General alvo de operação da PF era temido por desejo de concentrar poder excessivo
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira teria se reunido com Bolsonaro no Palácio do Alvorada e, de acordo com diálogos encontrados no celular de outro envolvido, teria consentido com a adesão ao golpe de Estado
A Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação na manhã desta quinta-feira (8), mirando militares de alto escalão do Exército ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre os alvos da ação está o general de quatro estrelas Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, que é acusado de tentar instigar um golpe interno na instituição, buscando assumir o comando das organizações militares de elite. Theophilo, que ocupava o posto de comandante de Operações Terrestres do Exército (Coter), é apontado como peça-chave em um suposto plano para desestabilizar o Estado Democrático de Direito.
Segundo informações divulgadas pela Polícia Federal ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, Theophilo teria se reunido com Bolsonaro no Palácio do Alvorada e, de acordo com diálogos encontrados no celular de outro envolvido, teria consentido com a adesão ao golpe de Estado, desde que o presidente assinasse a medida. Os indícios apontam que, caso a medida de intervenção se concretizasse, caberia às Forças Especiais do Exército a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
Antes da operação, Theophilo teria sugerido a criação de um comando multidomínio para ter as forças de elite do Exército sob a alçada de apenas um general: ele próprio. No entanto, essa proposta gerou desconfiança no Alto Comando, pois concentraria poder excessivo nas mãos de uma única pessoa.
Foto: Divulgação/ PF
Theophilo chegou a ser cogitado para assumir o Comando do Exército em novembro de 2022, quando os militares avaliavam quem assumiria o posto no governo Lula. No entanto, o militar não chegou a ocupar essa posição. Natural de Fortaleza, ele possui uma extensa trajetória militar, incluindo o comando da 10ª Região Militar (10ª RM) na capital cearense, bem como o posto máximo no Comando de Operações Terrestres do Exército.
Segundo relatos obtidos pela Polícia Federal através de delação premiada, Theophilo teria prometido a Bolsonaro que a tropa estaria pronta para apoiar um golpe de Estado. Mensagens apresentadas pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e registros de reuniões corroboram essa versão.
A família Theophilo tem uma longa tradição militar, remontando aos tempos do Brasil Império. Seu irmão, o também general Guilherme Theophilo, foi candidato ao governo do Ceará pelo PSDB em 2018 e atualmente comanda o partido Novo em Fortaleza.
A operação da Polícia Federal, denominada Tempus Veritatis, estão sendo cumpridos 30 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão em diversos estados do país. O objetivo é desmantelar uma organização criminosa que teria tramado um golpe de Estado para manter o então presidente Bolsonaro no poder.
Os mandados foram expedidos pelo STF e abrange os estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Nota da PF na íntegra:
“A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (8/2) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.
Estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas. Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.
O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal.
Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.”