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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Alerta

Caso de poliomielite é investigado 33 anos após erradicação

Apenas 46% das crianças foram vacinadas em Goiás enquanto meta é de 95%

Postado em 7 de outubro de 2022 por Redação

Por: Vinícius Marques

A Secretária de Estado da Saúde do Pará (Sespa) investiga um caso suspeito de poliomielite em uma criança de três anos. Segundo informações do documento de Comunicação de Risco emitido pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde – CIEVS/SESPA, uma criança de três anos com paralisia testou positivo para poliovírus (SABIN LIKE 3), através da metodologia de isolamento viral em fezes.

Apesar do resultado, o documento afirmava que “outras hipóteses diagnósticas não foram descartadas, como Síndrome de Guillain Barré, portanto o caso seguia em investigação conforme o que é preconizado no Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde”.

Esquema vacinal

O esquema inicial de vacinação contra a paralisia infantil consiste na aplicação de três doses da Vacina Inativada Poliomielite (VIP) tomadas até os 6 meses de idade. Crianças de um a quatro anos devem tomar uma dose da Vacina Oral Poliomielite (VOP) desde que já tenham recebido as três do esquema básico. A vigilância epidemiológica do município de Santo Antônio do Tauá, no interior do estado do Pará, visitou a família da criança e notificou o caso como Paralisia Flácida Aguda (PFA).

No entanto, ao analisar o histórico vacinal da criança, foi identificado que o esquema vacinal dela estava incompleto e que ela não havia recebido as doses VIP previamente. Além disso, ao analisar a carteira de vacinação, a criança possuía duas doses de VOP, o que está em desacordo com as normas do Programa Nacional de Imunização (PNI).

Sem as doses há chance do vírus infectar de diferentes formas como a infecção por poliovírus selvagem; infecção por poliovírus reativado após transmissão em outros não-vacinados e infecção por exposição à vacina de vírus atenuado (VOP).

A coleta de fezes foi realizada no dia 16 de setembro e encaminhada ao Laboratório de Referência do Instituto Evandro Chagas. O laudo, com o resultado positivo para Sabin Like 3 foi emitido na última terça-feira (4).

Em conversa com o médico infectologista Dr. Marcelo Daher, o mesmo afirma que em um esquema vacinal com baixa adesão – como o caso em Goiás – é necessário rever a estratégia de atuação dos agentes públicos de saúde. “O esquema vacinal está baixo porque a estratégia está errada, é necessário levar a vacina às pessoas, não esperar que o paciente venha até você”, argumenta Dr. Marcelo. 

O médico ressalta que se as pessoas não se vacinam, o risco da doença voltar é extremamente alto, principalmente em regiões onde o sistema de tratamento de esgoto é precário, como é o caso do Pará. “O caso da criança que poderia ter sido infectada, nos leva a um estado preocupante, principalmente pela falta de saneamento básico em várias cidades do Pará. Com poucas pessoas vacinadas e com casos surgindo pelo mundo, como aconteceu em Israel e Nova York, as chances da doença reaparecer no Brasil, são muito grandes”, conclui o infectologista.

33 anos da erradicação

O Brasil não detecta casos de poliomielite desde 1989 e, em 1994, recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem, em conjunto com todo o continente americano. 

A vitória global sobre a doença com a vacinação fez com que o número de casos em todo o mundo fosse reduzido de 350 mil, em 1988, para 29, em 2018, segundo a Organização Mundial da Saúde. O poliovírus selvagem circula hoje de forma endêmica apenas em áreas restritas da Ásia Central, enquanto, em 1988, havia uma crise sanitária internacional com 125 países endêmicos.

A queda das coberturas vacinais no continente americano, porém, fez a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) listar o Brasil e mais sete países da América Latina como áreas de alto risco para a volta da doença. O alerta ocorre em um ano em que o Malawi, na África, voltou a registrar um caso de poliovírus selvagem, e a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, notificou um caso de poliomielite com paralisia em um adulto que não teria viajado para o exterior. 

Apenas 30% das crianças goianas foram vacinadas

Dados da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES-GO), revelam que apenas 30,32% da meta de vacinação foi atingida. Com um total de 282.633 crianças ainda não vacinadas em todo o estado. São dados parciais, obtidos em 12 de setembro deste ano.

De acordo com a Superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim, a meta de 95% nas campanhas de vacinação infantil, não tem sido atingida, estando com uma média de 46% atualmente. Os dados mostram como a sociedade não tem se atentado para a prevenção de doenças que já foram erradicadas.

Amorim explica que tem feito campanhas e parcerias com as administrações municipais em todo estado, visando um maior engajamento na vacinação das crianças. “Desde 2016, a adesão às campanhas de vacinação tem caído muito e estamos trabalhando para mostrar como a sociedade tem o dever de se cuidar, a fim de evitar que doenças já erradicadas voltem a atingir a população”, explica.

Fake News

“O excesso de ‘Fake News’ durante o período da pandemia de COVID-19, afetou muito o entendimento da população em torno da vacinação, não só em Goiás, mas no país e em todo o mundo. Doenças já erradicadas como a meningite, tem reaparecido, o que causa muita preocupação”, completa Fluvia.

“Campanhas publicitárias têm sido preparadas no estado, assim como parcerias com as prefeituras, através de intervenções em CMEI’s, escolas infantis e grupos de enfermagem, para que se cumpra a meta de vacinação e possamos não estar em risco”, explica a superintendente que conta com o apoio da imprensa e de toda a sociedade para que possamos nos manter seguros como sociedade.

6 anos sem atingir metas

A vacinação infantil em Goiás tem patinado nos últimos seis anos. As principais vacinas como a da poliomielite, tetra viral, tríplice viral, febre amarela, rotavírus estão desde 2016, pelo menos, sem atingir o quantitativo mínimo ideal segundo dados coletados pela reportagem do O Hoje.

A baixa cobertura da imunização infantil, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), demonstra redução desde 2012. Para a secretaria, existem diversos fatores  para a queda, citando a percepção de segurança devido ao desaparecimento de doenças imunopreveníveis, compartilhamento de notícias falsas referentes às vacinas e a dificuldade de acesso da população às salas de vacina.

Um dos principais focos da campanha é a vacinação contra a poliomielite. Em Goiás, cerca de 69% das crianças até 2 anos de idade foram imunizadas. A meta é vacinar pelo menos 95% desta população. A tetra viral é a que apresenta a menor incidência de cobertura, com apenas 18,77% de vacinados.

Poliomielite

A poliomielite ou pólio é uma doença contagiosa aguda causada por um vírus que vive no intestino, chamado poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas. Pode provocar ou não paralisia. 

Nos casos graves, em que há paralisias musculares, os membros inferiores são os mais atingidos. A falta de saneamento, as más condições habitacionais e a higiene pessoal precária constituem fatores que favorecem a transmissão do poliovírus. A doença não tem cura. (Especial para O Hoje)

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