Morre Ary Toledo, ícone do humor brasileiro, aos 87 anos
Humorista faleceu em São Paulo por complicações de pneumonia; sua trajetória marcou a comédia no país com piadas irreverentes e críticas sociais
Ary Toledo, humorista de 87 anos, faleceu na manhã do último sábado (12), em São Paulo, em decorrência de complicações de uma pneumonia. Internado no Hospital Sírio-Libanês desde o início de outubro, marcou a história do humor brasileiro com suas piadas irreverentes e sua presença carismática em programas de rádio e televisão. O velório aconteceu no Ossel Memorial, em São Caetano do Sul, às 19h, e o corpo foi cremado posteriormente.
Nascido em 1937, na cidade de Martinópolis, interior de São Paulo, Ary começou sua carreira no teatro, mas foi no humor que ele encontrou seu verdadeiro palco. Mudou-se para a capital paulista aos 22 anos e, em 1965, lançou seu primeiro álbum musical, ‘Ary Toledo No Fino da Bossa’. Contudo, foi aconselhado pelo próprio Vinicius de Moraes a dedicar-se integralmente ao humor, um caminho que o consagrou como um dos grandes nomes do gênero no país.
O comediante foi um dos pioneiros a levar o humor de duplo sentido para a televisão brasileira, sempre mesclando suas piadas com críticas sociais disfarçadas de riso. Atuou em grandes emissoras como TV Tupi, Record e SBT, sendo suas participações no Programa Silvio Santos momentos de grande popularidade. Com um repertório vasto de anedotas, ele colecionou milhares de piadas ao longo da carreira, com algumas se tornando verdadeiros clássicos populares, como: “A Avenida Paulista é igual casamento. Começa no Paraíso e termina na Consolação”.
Ao longo de décadas, ele lançou livros e álbuns de piadas, além de gravar discos que eram sucesso de vendas. Sua habilidade em fazer o público rir lhe rendeu o respeito de seus colegas de profissão e uma legião de fãs. Sua passagem por programas de televisão sempre foi sinônimo de boas risadas. Em setembro de 2023, o humorista participou do programa ‘Conversa com Bial’, onde relembrou o início de sua carreira e contou detalhes sobre a primeira piada que fez na vida. Ele se emocionou ao falar sobre o significado da comédia em sua trajetória: “A piada surge de um fato social, o riso é uma atitude social e a piada também”, disse na ocasião.
Na vida pessoal, enfrentou grandes desafios. Foi casado por 45 anos com Marly Marley, diretora de teatro e vedete, que faleceu em 2014, vítima de complicações de um câncer de pâncreas. A relação entre os dois foi sempre pautada pelo amor e pela parceria, e a morte de Marly foi um duro golpe para o humorista. Em entrevista ao jornal Extra, em 2021, ele comentou a saudade que sentia da esposa e chegou a escrever poesias em homenagem a ela. “Foram 46 anos juntos. Ela foi o meu amor mais sincero, o único apaixonamento duradouro”, relembrou com tristeza.
Ao longo dos últimos anos, Toledo viveu uma vida mais reservada, especialmente durante a pandemia de covid-19. Contava com o apoio de uma cuidadora, uma secretária e um enfermeiro, e se mantinha ativo no mundo virtual, onde compartilhava suas piadas e reflexões com os seguidores nas redes sociais. Sem filhos, Ary via no público e nos amigos sua grande família. “Não tive filhos, mas não esquento”, chegou a dizer.
O humorista foi responsável por popularizar piadas que, até hoje, fazem parte do imaginário brasileiro. Suas histórias sempre contavam com aquele toque ácido e irreverente que arrancava gargalhadas de qualquer público. Mas, além do humor, ele também deixou uma marca de sensibilidade, seja por sua habilidade de transformar o cotidiano em comédia, seja pela maneira carinhosa com que falava de sua amada Marly e de sua própria vida. Em um de seus últimos depoimentos sobre a morte, ele declarou: “Partiu para a eternidade. Minha bela, minha estrela. Nunca mais poderei vê-la. Vivo muito triste aqui”.
O Brasil se despede de um ícone, alguém que, ao longo de mais de 60 anos de carreira, nunca perdeu a capacidade de fazer rir e pensar, mas sua trajetória, com piadas marcantes e seu talento nato para o humor, continuará presente na cultura popular por gerações.