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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
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Meio Ambiente

Desmatamento cai 37% no Estado, mesmo com aumento no Cerrado

A devastação do bioma em 2023 ficou cerca de 150 km² a menos do que os anos analisados

Postado em 14 de agosto de 2024 por João Reynol
A devastação do bioma em 2023 ficou cerca de 150 km² a menos do que os anos analisados | Foto: Divulgação/Semad

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou na última sexta-feira (9) que o desmatamento em Goiás caiu 37% se comparado com o biênio de 2018 e 2019. Essa informação veio conforme o aumento da série histórica do desmatamento do bioma Cerrado no Brasil com um índice de 9% maior entre os meses de agosto de 2023 e julho de 2024 se comparado com o mesmo período no ano de 2022 e 2023.

De acordo com o Inpe, os dados são provenientes do programa BiomaBR com o sistema Deter, que emite alertas diários sobre o desmatamento no Brasil. Ao todo, a destruição do Cerrado em 2023 ficou com quase 150 km² a menos do que o biênio analisado, com 312 km² no total, se comparado a 460 km² em 2019. 

Se comparado com o desmatamento total do Cerrado com os outros estados, Goiás ficou com apenas 4,5% desse número. Os Estados com Cerrado que mais desmataram neste período foram: Maranhão, com área foi de 1.897 km² (27%); Tocantins, com 1.748 km² (25%); Piauí, com 876 km² (12,5%); e Bahia, com 792 km² (11%), também conhecidos como Matopiba. 

A advogada, doutora em ciências ambientais e professora da UFG, Luciane Martins, fala que o grande problema do desmatamento no Cerrado é a propriedade de armazenamento hídrico do bioma. “Nosso grande diferencial é a capacidade de armazenar água pelo tipo de solo e pela nossa vegetação típica, considerada ‘floresta invertida’, vez que as raízes profundas das árvores, bem maiores do que seu tamanho aparente, facilita o armazenamento de água no lençol freático, o que vai aflorar como nascentes. Assim, o Cerrado é considerado ‘o berço das águas’, já que daqui nascem e passam várias das principais bacias do Brasil e que vão distribuir água por todo o País.”

Para Luciane, tem de haver mudanças que priorizem a manutenção da vegetação nativa a fim de preservar os berços hídricos do Cerrado. Como exemplo, a pesquisadora cita o sistema Lavoura-Pecuária-Floresta, que integra a produção com a proteção da mata nativa. “As soluções baseadas na natureza existem e visam justamente a proteção da nossa vegetação, aliada com a produção e melhoria das condições de vida da população. Se acabarmos com o Cerrado, a água acaba. E sem água, não há produção.”

Para o superintendente de fiscalização da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Marcelo Sales, a diminuição histórica do desmatamento se deu por três investimentos da pasta: a contratação de funcionários, aquisição de novas tecnologias e a consolidação do sistema Ipê. “Desde 2019, nós contratamos mais de 100 funcionários concursados, a grande maioria deles foi para a fiscalização”, relata.

A pasta informou que concentra a fiscalização nas reservas legais impostas nas terras dos proprietários rurais. De acordo com Sales, o governo estadual firmou um pacto com o setor produtivo que faz uso do desmatamento para não promover a supressão ilegal nas reservas legais. Associações como a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) e a Federação das Indústrias de Goiás (FIEG) se comprometeram para cooperar com a meta de desmatamento ilegal zero até 2030.

O superintendente ressalta como o sistema Ipê foi uma das principais ferramentas para diminuir o desmatamento ilegal em Goiás por processar as licenças ambientais de forma mais eficiente. “Antigamente, o produtor tinha que esperar meses para ter o licenciamento e isso afetava a produção. Agora os produtores podem ter acesso entre 50 a 60 dias”, afirmou. Sobre isso, Sales informa que 80% das supressões vegetais são regularizadas e legalizadas com licenças. Em 2019, apenas 4% das supressões eram legais. Além disso, o Estado também alcançou a meta de desmatamento zero no bioma da Mata Atlântica em 2023, que se concentra na Região Sul do Estado.

Mesmo assim, Luciane alerta que deve haver outras formas de equilíbrio entre a produção agroindustrial e a preservação ambiental. “Não adianta desmatar de forma ‘legal’. Assim, não existe esse equilíbrio entre supressão vegetal legalizada e aumento da produção agroindustrial, pois um insumo indispensável nesse processo é justamente a água. Há sim como ter equilíbrio com técnicas para aumentar a produção, mas também preocupadas com a preservação”, ressalta.

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