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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Bioma

Alto índice de incêndios no Cerrado ameaça fauna local

Entre 1985 e 2023, 88 milhões de hectares do bioma foram destruídos pelo fogo, segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

Postado em 12 de setembro de 2024 por Ronilma Pinheiro
Alto índice de incêndios no Cerrado ameaça fauna local
Fotos: Daniel Fortuna/O HOJE

Maior bioma da América do Sul e segundo maior do Brasil, o Cerrado é conhecido por ser uma região savana que alcança cerca de 22% de todo o território brasileiro. O bioma estende-se por cerca de 200 milhões de quilômetros quadrados e possui uma formação vegetal de grande biodiversidade e grande potencial aquífero.

O bioma abrange 23% do território nacional e quase 2 milhões de quilômetros quadrados, presente em estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Paraná, São Paulo e o Distrito Federal. 

Apesar de toda grandeza, atualmente, o Cerrado é considerado o segundo bioma  mais ameaçado do país. Entre 1985 e 2023,  88 milhões de hectares do bioma foram destruídos pelo fogo, o que equivale a 43% de toda a extensão do bioma, chegando a superar o território de países como Chile e Turquia. Os dados são do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Além disso, segundo o Instituto Brasiliero do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), atualmente ocorre um alto índice de incêndios e queimadas, que são etapas do processo de desmatamento. No segundo semestre deste ano, o país enfrenta um período de seca que agrava ainda mais esse cenário de incêndios. 

Esta ameaça é real não somente para a flora mas também para a fauna, já que o Cerrado é lar de 5% da biodiversidade mundial. O celeiro de vidas abriga 12.599 espécies de plantas e cerca de 2.653 espécies de animais vertebrados. Quando ocorre uma queimada, muitos desses animais, infelizmente, não conseguem fugir das chamas ou mesmo receber atendimento e se recuperar. Assim, acabam falecendo na própria natureza.

Ana Carolina Dias Oliveira, analista ambiental da Educação Ambiental do Ibama e do Centro de Triagem de Animais Silvestres de Goiânia (Cetas), afirma que o Cerrado tem sido deteriorado ao longo dos anos. “É importante refletirmos sobre isso, pois as queimadas, o desmatamento devido à expansão agrícola e a ocupação desordenada têm reduzido as populações de muitas espécies, algumas das quais já estão extintas”, lamenta a analista.

Dentre os animais mais emblemáticos e ameaçados estão o lobo-guará e as onças, principalmente as de grande porte, segundo Ana Carolina. Na tentativa de coibir a violência que esses animais sofrem, o Ibama realiza ações e operações de resgate daqueles que são mantidos presos ou são vítimas de tráfico, de atividades antrópicas ou mesmo daqueles que são entregues espontaneamente pela população, para devolvê-los à natureza.

As aves são o grupo mais afetado pelo tráfico de animais. A razão para isso, segundo a analista, é a beleza e o canto desses bichos. “Muitas vezes, os pássaros são colocados para brigar ou mantidos em gaiolas, o que leva à retirada indiscriminada de muitos deles da natureza”, explica. 

Após serem resgatados esses animais são devolvidos à natureza. Enquanto o Ibama faz a fiscalização nacionalmente, o Cetas é responsável por receber os bichos, que passam por um processo de triagem, quarentena e reabilitação. “Após esse processo, eles são devolvidos a áreas de soltura cadastradas no IBAMA, que incluem propriedades rurais parceiras”, detalha Carolina.

As multas para quem comete esse tipo de infração variam de acordo com a gravidade do ato. Para aquele que mantém, transporta,  utiliza animais ou seus subprodutos a multa é de R$500, quando envolve animais não ameaçados de extinção e R$5.000 para animais ameaçados. “Em casos de reincidência, a multa pode ser aumentada. Além das penalidades administrativas impostas pelo IBAMA, os infratores também respondem judicialmente, enfrentando processos penais e civis”, acrescenta.

Animais vítimas das queimadas são resgatados pelo Cetas 

O Ibama não costuma realizar ações de forma pontual, segundo Ana Carolina. “Nosso papel é promover a educação ambiental do IBAMA não como uma ação pontual, mas como um projeto contínuo”, afirma. “Evitamos realizar ações e palestras isoladas e nossa proposta é formar multiplicadores para promover mudanças de comportamento na sociedade goiana”, acrescenta. 

A analista explica que a existência do centro de triagem em si, como local de recebimento para animais entregues espontaneamente ou resgatados, é uma ação importante. “Esses animais podem ser, por exemplo, um tamanduá que entra em um banco ou uma onça que entra em um hospital”, exemplifica.

Ela destaca que o instituto está pronto para receber e também fornecer suporte às ações de fiscalização para animais apreendidos, vítimas do tráfico e da captura indiscriminada. “Isso faz com que o centro seja um ponto de reflexão importante”, comenta.

Outro projeto de conscientização do Ibama é a promoção da educação ambiental quando solicitado, como foi o caso do convite feito pelo Zoológico de Goiânia nesta quarta-feira (11). O Ibama juntamente com o Cetas estiveram no local para promover palestras e ensinar estudantes do ensino fundamental a respeito da fauna e flora do Cerrado.

Além disso, o instituto trabalha com a formação de multiplicadores, por meio de uma parceria com a prefeitura. “Entramos em contato com a prefeitura, que, se interessada, coordena os melhores dias para a formação, que é dividida em uma parte teórica e uma prática”, explica.

A formação dura cerca de 30 horas, incluindo parte teórica no IBAMA, visita ao centro de triagem e participação em algum momento de soltura de animais. O objetivo é que os professores se apropriem do discurso e o levem para salas de aulas. Assim, quando a criança for à uma visita ao zoológico ou ao centro de triagem não será apenas uma experiência estética, “mas um entendimento profundo de que os animais ali presentes não estão lá por acaso; eles foram resgatados de situações de ação antrópica ou capturados e trazidos ao centro”, finaliza.

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