Como psicologia do esporte pode melhorar desempenho dos atletas
Especialista explica que a psicologia do esporte ajuda os atletas a desenvolver habilidades importantes, como foco, concentração, confiança, motivação e controle do estresse
A Olimpíada deste ano em Paris colocou no pódio diversos atletas e modalidades esportivas. O Brasil finalizou sua participação com 20 medalhas no total. Dessas, três são de ouro, sete de prata e dez medalhas são de bronze.
Mas além de todo o esforço e glamour que os jogos olímpicos podem trazer às nações, um tema ganhou destaque no evento: a saúde mental dos atletas.
Gabriel Medina, que brilhou no surfe com suas manobras e levou o bronze este ano, teve que pausar sua história de sucesso em 2021 devido a um quadro de depressão. Foram dias obscuros para o campeão mundial, que apresentou ao mundo a famosa “Brazilian Storm”, em português “Tempestade Brasileira”.
Gabriel chegou a declarar para imprensa que nunca havia se imaginado naquele lugar. “É assustador, as coisas param de fazer sentido para você”, disse o atleta de 30 anos após passar por terapias e tratamentos. Como disse Luciano Huck em uma breve homenagem ao rapaz nas redes sociais, “Gabriel foi recuperando sua maior paixão: estar dentro do mar”.
Rayssa Leal, de 16 anos, conquistou o coração dos brasileiros e também de grande parte do mundo com suas manobras no skate street quando ainda tinha 13 anos e participava da sua primeira Olimpíada.
Um dos destaques dessa edição, a adolescente conseguiu o terceiro lugar na competição com atletas abaixo de 20 anos, e trouxe o bronze para o Brasil. Durante as entrevistas ela abriu o coração e falou da pressão que sente em ter milhões de pessoas torcendo e depositando nela suas expectativas. Mas em um tom de brincadeira, ela disse que a terapia estava em dia.
A maior medalhista olímpica do Brasil, Rebeca Andrade, também destacou aos veículos de comunicação a importância do atendimento psicológico no desenvolvimento da sua performance.
Influência direta
A psicóloga social e esportiva Ana Maria Soares afirma que o fator psicológico é indissociável e influencia diretamente o desempenho e rendimento na prática esportiva. “A psicologia do esporte ajuda os atletas a desenvolverem habilidades importantes, como foco, concentração, confiança, motivação e controle do estresse”, explica.
Nádia Santana, também especialista da área da psicologia esportiva, acrescenta que quando o atleta está muito nervoso isso interfere negativamente em seu desempenho. Por isso, é comum ver o erro de um atleta prejudicar toda a equipe quando se apresentam em grupos.
“Então, o atleta quando está treinando no dia a dia dele tem um desempenho que é de um nível e quando ele tá numa competição esse desempenho geralmente cai. Então quanto mais força emocional o atleta tiver mais o desempenho dele vai ser mais próximo com o apresentado nos treinos”, explica a especialista.
O cuidado com a saúde mental é importante para que os atletas consigam conciliar o bem-estar físico com o emocional e, nesse processo, percebem-se como um “humano que escolheu ser atleta”. Essa percepção é importante para que a pessoa compreenda suas emoções, aprendendo a controlá-las durante as atividades esportivas.
Toda competição é marcada pela tensão de quem participa, segundo a especialista. Quando as competições são de alto rendimento e exigem grande exposição na mídia, como é o caso da Olimpíada.
Importância do diálogo
Por isso, a psicóloga avalia como imprescindível o diálogo sobre essa temática nas grandes mídias. Os atletas olímpicos ressaltaram em seus discursos a importância do acompanhamento psicológico dentro e fora das atividades esportivas. “Para mim, o recorde mais importante das olimpíadas finalmente foi quebrado: a importância da ajuda psicológica na performance do esporte”, comemora a especialista.
Ana Maria afirma que todo atleta, independente da faixa etária, está sujeito à adoecimento emocional, pelos vários fatores que o próprio esporte produz. Mas destaca que os adolescentes estão mais suscetíveis à vulnerabilidade emocional, principalmente aqueles que vêm de condições socioeconômicas mais baixas.
Além disso, existem outros fatores que podem levar ao adoecimento emocional do atleta mais jovem: a pressão familiar e a adultização profissional, que eles vivem precocemente.
Segundo a psicóloga, muitos são vistos como moeda de troca, o que gera desgaste emocional e autocobrança intensa nos jovens atletas. “Caso esses problemas não sejam percebidos e cuidados desde a inserção no meio esportivo, eles sofrerão com transtornos mentais na fase jovem adulta, como foi o caso do Richarlisson”, finaliza.