Entenda por que as eleições nos EUA acontecem em uma terça-feira
Tradicional data reflete práticas agrícolas e religiosas da sociedade americana do século 19
As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para o dia 5 de novembro, e neste ano, os principais candidatos são a vice-presidente Kamala Harris, representando o Partido Democrata, e o ex-presidente Donald Trump, pelo Partido Republicano. Diferente do Brasil, onde as eleições acontecem no primeiro domingo de outubro, os americanos votam em uma terça-feira no início de novembro.
Essa escolha de data tem raízes em uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA em 1845. Desde então, a eleição presidencial ocorre sempre na primeira terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro. Essa tradição reflete a cultura e os hábitos da sociedade americana do século 19, especialmente em relação à atividade agrícola e às práticas religiosas da época.
A data da eleição e suas tradições
Naquele tempo, a maioria das pessoas nos Estados Unidos era agricultora. O mês de novembro foi escolhido porque coincide com o final do outono, uma época em que as colheitas já tinham sido realizadas. Assim, havia mais tempo para se dedicar à política e às questões sociais. Leandro Consentino, um cientista político, explica que, após a colheita, as pessoas tinham mais disponibilidade para participar de atividades políticas.
Mas por que a escolha de uma terça-feira? Fernanda Magnotta, professora de Relações Internacionais, menciona que, historicamente, domingo era considerado um dia de descanso e, portanto, os eleitores precisavam de tempo suficiente para chegar aos locais de votação. Naquele período, a locomoção era mais difícil, e muitos viajavam longas distâncias para votar. O final de semana também era reservado para práticas religiosas, o que deixava a terça-feira como uma opção mais viável.
Com o passar do tempo e as mudanças na sociedade americana, surgiram debates sobre a possibilidade de mover as eleições para um final de semana ou tornar o dia da votação um feriado nacional. Críticos argumentam que ter as eleições em uma terça-feira pode dificultar o acesso de muitos eleitores, especialmente da classe trabalhadora, que pode ter dificuldades em comparecer aos locais de votação durante um dia útil.
Entretanto, o cenário atual oferece várias opções de votação, como cédulas de papel, máquinas eletrônicas, voto por correio e votação antecipada. Essas alternativas ajudam a amenizar as preocupações sobre a acessibilidade das eleições, permitindo que mais pessoas possam participar do processo democrático. É importante notar que o dia 5 de novembro é o último dia para votar, mas não é o único, já que existem diversas formas de votação disponíveis.
Como Funciona o Processo Eleitoral nos EUA
O sistema eleitoral americano é diferente do brasileiro. Nos EUA, os votos não são contados a nível nacional, mas sim por estado. O vencedor em cada estado leva todos os votos dos delegados do Colégio Eleitoral, um sistema chamado “o vencedor leva tudo”. Esse número de delegados varia de acordo com a população de cada estado, com um total de 538 delegados. Para ganhar a eleição, um candidato precisa obter 270 delegados, ou seja, mais da metade do total.
A eleição é indireta e composta por várias etapas. Ao contrário do Brasil, onde o eleitor vota diretamente no candidato à presidência, nos EUA, a população vota em candidatos que, por sua vez, são responsáveis por eleger o presidente através do Colégio Eleitoral. As etapas prévias, conhecidas como primárias e caucuses, ocorrem entre janeiro e julho, definindo os candidatos de cada partido.
No dia da eleição, que é sempre na primeira terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro, os eleitores vão às urnas. Depois disso, os delegados se reúnem em suas capitais estaduais em dezembro para votar formalmente nos candidatos à presidência e vice-presidência. Os votos são então enviados ao Congresso, onde são contados oficialmente em janeiro. O presidente eleito toma posse no dia 20 de janeiro.
Além de escolher o presidente, os eleitores também votarão para 34 cadeiras no Senado, todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes, diversos governadores estaduais e em vários referendos, incluindo questões importantes como o aborto. Com tudo isso, as eleições americanas são um momento crucial para a definição do futuro político do país.