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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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Exploração infantil

O que está acontecendo na ilha do Marajó?

As acusações de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó voltaram à tona após denúncia de cantora em reality show gospel

Postado em 22 de fevereiro de 2024 por Tathyane Melo
As acusações de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó voltaram à tona após denúncia de cantora em reality show gospel | Foto: Reprodução/ Youtube

Após a cantora paraense Aymeê denunciar a situação de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó (PA), durante sua participação em um reality show gospel, as acusações ganharam destaque novamente nas redes sociais e na mídia. Aymeê emocionou os jurados do programa ‘Dom Reality’, transmitido no YouTube, ao interpretar uma música autoral que aborda a triste realidade enfrentada pelas crianças na região.

A apresentação da cantora, que ocorreu na última sexta-feira (16), revisitou uma dura realidade que assola a Ilha de Marajó, localizada no Pará. A letra da música ‘Evangelho de fariseus’ cantada por Aymeê trazia versos que denunciavam a exploração sexual de crianças na região, despertando a atenção dos espectadores e gerando comoção entre os jurados do programa.

“Enquanto isso no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara”, canta Aymeê em um dos trechos.

Segundo Aymeê, Marajó é uma ilha turística situada a poucos minutos de Belém, caracterizada por uma triste realidade de tráfico de órgãos e pedofilia. 

“Lá é normal isso. Tem pedofilia em nível hard. As crianças de 5 anos, quando veem um barco vindo de fora com turistas (a jovem faz uma interrupção)… Marajó é muito turístico, e as famílias lá são muito carentes. As criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5″, relatou Aymeé após apresentar a canção autoral.

Denúncias foram feitas ao longo dos anos

Entretanto, não é a primeira vez que denúncias de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó vêm à tona. Em 2006, o bispo emérito de Marajó, Monsenhor Dom José Luiz Azcona, apresentou formalmente denúncias ao governo federal e à Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial na Câmara dos Deputados sobre casos de exploração sexual de adolescentes no município de Portel, também localizado na Ilha de Marajó. 

Logo em seguida, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados abriu uma investigação para apurar o assunto, revelando o envolvimento de políticos locais e aliciadores que levavam crianças para se prostituírem em outras regiões. 

A pobreza e a miséria que assolam muitos municípios da região contribuem diretamente para a vulnerabilidade das crianças e adolescentes, tornando-as alvos fáceis para os criminosos. Essa realidade é ainda mais alarmante considerando que o arquipélago do Marajó abriga o município de Melgaço (PA), que detém o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Com pouco mais de 26 mil habitantes, Melgaço registra um índice de 0,418, de acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) de 2013. Para efeito de comparação, o município de São Caetano do Sul (SP), na melhor posição, apresenta um IDH de 0,862, o dobro do registrado em Melgaço.

No ano de 2020, a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos-DF), também chamou a atenção para a situação durante um culto evangélico na capital do Estado de Goiás, Goiânia. No entanto, suas declarações geraram polêmica e controvérsia, com autoridades do Pará questionando a veracidade das informações apresentadas. 

Na ocasião, Damares não apresentou provas concretas para sustentar suas afirmações, alegando que as informações eram embasadas em relatos que havia ouvido informalmente. Tal posicionamento levou o Ministério Público Federal (MPF) a considerar suas declarações como propagação de fake news, causando danos sociais e morais coletivos à população do arquipélago. Diante disso, o órgão solicitou uma retratação pública e uma indenização no valor de R$ 5 milhões por parte da então ministra.

Repercussão na mídias

Apesar disso, o tema voltou a ganhar visibilidade nas redes sociais após a apresentação da cantora no reality show gospel.

Famosos como as ex-BBBs Juliette e Rafa Kalimann têm utilizado suas plataformas para replicar as denúncias e pedir que as autoridades ajam diante dessa grave violação dos direitos humanos. A repercussão do caso nas redes sociais tem impulsionado uma campanha em prol da justiça para as vítimas de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó.

“É nosso dever, enquanto pessoas públicas, tornar esse caso ainda mais conhecido pelas pessoas. É nosso dever como cidadãos apontar o dedo e dar voz a uma causa tão absurda que pessoas em condições precárias estão passando”, afirmou Rafa Kalimann, por meio de publicação no Instagram.

Juliette também se manifestou em por meio de um vídeo nos Stories do Instagram. “Clamamos aos políticos, autoridades e órgãos públicos ações e respostas. Aymeê, sua voz ecoou. Nós estamos juntos. Justiça por Marajó”, escreveu a cantora e ex-BBB.

Tentativas de proteção

Atualmente, o governo federal junto ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mantém o Programa Cidadania Marajó, que visa enfrentar a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes na região.

A iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promove atividades de escuta, atendimento à população e diagnóstico para execução do acordo de respostas socioambientais à região. Além disso, o programa conta com a Ouvidoria Disque Direitos Humanos (Disque 100) como canal de denúncia de violações dos direitos humanos.

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