“Taxar grandes fortunas não é tão fácil”, diz Paulo Tafner
Paulo Tafner foi entrevistado no Programa Face do Poder
O Programa Face do Poder, do grupo O HOJE, recebeu o pesquisador e economista Paulo Tafner para um bate-papo sobre aspectos importantes da economia brasileira. O estudioso, conhecido por seu trabalho voltado à macroeconomia, comentou as escolhas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para cargos estratégicos, bem como a possibilidade de reformas significativas para o dia a dia dos brasileiros.
Um dos pontos comentados pelo economista passa, inclusive, pela possibilidade de uma nova Reforma Tributária no País. Questionado pelo jornalista Wilson Silvestre sobre o assunto, disparou: “acredito que há possibilidade de aprovação de mudanças tributárias. O projeto do Bernad App, pode ser modificado aqui ou ali, é uma parte da Reforma Tributária. Em si, ela não é toda a Reforma. Mas é um passo importante”.
Em outro trecho, o economista ainda acrescentou que diante da perda de receita sobre combustíveis, os novos integrantes do governo se encontram em uma situação “um pouco diferente da que estavam um ano atrás”. “Eles vão exigir compensações adicionais para uma Reforma Tributária. Isso pode complicar um pouco sua aprovação, porque a União, hoje, não tem recursos para fazer compensação ampla dessa perda de arrecadação. Vai ter que ser uma negociação delicada, muito hábil, cedendo nas coisas que serão possíveis ceder e enfrentando os obstáculos que têm pela frente. Tenho a impressão de que essa reforma, eventualmente, possa ser feita”, disse o pesquisador que lembrou que há um “clamor social” sobre o assunto.
Tafner ainda chamou atenção para o discurso de que ‘basta taxar as grandes fortunas’ para se resolver de uma vez por todas os problemas do País. “Não é fácil taxar as grandes fortunas e o volume que pode ser obtido com isso é muito pequeno. Então, se caminharmos nessa linha, será um fracasso. Acho que tem que ser muito pragmático, que a gente entenda muito bem o sistema tributário nacional, os problemas, as dificuldades e obviamente as vicissitudes que vão ser enfrentadas, porque tem que atender não apenas as 27 unidades da Federação, mas também os municípios”.
Para ele, há que se ter cuidado. “Uma perspectiva de compensações para que a gente possa fazer essa Reforma, que vai dar mais eficiência para o sistema produtivo. Vai permitir maior crescimento da economia, vai desonerar os empresários, e digo isso não apenas na questão tributária, porque ela vai ser neutra, mas vai desonerar em termos de simplificação de tributo. Que representa um custo alto. Empresas precisam ter departamentos inteiros para cuidar de imposto municipal, estadual, federal; as obrigações acessórias ligadas a cada imposto. Então é tudo muito trabalhoso. Tem que ser cuidadosa e delicada essa operação, mas vejo com bons olhos”.
Sobre a queda de braço travada no alto escalão da política brasileira para furar o teto de gastos, o especialista explicou que doutrinariamente não é bom furar o teto. “Os governos têm que gastar de acordo com a sua receita. E não o contrário. Um bom exemplo é o estado de Goiás, que foi muito bem administrado pela secretária Cristiane Schmidt, com o governador Ronaldo Caiado. Eles tiveram uma gestão fiscal muito responsável e colheram os frutos na área social. Da mesma forma a União”.
Para ele, é preciso muito cuidado, haja vista que o País atravessou uma pandemia. “Estamos retomando as atividades, enfim, para enfrentar adequadamente o combate à pobreza. Nós temos que ter sensibilidade em relação a isso, sem extrapolar o limite da responsabilidade. Precisa ter um limite moderado e um tempo bastante limitado, talvez de um ano, e depois o novo governo ajusta as suas contas, seus orçamentos, e delibera sobre onde cortar para dedicar recursos para a área social.