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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
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Igreja Católica

Morre aos 96 anos Gustavo Gutiérrez, pai da teologia da libertação

Igreja para os pobres

Postado em 23 de outubro de 2024 por Otavio Augusto
Morre aos 96 anos Gustavo Gutiérrez. Foto: Divulgação

Morre aos 96 anos Gustavo Gutiérrez. O teólogo e padre peruano Gustavo Gutiérrez faleceu nesta terça-feira (22), em Lima, no Peru. Conhecido como o “pai” da teologia da libertação, Gutiérrez influenciou decisivamente o pensamento teológico no século 20. Sua obra marcou profundamente a relação entre a Igreja Católica e a realidade social da América Latina, colocando a pobreza no centro da reflexão teológica.

Gutiérrez ganhou notoriedade ao publicar, em 1971, o livro “Teologia da libertação. Perspectivas”, que deu nome a todo o movimento teológico. O texto defende a “opção preferencial pelos pobres” e enfatiza a primazia da prática sobre a teoria. Para ele, os pobres e oprimidos são os principais destinatários do Evangelho. A justiça social, portanto, deveria ser uma extensão do amor ao próximo.

O surgimento da teologia da libertação está diretamente ligado ao contexto social e histórico da América Latina. Nos anos 1950 e 1960, a desigualdade e o empobrecimento de amplas parcelas da população eram crescentes. Foi nesse cenário que Gutiérrez propôs que a teologia se voltasse para a realidade concreta dos pobres. Segundo ele, era necessário viver com os pobres e compartilhar de suas lutas.

Durante o Segundo Concílio Vaticano, realizado entre 1962 e 1965, Gutiérrez participou como observador. A partir desse evento, novas abordagens teológicas começaram a surgir, como a teologia política na Europa e a black theology nos Estados Unidos. A teologia da libertação, por sua vez, focava na América Latina, mas também encontrava eco em regiões da África e Ásia.

Gutiérrez, em seus discursos e escritos, não hesitava em criticar o sistema econômico global. Ele alertava para os perigos dos mercados financeiros, que definia como “monstros” com ramificações complexas. Por esse motivo, enfrentou críticas da própria Igreja, que o acusou de defender ideias marxistas. Apesar disso, suas propostas ganharam relevância ao longo dos anos e até o papa Francisco, também latino-americano, incorporou parte dessa visão em seu vocabulário.

Morre aos 96 anos Gustavo Gutiérrez

Nos anos que se seguiram à publicação de seu principal livro, Gutiérrez revisou e corrigiu suas ideias, mostrando abertura para o diálogo e reflexão. A princípio, suas ideias foram alvo de críticas por parte do Vaticano, mas, com o tempo, o reconhecimento acadêmico veio. Diversas universidades ao redor do mundo concederam-lhe o título de doutor honoris causa, em reconhecimento à sua contribuição para a teologia.

Morre aos 96 anos Gustavo Gutiérrez
Gustavo Gutiérrez e o Papa. Foto: Divulgação

Nascido em 8 de junho de 1928, em Lima, Gutiérrez começou a vida acadêmica estudando medicina. No entanto, após enfrentar problemas de saúde que o mantiveram por anos em uma cadeira de rodas, decidiu dedicar-se à teologia. Estudou filosofia e teologia nas universidades de Leuven, na Bélgica, e Lyon, na França. Foi nesse período que começou a amadurecer sua vocação sacerdotal.

Morre aos 96 anos Gustavo Gutiérrez. Foto: Divulgação

Além de seu trabalho teológico, Gutiérrez tinha uma forte ligação com as comunidades pobres. Ele foi o idealizador do sistema de “comunidades de base”, que visava fortalecer a atuação da Igreja junto às populações mais vulneráveis. Essa prática continua viva em diversas regiões da América Latina.

Quando o conclave de 2013 elegeu o argentino Jorge Bergoglio como papa, Gutiérrez expressou sua satisfação. Anos mais tarde, em 2018, por ocasião de seu 90º aniversário, o papa Francisco agradeceu ao teólogo por sua contribuição em desafiar a consciência da Igreja e por seu empenho em não deixar que a pobreza e a exclusão passassem despercebidas.

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