57% dos donos de negócios em Goiás são empreendedores negros
Apesar de ser maioria, nos últimos dez anos o empreendedorismo negro cresceu apenas 6% no estado, bem abaixo de pesquisa nacional
Uma pesquisa recente do Sebrae Nacional, baseada em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), revelou que 57% dos negócios em Goiás são administrados por negros. Esse dado, que pode parecer positivo à primeira vista, esconde um crescimento modesto no empreendedorismo negro nos últimos dez anos. De 2013 a 2023, o aumento foi de apenas 6%, enquanto a média nacional foi de 22%. Em números absolutos, isso significa que o número de empreendedores negros passou de 10,3% para 16,2% da população negra com 14 anos ou mais no estado.
Apesar de serem a maioria entre os donos de negócios, os empreendedores negros ainda enfrentam uma série de desafios que limitam seu pleno desenvolvimento, como o acesso a crédito, capacitação e a formalização de suas empresas. O crescimento de 6% em Goiás é uma clara demonstração de que, embora tenham uma presença significativa, o avanço do empreendedorismo negro no estado ainda precisa de mais políticas de fomento e inclusão.
A pesquisa também destacou a diferença de escolaridade entre os empreendedores negros e brancos em Goiás. Enquanto 36,2% dos empreendedores negros possuem apenas o ensino médio completo, esse número é semelhante ao dos brancos, que somam 35,9%. No entanto, há uma disparidade significativa no acesso ao ensino superior: apenas 28,4% dos negros têm graduação, enquanto entre os brancos esse número é de 32,5%.
Essa diferença reflete diretamente no tipo de negócio gerido e nas oportunidades de expansão. Além disso, a taxa de empreendedorismo entre negros no estado, que é de 16,2%, é inferior à dos brancos, que é de 21,6%. Em termos práticos, isso significa que, a cada 100 negros com 14 anos ou mais, 16 possuem negócios próprios, enquanto entre os brancos, esse número sobe para 21. Essa desigualdade ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a inclusão e capacitação dos empreendedores negros.
Setor de Serviços
O setor de serviços é onde se encontra a maior parte dos negócios administrados por negros em Goiás. Esse setor inclui uma gama variada de atividades, como transporte, educação, saúde e serviços pessoais, que são fundamentais para a economia do estado. Mesmo sendo predominantes nesse setor, os empreendedores negros continuam enfrentando grandes desafios. Principalmente no que se refere ao acesso a crédito e à formalização de seus negócios.
A pesquisa também mostrou que a faixa etária dos empreendedores negros no estado se concentra entre 30 e 49 anos, com percentuais próximos entre as idades de 30 a 39 anos (26%) e de 40 a 49 anos (24,8%). Esse perfil demográfico reflete uma população ativa e produtiva, contribuindo para a diversidade da economia regional.
Empreendedorismo
Para enfrentar os desafios e fomentar o empreendedorismo negro no estado, o Sebrae Goiás tem desenvolvido diversas iniciativas, que incluem capacitação, consultoria e acesso a mercados. Um dos programas destacados por Elaine Moura, coordenadora de Políticas Públicas do Sebrae Goiás, é o Programa Territórios Empreendedores, que está sendo implementado na Chapada dos Veadeiros, abrangendo as comunidades kalungas do Engenho II e do Vão do Paranã.
Esses programas buscam fortalecer os negócios locais, promovendo o desenvolvimento sustentável e criando oportunidades para empreendedores negros. De acordo com Elaine, o apoio adequado e políticas inclusivas são fundamentais para garantir que esses empreendedores possam crescer e prosperar. Ela ressalta que o fortalecimento do empreendedorismo negro não beneficia apenas os empreendedores, mas também toda a comunidade, ao promover diversidade e inovação no mercado.
História de Superação
Um exemplo de empreendedor negro que tem superado os desafios em Goiás é William Sandro Bernardes da Silva. Que decidiu abrir sua loja de alimentos naturais, a Bem Saudável, em Goiânia, após 21 anos como educador físico e atleta. Com graduação e pós-graduação, William foge ao perfil médio dos empreendedores negros no estado, mas, mesmo assim, enfrentou dificuldades para abrir seu próprio negócio.
Após tentativas frustradas de abrir uma franquia, William decidiu investir em seu próprio projeto, focando em produtos naturais e alimentação saudável. Ele buscou capacitação no Sebrae, onde atualmente participa do programa Transformação Digital 5.0. Com o objetivo de aprimorar a gestão e o marketing digital da sua loja. Entre os produtos oferecidos estão alimentos fit, comidas típicas goianas e uma linha de alimentos funcionais e tradicionais.
Apesar dos desafios, o empreendedorismo negro em Goiás tem um enorme potencial de crescimento. Com políticas públicas adequadas, acesso a crédito e programas de capacitação, os empreendedores negros podem expandir seus negócios. Além de contribuir de maneira ainda mais significativa para o desenvolvimento da economia do estado. A inclusão dessas empresas não apenas gera mais oportunidades para os empresários, mas também enriquece o mercado com diversidade e inovação.
O exemplo de William e os dados da pesquisa do Sebrae mostram que, com o apoio certo, o empreendedorismo negro pode alcançar novos patamares. Beneficiando não apenas os empreendedores, mas toda a sociedade goiana.