Celebrando 20 anos de visibilidade trans e reivindicando direitos
A primeira edição da marcha reúne trans e travestis em Brasília para marcar o Dia da Visibilidade Trans
No próximo domingo (28), Brasília será palco da primeira edição da Marsha Trans Brasil, uma marcha que reúne pessoas trans e travestis de todo o país para celebrar os 20 anos do Dia da Visibilidade Trans e reivindicar seus direitos. A concentração será às 13h, em frente ao Congresso Nacional, e a passeata seguirá até o Museu Nacional da República.
A Marsha Trans é uma iniciativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), que conta com o apoio do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade e mais de 40 instituições, que juntas, pretendem mobilizar a maior ocupação feita por pessoas trans e travestis já feita no Brasil. A marcha tem como madrinhas Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), primeiras deputadas federais trans do Brasil, que estarão presentes no ato.
O nome da marcha é uma homenagem à ativista trans e artista estadunidense Marsha P. Johnson, ícone do movimento pelos direitos LGBTQIAP+. Marsha foi uma das protagonistas da revolta de Stonewall, em 1969, que se tornou um marco histórico da luta pela liberdade e pela igualdade da comunidade LGBT+ nos Estados Unidos e no mundo.
A Marsha Trans tem como objetivo celebrar a data comemorada anualmente no dia 29 de janeiro, data que marca o lançamento da primeira campanha pelos direitos trans e travestis no Brasil, intitulada ‘Travestis e Respeito’, em 2004. A campanha foi resultado da atuação da Antra junto ao Ministério da Saúde, que reconheceu a importância de garantir o acesso à saúde pública e à cidadania para essa população.
“Nossa busca é por um futuro cada vez mais possível, onde a visibilidade trans não seja apenas um lembrete anual, mas uma realidade diária”, afirma Bruna Benevides, secretária de articulação política da Antra. Ela destaca que a marcha também é um espaço de resistência e de denúncia das violências e das discriminações que as pessoas trans e travestis sofrem cotidianamente no Brasil, país que lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis, segundo a ONG Transgender Europe.
Entre as principais pautas que serão cobradas na Marsha Trans estão o direito à educação, saúde pública, segurança, memória e acesso à Justiça, além da luta contra o novo RG, que mantém o ‘nome morto’ junto ao nome social e incluiu o campo ‘sexo’. Além disso, o movimento cobra cotas para pessoas transsexuais e travestis em universidades e em concursos públicos, como forma de promover a inclusão social e a diversidade.
Pelas redes sociais, Erika Hilton publicou um vídeo com o convite para a marcha. “Recebo com alegria esse convite e venho aqui convidar vocês, aliados, pessoas trans, travestis, transvestigêneros, para se juntar a essa importante iniciativa que celebra os 20 anos de visibilidade, mas também demarca os avanços que tivemos até aqui e os avanços que ainda precisamos construir para uma sociedade melhor, justa e equânime para todos nós. Por isso ocuparemos as ruas, assim como ocupamos durante todo o ano, ocuparemos no dia 28, para lembrar de nossas lutas, para lembrar de nossas vozes, e pra lembrar que nossa resistência está mais firme do que nunca”, disse Erika.
A Marsha Trans espera contar com a participação de milhares de pessoas, que virão de caravanas de todos os pontos do país. O evento será um momento de celebração, de afirmação e de reivindicação da dignidade e da cidadania das pessoas trans e travestis no Brasil.
MDHC celebra 20 anos de visibilidade trans no Brasil com campanha nacional
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) lançou na última quarta-feira (24) a campanha ‘Os 20 anos da visibilidade trans no Brasil’, em alusão ao Dia Nacional da Visibilidade Trans. A campanha tem como objetivo reconhecer as conquistas e os desafios da comunidade trans no país, além de promover o respeito e a inclusão das pessoas transgênero na sociedade.
Segundo o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, a campanha é uma forma de valorizar a diversidade e a cidadania das pessoas trans. “Nós queremos celebrar as conquistas que foram alcançadas nesses 20 anos, mas também reconhecer os desafios que ainda persistem. A nossa campanha é uma mensagem de esperança, de que é possível construir uma sociedade mais justa e igualitária para todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero”, afirmou.
A campanha conta com a parceria de outros ministérios, como o da Saúde e o das Mulheres, além da Secretaria-Geral da Presidência da República e do Unaids, o programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids. A programação inclui ações digitais, como vídeos, podcasts e webinários, eventos presenciais, como seminários, exposições e rodas de conversa, divulgação de estudos e pesquisas sobre a realidade das pessoas trans no Brasil e a participação do ministro Silvio Almeida em uma sessão solene na Câmara dos Deputados, no dia 29 de janeiro.
Apesar dos avanços nos direitos das pessoas trans no Brasil, como o reconhecimento do uso do nome social, a oferta de cirurgia de redesignação sexual pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a possibilidade de requalificação civil, a realidade ainda mostra um cenário de violência e discriminação contra essa população. De acordo com o Dossiê Anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2022 foram registradas 151 mortes e 142 violações de direitos humanos de pessoas trans no Brasil, colocando o país como o líder mundial em assassinatos de pessoas trans.
Para combater essa situação, o governo federal disponibiliza o Disque 100, um canal de denúncia de violações de direitos humanos, que funciona diariamente, 24 horas por dia. A campanha do MDHC incentiva as pessoas a utilizarem esse serviço, bem como a se engajarem na defesa dos direitos das pessoas trans. “Nós precisamos de uma mobilização social para garantir que as pessoas trans sejam respeitadas, protegidas e incluídas em todos os espaços da sociedade. A visibilidade trans é uma forma de afirmar a existência e a dignidade dessas pessoas, que merecem viver livres de preconceito e violência”, concluiu o ministro Silvio Almeida.