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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
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Transplante

Doação de Órgãos: A importância e os desafios

A cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar órgãos no Brasil, apenas quatro efetuam a doação

Postado em 18 de outubro de 2024 por Leticia Marielle
Doação de Órgãos: A importância e os desafios. | Foto: Reprodução/Canva

A doação de órgãos é um gesto solidário que pode acontecer tanto após a morte, permitindo a doação de múltiplos órgãos, quanto em vida, como nas doações de rins ou de parte do fígado. Este processo é regulamentado por leis que asseguram a ética e a segurança necessárias. Um único doador pode salvar até 10 vidas, contribuindo significativamente para a redução das filas de espera por transplantes.

Nos primeiros três meses de 2024, foram realizados 118 transplantes de coração, 31 de pâncreas, 24 de pulmão e 3.744 de córneas no Brasil. Em relação ao fígado, foram 535 transplantes, dos quais 36 foram realizados em vida. No caso dos rins, 1.396 doações foram feitas, com 196 ocorrendo em vida.

Em Goiás, entre janeiro e junho de 2024, houve um total de 424 transplantes, um aumento em relação aos 398 procedimentos do mesmo período em 2023. Destacam-se 310 transplantes de córnea, 79 de rins e 27 de medula óssea. Entretanto, a situação ainda é preocupante.

Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 50 mil pessoas aguardam na lista de espera por um transplante. Apesar de uma leve melhora na notificação de potenciais doadores, as taxas de efetivação e de doadores efetivos apresentaram quedas significativas, acendendo um alerta para a saúde pública.

Segundo Isabela Lopes, enfermeira do Centro de Referência em Oftalmologia da UFG, existe uma diferença entre as nomenclaturas. “Possíveis doadores são todos aqueles que estão em um quadro clínico que pode vir a ser uma ME (morte encefálica), ou seja, pacientes que sofreram AVC, AVE, acidente de moto, quedas, e que apresentam um quadro clínico neurológico grave. A partir do momento que a ME é diagnosticada, o paciente passa de possível doador para potencial doador, e é o momento em que a família é questionada sobre a vontade de doação”, explicou.

Em 2024, a taxa de notificação de potenciais doadores atingiu 69,8 doadores por milhão de pessoas (pmp), um aumento de 0,7% em relação ao ano anterior, mas ainda abaixo da meta projetada de 70 pmp. Isso indica que, embora mais pessoas estejam sendo identificadas como potenciais doadoras, o número continua insuficiente.

A taxa de efetivação das doações, por sua vez, ficou em 27,4%, representando uma queda de 2,1% em relação a 2023 e 8,5% abaixo da meta de 30% para este ano. Isso significa que um número menor de potenciais doadores realmente está doando seus órgãos. Um dos principais desafios é a resistência das famílias em autorizar a doação.

Processo de doação

A primeira etapa para se tornar um doador é comunicar essa decisão a familiares e amigos. É fundamental que a vontade do potencial doador seja conhecida, pois a autorização familiar é um passo crucial no processo. “É necessário apenas a autorização familiar, por isso a importância de deixar claro em vida a vontade de ser doador”, afirma Isabela.

A cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar órgãos no Brasil, apenas quatro efetuam a doação. De acordo com o Ministério da Saúde, um dos principais obstáculos é a recusa familiar. “Nós sabemos que a morte é um tema tabu no Brasil, e que falar de doação de órgãos é falar de morte. No entanto, para que um transplante ocorra é preciso que uma doação aconteça, e ninguém quer perder um filho, mãe, pai e afins em uma lista de espera. A única forma de um aumento de doações é através da sensibilização do tema, que ainda é envolto de muito misticismo e medo”, declara Isabela.

Muitos famílias e pacientes têm inseguranças sobre a doação de órgãos, como a suposição de que médicos não farão o possível para salvar a vida de um paciente doador. Os profissionais de saúde têm a responsabilidade ética de preservar a vida, independentemente do status de doador. A doação só é considerada após a confirmação da morte encefálica, respeitando todos os protocolos médicos.

Em caso de pessoas que querem doar em vida, precisam ser saudáveis. Um doador vivo tem a possibilidade de doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. De acordo com a legislação, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Para doadores não relacionados, é necessário obter autorização judicial para prosseguir com o processo.

Lista de espera

Se o paciente concordar com a realização do transplante, o médico responsável fará a inscrição no sistema informatizado, registrando os dados do paciente e o diagnóstico da doença. O paciente será alocado na lista de espera com base na ordem de inscrição, na gravidade e urgência da sua condição, além da compatibilidade com possíveis doadores. A documentação necessária inclui laudos do diagnóstico, exames realizados e outros documentos que comprovem a necessidade do transplante, todos fornecidos pelo médico. Porém a falta de doadores contribui para o aumento da lista.

Em Goiás, há atualmente 1.513 pacientes na lista de espera por córneas e 509 à espera de um rim. “No último Relatório Brasileiro de Transplantes, onde nos é apresentado os dados do primeiro semestre de 2024, é exposto que Goiás teve 321 potenciais doadores do qual apenas 52 foram doadores efetivos, enquanto isso temos 2.089 pacientes ativos em lista de espera”, lamentou a enfermeira.

Polyana Sanches, pedagoga de 32 anos, enfrentou um desafiador percurso de saúde que a levou a realizar dois transplantes de fígado. No primeiro transplante, a agilidade foi notável: após o diagnóstico da doença, ela aguardou apenas dois meses até a cirurgia. No entanto, o segundo transplante exigiu uma espera de seis meses, um período que a fez refletir profundamente sobre o significado da doação de órgãos.

Em sua declaração, Polyana enfatizou a importância vital desse ato altruísta e expressou sua gratidão às famílias que tomaram a difícil decisão de doar. “Eu sou prova viva que a doação de órgãos é muito mais do que importante, ela é necessária, aprendi depois de um tempo que na verdade são os receptores que emprestam o corpo para uma parte de alguém continuar vivendo. Se não fosse o SIM de 2 famílias eu não estaria vivendo coisas extraordinárias que eu vivo hoje em dia”, celebrou.

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