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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
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LEITURA

Literatura infantil reforça identidade negra com diversidade e afeto

Autores transformam o cenário literário ao retratar a potência cultural e afetiva das crianças negras

Postado em 5 de setembro de 2024 por Luana Avelar
A ideia é que, ao lerem essas histórias, as crianças sintam orgulho de sua identidade e de sua cultura, ajudando a construir uma sociedade mais justa e inclusiva desde a infância. | Foto: Divulgação

A literatura infantil tem se mostrado um campo fértil para a promoção de diversidade e representatividade. Cada vez mais autores negros têm contribuído para essa transformação, trazendo novas perspectivas e histórias que dialogam com as realidades das crianças negras. Um exemplo é o escritor e ilustrador Renato Cafuzo, nascido e criado no Morro do Timbau, na Favela da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, que está prestes a lançar seu segundo livro, ‘Morro do Dragão’. A obra, escrita e ilustrada por ele, explora um universo mágico que mistura elementos da cultura da favela com a busca por “dragões reais” em histórias de diferentes tradições culturais.

Cafuzo acredita que a literatura infantil é fundamental para a construção da identidade das crianças negras, oferecendo a elas a oportunidade de se reconhecerem nas histórias que leem. “O livro infantil chega antes na vida das pessoas e tem o poder de nutrir eticamente, moral e emocionalmente as próximas gerações nos momentos mais vulneráveis”, argumenta. Para o autor, a literatura infantil negra e periférica é uma ferramenta essencial na luta contra o racismo, pois contribui para o fortalecimento da autoestima e da identidade racial desde cedo.

Essa mesma visão é compartilhada pelo escritor paulista Henrique André, designer gráfico, ilustrador e pesquisador afrofuturista, com nove livros publicados. Em suas obras, André explora o cotidiano de personagens negros, sejam eles em universos fantásticos ou em situações mais próximas da realidade. “Quero retratar que em lares pretos existe afeto entre corpos pretos e que não é só a dor que nos atravessa. A dor existe, o racismo é inegável, mas a gente pode subverter essa realidade sonhando e realizando sonhos”, afirma.

André acredita que a literatura infantil é um meio de mostrar para as crianças negras que suas histórias e experiências são valiosas. A sua motivação para escrever livros infantis com temática afro-brasileira surgiu a partir de seu contato com o afrofuturismo — um movimento cultural, estético e político que ganha cada vez mais destaque na literatura, cinema, música, arte e moda. “O maior desafio é romper essas bolhas e fazer com que o que a gente escreve chegue para os principais leitores que a gente almeja”, pontua.

Para a professora doutora, escritora e idealizadora da Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador (BA), Bárbara Carine, a representatividade negra na literatura infantil brasileira tem crescido, mas ainda enfrenta barreiras. Ela relembra que, na década de 1980, os personagens negros eram majoritariamente retratados de forma negativa, muitas vezes como animais ou escravos, perpetuando estigmas construídos por autores brancos. Hoje, no entanto, há um número crescente de autores negros que, através de suas obras, contribuem ativamente para o empoderamento e valorização da cultura e identidade negra.

Carine argumenta que a falta de representatividade na literatura afeta diretamente o desenvolvimento das crianças negras, impactando na construção do seu psiquismo. “Onde a gente não se vê, a gente não se projeta, a gente não se pensa”, ressalta. Para ela, é fundamental que a literatura infantil ajude a desconstruir os estereótipos negativos associados à população negra desde a primeira infância. “Precisamos contar nossas próprias narrativas a partir de outros marcadores de potencialização dessas crianças. Trazer elementos que positivem nossa ancestralidade e memórias é uma via potente para desconstruir estereótipos.”

A professora também destaca que a representatividade negra na literatura vai além da inclusão de personagens pretos; é preciso mudar a forma como esses personagens são retratados. “Muitas vezes, vemos personagens negros descalços, em terrenos baldios, mal vestidos, pobres, tristes ou em histórias de superação. Queremos construir no imaginário infantil outra perspectiva: uma identidade de potência, de altivez”, argumenta.

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