Fibromialgia é mal diagnosticada, mas dor crônica atinge 37% dos brasileiros
Márcia Filomena da Conceição, de 40 anos, relata que sente dores todos os dias, afetando as atividades cotidianas
“Todos os dias eu sinto dor, alguns dias mais forte e outros dias menos.” O relato de Márcia Filomena da Conceição, de 40 anos, é o mesmo de 37% dos brasileiros que sofrem com dor crônica, conforme dados da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED). Márcia foi diagnosticada com a fibromialgia em 2015, e desde então faz tratamento na tentativa de diminuir as dores que afetam diretamente no cotidiano.
A fibromialgia é caracterizada por dor crônica generalizada, sem evidências de inflamação na região afetada, motivo que faz com que ainda seja ignorada. Portanto, um dos fatores que mais atrapalham o diagnóstico é a falta de sinais da doença, e os exames laboratoriais e de imagem afastam a suspeita de que a dor esteja associada a outras doenças que poderiam causar o mesmo efeito.
Márcia foi diagnosticada após passar um ano trabalhando sentindo dores fortes e, após fazer diversos exames, foi constatado um nódulo na medula. “Eu trabalhava em uma confecção e em 2014, o ano todo eu trabalhava cansada, com dores fortes, e todo mundo falava que era coluna. Eu fiz ressonância, tomografia, raio X, e deu um nódulo na medula. Fiz o teste do choquinho e foi diagnosticado que eu tinha infecção nos nervos. Apenas em 2015 me falaram que era fibromialgia”, conta.
Segundo a paciente, a doença afeta as tarefas do cotidiano e que quando sente dor ao dormir, já sabe que irá acordar com dor, além da mudança de clima que também contribui para as dores em todo o corpo. “Dor no corpo, na pele, no cabelo, nos dentes, nos pés, todos os dias eu sinto um pouco dessa dor, alguns dias mais forte e outros dias menos. Os dias que eu sinto mais forte, são aqueles que eu faço mais tarefa, quando, por exemplo, vou para a rua resolver algum problema, vou para alguma consulta. Quando o dia é corrido, a noite eu não durmo, ela me afeta quando me preocupo demais com as coisas”, diz.
Para tentar amenizar as dores e finalizar as tarefas, Márcia faz tratamento com psicóloga e nutricionista, além de atividades físicas estratégicas. “Desde então [o diagnóstico] eu faço tratamento para fibromialgia. Tenho dias bons e dias melhores, minha psicóloga diz para eu falar sempre assim. Tem dias que eu estou bem, faço todas as minhas tarefas de casa, no meu limite, e tem dias que eu não faço nada, não lavo nem um copo”, relata.
Além disso, o tratamento com medicação diariamente é fundamental. “Tomo remédios para dores do nervo, para depressão, que também me atacou através da fibromialgia, e para dormir”, afirma, prosseguindo dizendo que faz tratamento com relaxamento muscular e psicóloga. “Eu também faço terapia ocupacional, que trata das minhas mãos para não atrofiar e evitar problemas mais sérios no futuro”.
Sobre a nutricionista, Márcia conta que, no caso dela, comer alguns alimentos em excesso pode aumentar as dores. “Minha alimentação é balanceada porque alguns alimentos aumentam as dores, por exemplo carne, feijão e tomate, no meu caso”.
Atendimento preferencial
O governo do Estado de Goiás sancionou a lei, de autoria do Deputado Estadual Rubens Marques, que institui a Política de Atenção e Direitos ao portador de síndrome da fibromialgia e doenças reumatológicas, que inclui os pacientes no atendimento, filas e vagas preferenciais. A justificativa para a lei é a dificuldade física e biológica que os portadores das doenças enfrentam ao realizar tarefas cotidianas, como ficar longos períodos em pé, como relatou Márcia, ao afirmar que os dias que as dores são mais intensas são aqueles que precisa sair de casa.
A dor está associada a outros sintomas como fadiga, alterações do sono, distúrbios intestinais, depressão e ansiedade. “Os cérebros dessas pessoas interpretam os estímulos à dor de forma exagerada, ativando o sistema nervoso por inteiro”, explica Rubens Marques.
Para identificação dos beneficiários, o deputado apresentou, na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), um novo projeto que tem como objetivo a criação do Cadastro e Passaporte da Fibromialgia. Se aprovado, será necessária a apresentação do atestado que comprove a existência da síndrome para obter o passaporte.