-africano. No ano passado, o orçamento do Departamento para a água e o saneamento, foi ultrapassado em 9,3 milhões de dólares devido às respostas urgentes que foram necessárias quando a seca severa entrou no terceiro ano consecutivo.
Os partidos ANC e Aliança Democrática continuam a atirar culpas mutuamente, numa altura em que o país continua a enfrentar graves problemas de desigualdade social.
“Para os orçamentos serem realocados e para que fundos [de emergência] possam ser libertados para lidar com uma crise como esta, a seca tem que ser declarada um desastre”, explicou à ABC.