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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
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Saúde

Desafio para cuidar de pacientes com apenas 10 nutricionistas especializados em oncologia

Mulher que enfrentou o câncer conta como a alimentação saudável foi crucial na sua recuperação

Postado em 17 de agosto de 2024 por Ronilma Pinheiro
Ana Elisa Baesso Vantini, funcionária pública e estudante do último semestre de nutrição, foi diagnosticada com câncer de mama em 2022 | Foto: Reprodução/ Instagram

Ana Elisa Baesso Vantini, funcionária pública e estudante do último semestre de nutrição, compartilhou com o jornal O HOJE sua jornada de combate ao câncer de mama. Diagnosticada em setembro de 2022, Ana enfrentou um ano de tratamento intensivo que incluiu quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Apesar dos desafios, ela conseguiu manter sua vida profissional e acadêmica, uma conquista notável que ela atribui em parte à sua abordagem nutricional.

Antes de seu diagnóstico, Ana já havia passado por um significativo processo de emagrecimento, perdendo 57 quilos e adotando uma alimentação saudável. Essa mudança desempenhou um papel crucial durante o tratamento do câncer. Ela relatou que, apesar de não ter recebido acompanhamento nutricional específico durante a quimioterapia, manteve sua dieta equilibrada e não experimentou os efeitos colaterais comuns, como náuseas e perda de peso.

“Eu não tive enjoo, vômito, nem náusea. Sempre mantive minha alimentação saudável e, graças a isso, consegui treinar e trabalhar normalmente durante o tratamento”, explica Ana.

A mulher estava no segundo ano de sua graduação em nutrição quando recebeu o diagnóstico. Aos 33 anos, ela equilibrou o tratamento com suas responsabilidades profissionais e acadêmicas, continuando a estudar e trabalhar ao longo do ano. “Foi um período difícil, mas a alimentação saudável que mantive me ajudou a enfrentar o tratamento com uma qualidade de vida surpreendente”, afirma.

O caso de Ana destaca a importância da nutrição na manutenção da saúde e o bem-estar durante o tratamento de câncer. Ela não só conseguiu evitar medicações para efeitos colaterais, mas também manteve uma rotina normal, o que é um testemunho do impacto positivo de uma dieta bem equilibrada. 

Agora, com o tratamento concluído e a graduação em nutrição prestes a ser finalizada, Ana planeja utilizar sua experiência para ajudar outros que enfrentam desafios semelhantes, combinando conhecimento acadêmico e vivência pessoal para fazer a diferença na vida de seus futuros pacientes.

Número baixo de profissionais

Em Goiás, apenas dez nutricionistas são especializados em oncologia, uma realidade preocupante em um Estado onde a demanda por cuidados nutricionais especializados está crescendo a passos largos. A informação foi destacada por Marcela de Paula, nutricionista com vasta experiência na área oncológica.

A profissional explica que, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica, que concede o título de especialista, o Brasil conta com apenas 176 nutricionistas com essa qualificação. O cenário em Goiás é também alarmante, com uma quantidade muito limitada de profissionais capacitados para lidar com a complexidade dos cuidados nutricionais necessários para pacientes com câncer.

A carência de especialistas é especialmente crítica considerando as previsões para os próximos anos. De acordo com estimativas recentes do Instituto de Câncer (Inca), o Brasil deverá registrar mais de 700 mil novos casos de câncer entre 2023 e 2025. No caso das mulheres, a maior incidência ainda é o câncer de mama, com projeção de 73.610 casos por ano. Entre os homens, a próstata é  velha conhecida, com 71.730 casos projetados da doença. 

Esse aumento no número de diagnósticos exige uma resposta adequada em termos de suporte nutricional, o que destaca ainda mais a escassez de profissionais qualificados. Marcela de Paula expressa uma preocupação significativa com a falta de nutricionistas especializados, enfatizando que a nutrição é um componente essencial no tratamento do câncer.

“A nutrição tem um papel crucial no tratamento oncológico. Não se trata apenas de fornecer uma dieta balanceada, mas de adaptar a alimentação às necessidades específicas do paciente para minimizar os efeitos colaterais dos tratamentos e melhorar a qualidade de vida,” afirma Marcela.

A especialista destaca que o tratamento contra o câncer pode causar uma série de efeitos adversos, incluindo mucosites – feridas na boca semelhantes a aftas -, diarreias, vômitos e náuseas. Esses sintomas podem ser aliviados significativamente por meio de uma alimentação adequada e personalizada.

O impacto da desnutrição em pacientes oncológicos é um problema alarmante, com estimativas indicando que entre 40% e 80% dos pacientes em tratamento são afetados.

A desnutrição pode resultar em um agravamento das condições de saúde, aumentar o risco de complicações e até mesmo elevar o risco de mortalidade. Marcela observa que muitos pacientes acabam falecendo não diretamente em função do câncer, mas devido às complicações associadas à desnutrição.

Além de tratar os efeitos colaterais dos tratamentos, a nutrição adequada ajuda a preservar o sistema imunológico dos pacientes, reduzindo a necessidade de internações e potencialmente aumentando as taxas de sobrevivência. “Quando fornecemos uma nutrição adequada, podemos ajudar a prevenir a queda da imunidade e melhorar a capacidade do paciente de suportar o tratamento,” explica Marcela.

Mitos e desinformação cercam alimentação no câncer

Ela também aborda os mitos e desinformações que cercam a alimentação em relação ao câncer. Um mito comum é a crença de que determinados alimentos, como o açúcar, podem causar câncer.

Marcela desmistifica essa ideia, esclarecendo que o câncer é uma doença multifatorial. “Não há alimentos isoladamente responsáveis por causar câncer. A nutrição deve ser utilizada para promover a saúde e prevenir complicações durante o tratamento, e não para fazer restrições alimentares que não têm base científica sólida,” afirma.

A nutrição preventiva, por outro lado, pode desempenhar um papel importante na redução do risco de câncer, principalmente ao focar em uma dieta rica em fibras e com menor consumo de alimentos processados e embutidos. “A alimentação preventiva deve ser rica em nutrientes e pobre em conservantes e aditivos. Essa abordagem ajuda a manter a saúde geral e pode reduzir o risco de doenças crônicas, incluindo o câncer”, acrescenta Marcela.

Meeting de Nutrição e Oncologia

Diante da escassez de profissionais especializados, Marcela de Paula decidiu organizar o ‘Meeting de Nutrição e Oncologia’, um evento dedicado à capacitação de profissionais de saúde. O evento ocorrerá em Goiânia nos dias 24 e 25 de agosto e será completamente presencial. O objetivo é proporcionar uma formação abrangente para nutricionistas, psicólogos, oncologistas e outros profissionais envolvidos no cuidado de pacientes com câncer.

“A falta de profissionais qualificados é um problema crítico, e a capacitação é essencial para melhorar o atendimento aos pacientes. O evento foi estruturado para oferecer uma programação intensa, com palestras sobre diversos aspectos da nutrição e oncologia, além de áreas complementares como nutrição esportiva e nutrição clínica”, explica Marcela. A ideia é reunir profissionais de diferentes áreas para garantir que todos estejam preparados para lidar com os desafios relacionados à nutrição oncológica e oferecer o melhor suporte possível aos pacientes.

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