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domingo, 13 de outubro de 2024
Prejuízo

Produção de cana pode cair 20% com mudanças climáticas

Diminuição na produção afetaria drasticamente a economia brasileira, especialmente no setor de biocombustíveis

Postado em 4 de setembro de 2024 por Alexandre Paes
cana
Foto reprodução

Um estudo do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) projeta que as mudanças climáticas poderão provocar queda na produção brasileira de cana-de-açúcar de até 20% nos próximos dez anos. 

A diminuição, de acordo com a pesquisa, causaria um efeito drástico similar no mercado de etanol combustível e no setor de biocombustíveis do Brasil. O país é líder mundial na produção e consumo de biocombustíveis. 

Segundo o levantamento, a redução na quantidade e frequência de chuvas são apontadas como o principal fator prejudicial ao desenvolvimento da cana-de-açúcar, superando até mesmo a elevação das temperaturas.

“A projeção foi possível graças a técnicas de modelagem agroclimática. Os pesquisadores analisaram dados climáticos históricos e fizeram simulações considerando variáveis para estimar o que pode acontecer, nos próximos anos, com a cultura de cana na região Centro-Sul do Brasil”, destacou o CNPEM, em nota.

De acordo com o economista Marcelo Silva, essa diminuição na produção afetaria drasticamente a economia brasileira, especialmente considerando o papel de liderança global do Brasil na produção de biocombustíveis. “Uma queda tão acentuada na produção de cana-de-açúcar não afetaria apenas a oferta de etanol, mas também pressionaria os preços, impactando diretamente o consumidor e a competitividade do etanol frente aos combustíveis fósseis”, explica Silva.

O agrônomo Rodrigo Ferreira destaca que a redução na quantidade e frequência de chuvas é o fator climático mais preocupante para a cultura da cana-de-açúcar, superando até mesmo o aumento das temperaturas. “A cana-de-açúcar é altamente dependente de um regime hídrico adequado para o seu desenvolvimento. Com a redução das chuvas, as plantas enfrentam déficit hídrico, o que afeta não só o crescimento, mas também a qualidade da matéria-prima utilizada para a produção de etanol”, aponta Ferreira. Ele acrescenta que, sem medidas de adaptação, como o uso de variedades mais resistentes à seca e técnicas de irrigação eficiente, o cenário projetado pode se agravar ainda mais.

Os efeitos econômicos da redução na produtividade também são uma preocupação. Silva observa que a diminuição da produção de cana-de-açúcar implicaria em perdas significativas de receita, estimadas em até US$ 60 milhões anuais para o setor de biocombustíveis. 

“Isso não afeta apenas as usinas e produtores, mas também a arrecadação de impostos e os empregos diretos e indiretos associados à cadeia produtiva do etanol”, afirma. Silva sugere que políticas públicas de incentivo à sustentabilidade e ao desenvolvimento de tecnologias agrícolas adaptativas são essenciais para mitigar esses impactos.

Ferreira, por sua vez, enfatiza a necessidade de uma abordagem proativa para enfrentar os desafios climáticos. “Investir em pesquisas e inovações agrícolas, como o desenvolvimento de novas variedades de cana adaptadas a condições climáticas adversas, será crucial para garantir a continuidade e a competitividade da produção de cana-de-açúcar no Brasil”, conclui. 

Ele destaca que ações imediatas e coordenadas entre o governo, instituições de pesquisa e o setor privado são fundamentais para assegurar a resiliência da agricultura brasileira frente às mudanças climáticas.

Dados climáticos

A região estudada abrange os estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que produzem atualmente 90% da cana-de-açúcar do país. A pesquisa utilizou dados climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e adotou o modelo Crop Assessment Tool, desenvolvido pelo CNPEM, para descobrir como as mudanças climáticas podem afetar a produtividade da cana-de-açúcar. 

“A queda na produção já começou a ser sentida e pode se agravar, caso não sejam adotadas ações para mitigar os impactos ambientais. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima redução de 3,8% na safra de 2024/2025, em consequência dos baixos índices pluviométricos e das altas temperaturas na região Centro-Sul”, ressalta a pesquisa.

O principal participante do estudo, o engenheiro agrícola Gabriel Petrielli, alerta que a diminuição da produção da cana poderá causar uma forte queda nas receitas no setor.

“O recuo na produtividade da cana-de-açúcar pode levar a uma redução da receita de CBIOs da ordem de US$ 1,9 milhão para cada bilhão de litros de etanol produzido, resultando em uma perda de receita no setor da ordem de US$ 60 milhões anualmente”, destaca.

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