Justiça nega novo pedido de liberdade a Nego Di
Humorista e seu sócio são acusados de enganar mais de 300 pessoas com vendas falsas em loja virtual.
O humorista Dilson Alves da Silva Neto, mais conhecido como Nego Di, teve seu pedido de liberdade negado pela Justiça do Rio Grande do Sul pela terceira vez. Preso desde julho na Penitenciária de Canoas (Pecan), na Região Metropolitana de Porto Alegre, ele está sendo investigado por estelionato. De acordo com as autoridades, o comediante é acusado de ter enganado mais de 300 pessoas, que compraram produtos como televisores, aparelhos de ar-condicionado e celulares através da loja virtual “Tadizuera”, pertencente a Nego Di. Os clientes pagaram por itens a preços consideravelmente mais baixos do que os praticados no mercado, mas nunca receberam as mercadorias. Estima-se que o golpe tenha causado um prejuízo superior a R$ 5 milhões.
Nego Di, juntamente com seu sócio Anderson Bonetti, foi ouvido em audiência de instrução na última sexta-feira (18), na qual ambos prestaram depoimentos. A sessão também contou com o testemunho de vítimas e outras testemunhas. Os dois permanecem detidos na Pecan enquanto o processo avança para as etapas finais, aguardando agora a realização de diligências adicionais e a apresentação de documentos por parte das defesas. Caso não haja novas manifestações no prazo de cinco dias, o caso entrará nas alegações finais, fase em que o juiz responsável determinará a sentença.
A estratégia do golpe
Conforme as investigações, Nego Di utilizava suas redes sociais para promover os produtos, inicialmente afirmando que apenas fazia divulgação para Anderson Bonetti. Entretanto, em outras ocasiões, o humorista se apresentava como o proprietário da loja, assegurando a entrega dos itens adquiridos pelos clientes. Uma das vítimas relatou ter perdido R$ 30 mil ao tentar comprar dois celulares e aparelhos de ar-condicionado. A cliente explicou que, no início de 2022, Nego Di ofereceu aparelhos com preços muito abaixo do mercado e fez entregas para algumas pessoas, a fim de ganhar credibilidade e atrair mais compradores.
Posteriormente, ele anunciou a criação de sua loja virtual, prometendo produtos com valores acessíveis para que “todos pudessem comprar”. No entanto, o prazo de entrega dos itens era de 50 dias, o que, segundo a polícia, foi um artifício idealizado pelo humorista para continuar iludindo as vítimas enquanto atraía mais clientes com novas promoções. O esquema começou a ser desmascarado quando os compradores começaram a procurar a polícia, alegando que não tinham recebido os produtos.
Durante a investigação, houve quebra de sigilo bancário de Nego Di, revelando que ele movimentou mais de R$ 300 mil em um curto período de tempo, confirmando a prática de estelionato. A polícia apontou que o dinheiro recebido correspondia às compras dos produtos que nunca foram entregues, caracterizando o crime.
Deboche nas redes sociais
Além do golpe financeiro, Nego Di chamou atenção por debochar dos clientes que compraram os produtos através de seus perfis nas redes sociais. Em vídeos recuperados pela polícia, o humorista aparece dirigindo um carro de luxo e zombando dos consumidores, dizendo frases como “ninguém mandou comprar televisão” e “ninguém mandou comprar ar-condicionado”. Em um dos vídeos, ele aponta para seu carro da marca BMW enquanto faz referência a uma televisão que nunca foi entregue.
Em outra gravação, Nego Di participa de um podcast no qual brinca sobre as promoções de ar-condicionado que fez na loja. Durante o programa, ele riu ao lado de amigos e confirmou que era o verdadeiro proprietário da loja virtual. Em uma outra ocasião, o humorista fez piada sobre a origem dos produtos e afirmou que, se eles não fossem entregues, era porque o “usuário não foi encontrado“. A justificativa foi usada para tentar enganar os clientes que cobravam a entrega dos itens comprados.
Defesa de Nego Di e de seu sócio
As advogadas de Nego Di, Tatiana Borsa e Camila Kersch, defenderam que o humorista nunca teve a intenção de prejudicar seus seguidores e que a prisão não se justifica, uma vez que ele possui endereço fixo, é réu primário e estaria ressarcindo as vítimas desde 2022. A defesa também ressaltou que Anderson Bonetti, apontado como sócio do comediante, não se mostrou disposto a compensar as vítimas, apesar de ter se declarado um “grande empresário” durante a audiência.
Até o momento, a defesa de Bonetti não se pronunciou sobre as acusações ou as alegações feitas pelas vítimas e pelas advogadas de Nego Di. O processo segue em andamento, e a Justiça deve se pronunciar sobre a sentença após o prazo para novas diligências.