Armazenamento de grãos preocupa produtores Brasil afora
Desafio é que governo federal libere recursos do Plano Safra para construção de unidades armazenadoras
O Brasil caminha para se tornar o maior produtor de grãos do mundo, mas existe um problema até lá que preocupa o setor: a falta de lugar para o armazenamento da produção. O assunto vem à tona sobretudo porque é esperado para a próxima safra um recorde.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um déficit de 100 milhões de toneladas em 2023. Para ficar mais claro: simplesmente não há onde guardar todo esse grão.
No Brasil, segundo estimativas, há uma estrutura de armazenamento em torno de 67% da produção. Dez anos atrás, no entanto, essa porcentagem era 3% maior. Sem condições de financiamento, muitos produtores não têm como construir novos silos.
Com isso, a expectativa do agronegócio é que a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contribua para que o Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) financie para o setor diminuir esse déficit no armazenamento.
Engenheiro Agrônomo, Comentarista da Band News FM Goiânia, Consultor de mercados milho e soja, Palestrante, Presidente da APMP, Sócio Pro da Terra Agronegócios.
O problema de armazenagem, no entanto, ocorre desde a década de 1970 e é uma demanda do agronegócio em todos os governos desde lá. É o que lembra o engenheiro agrônomo Enio Ernandes. Expert no assunto, ele é consultor de mercados de milho e soja, presidente da Associação dos Produtores de Matérias-Primas (APMP), Enio explica que o que diminui o problema é o modelo de exportação.
“Conseguimos exportar soja, milho e açúcar tudo no mesmo momento”, exemplifica. “Em agosto fazemos a exportação desses três grãos. O problema no Brasil é que o custo operacional é muito maior do que o americano, do argentino”. Ele ainda comenta sobre o fato de o setor brasileiro ter uma menor competitividade, o que tira a renda do produtor.
“Tirando a renda do produtor, tira a renda da sociedade brasileira. O produtor ganha dinheiro compra aqui, consome ali, ele gera imposto e desenvolvimento. Os produtores têm investido maciçamente em armazenagem imprópria, mesmo assim é ineficiente para reter toda a safra. O ideal é a gente ter a capacidade de guardar 150% do que se produz. Alguns países têm capacidade de guardar 200%”. Com isso, é possível carregar o estoque de uma safra para a seguinte.
Enio elenca os desafios dos produtores: “Além do problema da armazenagem, tem o problema do custo da logística, o que tira renda do campo”. Por outro lado, diz ele, o produtor está “relativamente” acostumado com esses perrengues. “O Brasil está se tornando o maior exportador de milho do mundo, já é o maior exportador de soja, além de vários outros produtos agrícolas”.
Para ele, vai chegar o momento em que a capacidade de exportação não vai suportar. “E nós vamos começar a estrangular o potencial de crescimento do Brasil. Regiões que poderiam crescer não vão conseguir porque nós não nos preparamos”, diz e acrescenta: “Essa não é uma questão desse governo ou do governo anterior, mas omissão de vários governos”.
O assessor do técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Leonardo Machado, ressalta que cabe ao governo aumentar a distribuição de recursos por meio do Plano Safra. “O Governo Federal tem um programa exclusivo para a construção de armazéns, que é o PCA. Grande parte dos recursos para este programa são oriundos do BNDES”.
Ele lembra que os produtores se preocupam com a retirada de recursos do crédito rural porque o valor sai do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns. “Com isso, é impedido o avanço da linha de crédito. Conforme estava planejado no Plano Safra, a gente tinha 3,4 bilhões de reais para serem aplicados no PCA, só que foram aplicadas até agora apenas 1,8 bilhões de recursos, ou seja, 51%. O governo deve aumentar este recurso e produtor construir sua própria unidade armazenadora”.