Bares e restaurantes: imposto seletivo é ameaça a setor fragilizado
Pesquisa da Abrasel mostra que taxa sobre bebidas açucaradas pode agravar situação de empresas endividadas e com margens de lucro reduzidas
Uma pesquisa da Abrasel, realizada com 2.416 empreendedores, mostra que os bares e restaurantes ainda enfrentam significativos desafios financeiros. Mais de dois terços (64%) dos negócios não obtiveram lucro em maio: 25% registraram prejuízo e 39% ficaram em equilíbrio. Apenas 36% conseguiram lucrar.
Os estabelecimentos enfrentam um cenário desafiador, com margens de lucro cada vez mais apertadas. Dados de inflação mostram que os principais insumos, alimentos e bebidas subiram 4,2% neste ano, enquanto a inflação no setor foi de apenas 1,99%. De acordo com o estudo realizado pela Abrasel, 39% dos estabelecimentos não estão conseguindo reajustar os preços conforme a inflação.
Esse resultado negativo vem em um momento crítico, em que se discute a regulamentação da reforma tributária, incluindo a adoção de alíquotas mais altas para produtos muito consumidos em bares e restaurantes, como as bebidas adoçadas. O presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, considera que a medida causará impactos graves para um setor já fragilizado. “O imposto seletivo sobre bebidas açucaradas pode ser um golpe duro para o setor. Nossos estabelecimentos já estão lutando para manter os preços acessíveis aos consumidores e aumentar essa carga tributária só irá agravar a situação”, afirma.
Ainda de acordo com Solmucci, além de prejudicial, a medida proposta na regulamentação da reforma é incoerente. “Essa taxação sobre as bebidas açucaradas é completamente incompreensível. O açúcar, quando vendido como parte da cesta básica, é considerado essencial e, por isso, não é taxado. Contudo, quando utilizado em bebidas, passa a ser tratado como um vilão”, completou.
Dívidas em atraso
Entre os desafios econômicos enfrentados pelo setor, destaca-se também o alto número de empresas endividadas. De acordo com a pesquisa da Abrasel, 39% dos negócios têm dívidas em atraso. Desses, 69% devem impostos federais, como parcelas do Simples e imposto de renda, 48% devem impostos estaduais, 39% têm parcelas de empréstimos em atraso e 29% devem encargos trabalhistas.
Paulo Solmucci enfatizou a gravidade da situação. “A inadimplência não afeta apenas o nosso setor, mas também impacta negativamente toda a economia do país. Precisamos de medidas que incentivem a recuperação e não que penalizem ainda mais quem já está fragilizado”, conclui.