Finados e Tradições: Como o mundo celebra seus mortos
Entre Fé e Cultura: Diversas Formas de Honrar os Mortos
A maneira como diferentes culturas tratam a morte revela não só o respeito pelos mortos, mas também a criatividade e a diversidade que cercam as despedidas. Em várias regiões, rituais únicos e complexos são realizados, indo além das convenções do Dia de Finados.
Alemanha: Recordação e Conforto no “Banquete do Cadáver”
Na Alemanha, o Dia de Finados como o conhecemos não é celebrado, mas há datas dedicadas aos mortos. Os católicos lembram seus entes queridos no Dia de Todos os Santos, em 1º de novembro, enquanto os luteranos celebram o “Domingo da Eternidade”, no último domingo do calendário eclesiástico. Nesses dias, famílias visitam os cemitérios e depositam velas nas sepulturas dos falecidos, em um gesto de respeito e memória.
Após o funeral, um costume peculiar chamado leichenschmaus, ou “banquete do cadáver”, reúne familiares e amigos em uma celebração de memórias. Ao som de conversas e lembranças, compartilham café e bolo, reforçando a ideia de que, mesmo na dor, a vida segue com seus prazeres.
Gana: Caixões Personalizados como Última Homenagem
Em Gana, os rituais fúnebres incluem a criação de caixões personalizados que refletem a personalidade ou profissão do falecido. Por exemplo, músicos podem ser sepultados em caixões em forma de guitarra, enquanto comerciantes podem descansar em urnas modeladas como garrafas de bebidas. Essa tradição revela uma abordagem única, onde a morte é marcada pela individualidade, em vez de ser vista apenas como uma perda. Contudo, o custo elevado dessas urnas artísticas pode ser um obstáculo para muitas famílias ganesas.
Japão: O Retorno dos Ancestrais no Festival Obon
No Japão, o Festival Obon é um momento de reencontro com os ancestrais, que, segundo a crença budista, visitam suas famílias anualmente em agosto. Para garantir uma recepção calorosa, os japoneses enfeitam seus altares domésticos com flores e incensos e preparam refeições especiais para os visitantes espirituais. Ao longo de três dias, a família oferece um prato diferente a cada dia, incluindo “bolinhos de despedida”, para aliviar a suposta fome dos mortos.
No encerramento do Obon, fogueiras são acesas nos jardins para guiar os mortos de volta ao mundo espiritual. Em algumas regiões, famílias também lançam lanternas flutuantes em rios e lagos, iluminando a despedida em uma celebração silenciosa e comovente.
Índia: Libertação da Alma nas Águas do Ganges
Para os hindus, a morte é um estágio antes da reencarnação. Por isso, o corpo é cremado logo após a morte, permitindo que a alma prossiga sua jornada. A cerimônia ocorre frequentemente às margens do rio Ganges, considerado sagrado. Após a cremação, as cinzas são lançadas no rio, acompanhadas de flores, como forma de ajudar a alma a escapar do ciclo de renascimentos e encontrar a paz no Nirvana.
México: Festa e Cor em Homenagem aos Mortos
No México, o Día de Muertos é celebrado com alegria, cor e símbolos da tradição asteca, misturados a costumes católicos. Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, famílias decoram altares com fotos e oferendas aos falecidos, acreditando que eles retornam para uma visita breve. Parentes e amigos reúnem-se para recordar os entes queridos, numa mistura de festa e luto, que agora é reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Essas celebrações ao redor do mundo mostram que, embora a morte seja universal, os rituais e as crenças que a cercam refletem a singularidade de cada cultura. Por meio de cerimônias distintas, cada povo mantém viva a memória dos mortos, dando à despedida um caráter especial e único.