Lula se posiciona e pressiona Maduro na Venezuela
Presidente Nicolás Maduro não poupa nem Lula, um aliado histórico da esquerda venezuelana
Yago Sales
Este final de semana a Venezuela, país que faz fronteira com o Brasil nos estados Amazonas e Roraima, vai às urnas, quase que como um plebiscito, pela permanência, ou não, do atual presidente Nicolás Maduro.
A eleição ocorre exatamente neste domingo, dia 28, em meio à desconfiança, ironia, narrativas e, o que mais impressionou analistas da política nacional: críticas entre dois aliados históricos: Maduro e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Maduro, desconfiado de que seu plano de permanecer no poder – ao qual é qualificado como ditadura latina -, chegou a soltar uma pérola ameaçadora, ao falar sobre possível derrota: citou “banho de sangue”.
Lula não esperou a enxurrada de críticas da direita brasileira e respondeu, num tom que quase nunca – ou nunca mesmo? – usou com o aliado. “Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que, se ele perder as eleições, vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”, afirmou Lula, segundo a agência Reuters.
“Eu já falei para o Maduro duas vezes, e o Maduro sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo”, afirmou o presidente às agências.
“Se o Maduro quiser contribuir para resolver a volta do crescimento na Venezuela, a volta das pessoas que saíram da Venezuela e estabelecer um Estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático”, completou Lula.
Maduro não gostou nada do posicionamento e, num ataque, sem medir consequências, colocou, ao estilo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a confiabilidade das urnas em xeque.
Maduro atacou, sem provas, o sistema de votação brasileiro em um comício da campanha à terceira reeleição, no estado de Carabobo, na terça-feira. “No Brasil nem um único boletim de urna é auditado. Temos o melhor sistema eleitoral do mundo, temos 16 auditorias. Em que outra parte do mundo se faz isso?”, disse, causando irritação em Lula e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE.
O TSE reagiu: “ Justiça Eleitoral brasileira não admite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil”.
O assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, embarcou nesta sexta-feira (26) para a Venezuela para acompanhar as eleições presidenciais. Nicolás Maduro concorre contra mais nove concorrentes.
A informação sobre a ida do ex-chanceler Amorim ao país vizinho foi confirmada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta manhã, após participar de um evento. Nos últimos dias, o presidente defendeu a presença de observadores internacionais no pleito.
O processo eleitoral na Venezuela tem sido questionado por potências como os Estados Unidos e pela União Europeia, sobretudo em pontos como a segurança do resultado das eleições. Na quarta-feira (24), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desistiu de enviar dois representantes para acompanhar o pleito, após Nicolás Maduro afirmar que as eleições no Brasil não são auditadas. (Especial para O Hoje, com ABr)