Arte rupestre na Amazônia revela técnicas de caça milenares
Pesquisadores descobrem registros na Amazônia colombiana que revelam pistas sobre mitologia dos primeiros grupos humanos na região
Uma descoberta arqueológica na Amazônia colombiana está proporcionando novas perspectivas sobre a vida dos primeiros humanos a habitar o continente americano. Pesquisadores encontraram uma vasta coleção de artes rupestres no Cerro Azul, uma região montanhosa na Serranía de la Lindosa, que revela cenas da interação entre essas antigas populações e os animais que os cercavam.
Espalhadas por uma série de rochas, as imagens datam de cerca de 10.500 a.C., proporcionando um vislumbre sem precedentes da mitologia e do cotidiano dos primeiros habitantes da Amazônia. O estudo dessas representações artísticas, realizado por uma equipe internacional de arqueólogos, foi recentemente publicado no Journal of Anthropological Archaeology e traz à tona informações sobre as práticas culturais e as crenças dessas populações pré-históricas.
Detalhes das descobertas
As pinturas rupestres do Cerro Azul incluem representações detalhadas de animais, figuras humanas e cenas que parecem estar ligadas a rituais e práticas espirituais. No total, a pesquisa concentrou-se em seis dos 16 painéis documentados na região, cujas áreas desenhadas variam de 60 a 400 metros quadrados.
Utilizando técnicas de fotogrametria de drone e fotografia tradicional, os arqueólogos conseguiram capturar e catalogar mais de 3.200 imagens.
Entre as representações, destacam-se pelo menos 22 espécies de animais, como veados, pássaros, tartarugas, lagartos, antas e queixadas.
A Mitologia e os mistérios das imagens
Curiosamente, embora restos de peixes sejam abundantes nas escavações arqueológicas ao redor do Cerro Azul, as representações desses animais na arte rupestre são escassas, aparecendo apenas em dois painéis que parecem retratar cenas de pesca. Esse contraste entre a presença física dos peixes e sua ausência relativa na arte levou os especialistas a especular que as imagens não eram meramente descritivas, mas também simbólicas.
Outro ponto é a ausência de grandes felinos, como a onça-pintada, nas representações artísticas, apesar de serem predadores predominantes na Amazônia. A equipe de arqueólogos sugere que essa ausência pode estar relacionada a crenças espirituais, em que a representação de tais animais poderia ser considerada um mau presságio ou tabu.
Essa hipótese é reforçada pela presença de figuras teriantrópicas nos painéis, onde seres humanos são retratados com características de animais, como aves e anfíbios, sugerindo a importância de transformações espirituais e simbólicas em sua cultura.
“Nossa abordagem revela diferenças entre o que as comunidades indígenas exploravam para alimentação e o que é conceitualmente importante representar – e não representar – na arte”, explica Jose Iriarte, um dos arqueólogos responsáveis pelo estudo.