Mesmo com auxílios do governo, famílias goianas passam dificuldade
O total de famílias com dívidas ficou em 29% no mês de julho, ante 28,5% em junho deste ano e 25,6% em julho de 2021
“Hoje tenho o que comer, amanhã já posso não ter.” A fala de desespero é de Natacha Stefani Lopes de Oliveira,26, que está desempregada e é mãe de Maria, 4, Cleber,2, Rosangela,1, e ainda está grávida de sete meses à espera de mais uma menininha. A preocupação de Natacha é porque ela está desempregada e o marido, Claudian Ferreira, 27, vive de bicos. Atualmente Claudian ganha diária como servente de obras.
A família consegue se manter com a ajuda do auxílio por parte do governo federal no valor de R$400. Natacha usa o valor para despesas básicas e mesmo assim ainda não é o suficiente para eles saírem do sufoco. “Além da comida, temos despesas com aluguel – que é R$500 -, energia e água”. Ela também foi aprovada recentemente no benefício “Mães de Goiás”, que também ajuda com algumas despesas.
Os três filhos de Natacha estão estudando em um Centro de Educação Infantil (Cmei) em período integral. Na instituição eles conseguem se alimentar com todas as refeições e isso deixa a mãe mais tranquila, contudo no mês de férias foi diferente. “O mês de férias foi difícil, eles ficaram 45 dias em casa, faltou comida e fralda”. Ela relata que vive também graças às doações de comida e roupas que costuma receber.
Natacha não consegue trabalhar porque está grávida e fica por conta de cuidar das crianças. Mas, antes da gestação, Oliveira fazia bicos com faxinas em residências pós obras e passava rejunte para finalizar. Além dos custos mensais, a família não possui nenhuma dívida extra. Contudo, após a gestação , Natacha está mais ansiosa de como irá lidar com o aumento de alimentação e itens para o bebê.
“Estou preocupada porque são mais despesas. Como ninguém aqui trabalha fichado, fica tudo muito incerto. Eu não tenho nada para o bebê que vai nascer, apenas algumas roupinhas que sobraram da minha filha mais nova”, desabafa. Ela conta que ainda tem muitos gastos por conta da Rosangela de apenas 1 ano e 5 meses, porque ainda necessita de amamentação e fralda. O Cleber tem 2 anos e já foi tirada a fralda dele, mas nem sempre ele consegue ir ao banheiro e acaba urinando na própria roupa.
Retorno ao mercado de trabalho
Susane Barbosa Silva, 31, também se vira como pode por não ter um emprego fixo. Ela é design de sobrancelhas e atende em casa duas vezes por semana para tentar complementar a renda junto com o auxílio que recebe para ajudar na criação da filha de 10 anos, Maielly. As despesas maiores de Susane são com alimentação. Por não ter condições de lidar com todas as contas mensais ela foi para a comunidade Emanuelle, no setor do Novo Mundo 2, porque não consegue pagar aluguel, nem água e luz.
Assim como para Natacha, Susane achou mais complicado o período de férias por não ter alimento o suficiente para dar à filha que estava em casa, visto que ela também estuda em escola durante o dia todo.
Já auxiliar de serviços gerais, Arlete Ferreira Reis,27, voltou para o mercado de trabalho há seis meses. Ela havia ficado sem emprego por conta da pandemia. Quando ela começou a receber o auxílio emergencial ela ainda estava desempregada e tinha a missão de usar o valor que na época era R$600 para sustentar os dois filhos – Arthur,2, e Ana Júlia,5. Atualmente, ela mora com os filhos, a irmã e outros quatro sobrinhos. A irmã de Arlete está sem emprego, mas também recebe o benefício mensalmente.
Apesar de Arlete ter voltado a trabalhar e ter dois benefícios, cuidar de uma família com oito pessoas não é fácil. “Está bem difícil agora que a família aumentou. Tem que pagar água, energia, aluguel e gás. As contas estão atrasadas, mas a gente vai se virando como pode”. A família de Reis faz de tudo para cortar gastos, no entanto, apenas com alimentação gastam R$800.
“Quando recebemos alguma doação economiza mais. Tem mês que pagamos uma conta e deixamos outra para o mês seguinte. Durante a pandemia ficamos um tempo sem água e luz, porque tivemos que priorizar a alimentação. Estamos nos reerguendo agora”, relata. Arlete enfrenta dificuldade com o retorno das aulas das crianças, em razão da falta de materiais escolares, roupas e calçados para os filhos e sobrinhos.
Cozinheira, Maria Solimar, 34, também ficou desempregada durante as restrições impostas pela pandemia e conseguiu voltar para a área há duas semanas. Ela afirma que o auxílio ajudou ela demais durante o período de desemprego. Ela mora apenas com os filhos Francisco,13, e Flávio,12. Apesar de estar empregada agora, ela ainda diminui gastos com água e luz.
Solimar pensa em tentar conseguir um empréstimo para comprar roupas e materiais escolares para os filhos. “Está dando para viver apesar de estar tudo caro. Os meninos estão sem roupas e voltaram para a escola com os materiais antigos porque não consegui comprar agora”, comenta.