Cristalina, cidade goiana a 270 km de Goiânia e 130 quilômetros de Brasília, é um lar de uma rica biodiversidade do Cerrado, com espécies de plantas nativas que não existem em nenhum outro lugar do mundo.

Graças a seu solo específico e elevada altitude, o município oferece um habitat ideal para plantas adaptadas ao ambiente local. Contudo, o avanço da urbanização, o desmatamento e as queimadas intensificadas têm colocado em risco essa flora singular, alerta o biólogo Marcelo Simon, da Embrapa, que estuda a vegetação da região e busca estratégias para a sua preservação.

Durante uma visita à fazenda Recanto dos Cristais, uma área de preservação em Cristalina, Simon destacou três plantas endêmicas ameaçadas de extinção que despertam a preocupação dos pesquisadores.

Entre elas está a Jacaranda intricata, da mesma família dos Ipês, que foi severamente afetada pelas queimadas recentes, desaparecendo antes que suas sementes pudessem ser coletadas para estudos. Segundo Simon, embora o Cerrado tenha uma certa resiliência ao fogo, a alta frequência de incêndios compromete a recuperação da vegetação. “O Cerrado é adaptado ao fogo, mas a alta frequência dos incêndios é uma grande ameaça”, afirmou Simon em entrevista para o portal Correio Braziliense.

Conservação e Coleta de Sementes

Uma das iniciativas mais importantes da Embrapa é a criação de um vasto banco genético, que já conta com cerca de 119 mil amostras vegetais de 1.117 espécies, sendo o maior da América Latina.

As sementes são armazenadas em câmaras frias, ou, conforme a resistência ao congelamento, cultivadas in vitro. Esse banco é vital para a preservação do Cerrado e permite que espécies ameaçadas possam, futuramente, ser reintroduzidas na natureza. Para plantas raras ou novas, amostras são desidratadas e armazenadas em herbários, documentando a diversidade do Cerrado.

Plano de Ação Territorial Veredas Goyaz-Geraes

O projeto em Cristalina integra o Plano de Ação Territorial Veredas Goyaz-Geraes, uma iniciativa destinada a proteger a flora endêmica e preservar o ecossistema do Cerrado em 33 municípios, abrangendo Goiás e Minas Gerais.

O programa é conduzido em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e o Ministério do Meio Ambiente. A iniciativa Pró-Espécies, que inclui o plano, envolve também ONGs e comunidades locais, reforçando a necessidade de ações para reduzir a degradação ambiental e proteger a biodiversidade.

Ameaça à Biodiversidade e Papel da Conscientização

Cristalina já perdeu mais de 68% de sua vegetação nativa, e o município possui poucas áreas públicas de proteção ambiental. Propriedades privadas, como a fazenda Recanto dos Cristais, têm sido fundamentais para preservar a vegetação remanescente.

Esse espaço mantém cerca de 800 hectares de biodiversidade intacta, onde são evitadas práticas prejudiciais ao meio ambiente, como a retirada de árvores e a exploração intensiva. De acordo com o caseiro da fazenda, tanto ele quanto os proprietários se dedicam a manter a área livre de atividades impactantes.

O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, foi o segundo mais atingido por incêndios no país em 2024, com 31,6% de perda de vegetação, ficando atrás apenas da Amazônia, com 49,5%. Simon salienta a importância de preservar o Cerrado e conscientizar a população sobre o valor de sua biodiversidade.

Ele afirma que, embora a floresta amazônica seja frequentemente associada à biodiversidade, o Cerrado também é uma região extremamente rica em espécies e igualmente crucial para a conservação do meio ambiente.

O Futuro do Cerrado

Com o crescente desmatamento e as queimadas que assolam a região, a cidade de Cristalina se torna um exemplo emblemático da luta para equilibrar o desenvolvimento sustentável com a conservação ambiental. A colaboração entre instituições públicas e privadas e o envolvimento da comunidade são essenciais para preservar o Cerrado e sua biodiversidade para as futuras gerações, demonstrando que o Cerrado merece uma atenção tão urgente quanto outros biomas brasileiros.

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*texto com informações portal Correio Braziliense